Na passada quinta-feira, dia 19 de Junho,
subiu ao trono de Espanha o Rei Filipe VI, substituindo o seu pai, que acabara
de deixar o cargo depois de 39 anos (1975-2014) ao serviço de Espanha.
É rígido o protocolo de ascensão ao trono, tal
como pudemos confirmar na última quinta-feira, contudo, o que pretendo aqui recordar
é a forma como decorreu a subida ao trono do último Rei de Portugal, o jovem D.
Manuel II, bem como a forma como Braga viveu e cumpriu esse cerimonial.
Tudo aconteceu após o regicídio de D. Carlos
e do seu filho D. Luís Filipe, ocorrido em Lisboa, um sábado, dia 1 de Fevereiro
de 1908.
O sucessor no trono, o príncipe D. Manuel,
decidiu encerrar-se por oito dias, em sinal de pesar pela morte do seu pai e do
seu irmão. Decretou ainda quatro meses de luto nacional, sendo os dois
primeiros meses de uma dor profunda.
Logo no dia seguinte ao regicídio, o Arcebispo
de Braga, D. Manuel Baptista da Cunha, publicou uma portaria na qual ordenada
que, nas torres da Sé de Braga e em todas as capelas e igrejas paroquiais deste
arcebispado, se tocassem os sinais fúnebres durante oito dias.
O decreto de proclamação do novo Rei ocorreu
logo no dia seguinte, domingo, durante a reunião do Conselho de Ministros, realizada
no Paço das Necessidades, e presidida pelo próprio D. Manuel, que jurou manter
a religião católica, a integridade do reino, observar e fazer observar a
Constituição política portuguesa e promover o bem geral da Nação.
A aclamação de D. Manuel ocorreu apenas
três meses depois, em reunião da Assembleia de Cortes, realizada na quarta-feira,
dia 6 de Maio de 1908. No dia seguinte, Braga prestou as devidas cerimónias ao
novo Rei. No salão nobre da Câmara Municipal de Braga realizou-se, pelas onze
horas, a sessão solene de aclamação do novo monarca. Numa das varandas da
Câmara Municipal, o presidente do município proferiu a célebre frase: “Real,
Real, Real, pelo Senhor D. Manuel II, Rei de Portugal”.
Após estas palavras, o imenso público presente
irrompeu numa prolongada salva de palmas, os soldados apresentaram armas, os
músicos tocaram o hino nacional, foram lançados foguetes e os sinos das igrejas
tocaram, contribuindo desta forma para o sentimento de alegria que se vivia no
momento.
Após este acto solene realizado na Câmara
Municipal, formou-se um imponente cortejo, composto por praticamente todas as
instituições culturais, religiosas, judiciais, políticas, educativas,
comerciais e industriais de Braga. A seguir a estas, seguiam no cortejo
distintas personalidades, nomeadamente, o Governador Civil de Braga, o coronel
de Infantaria 8, Oficiais de Cavalaria 6 e Infantaria 8, professores das várias
instituições de ensino de Braga, antigos Governadores Civis, Cônsules representados
em Braga, membros da Câmara Municipal de Braga, dos Tribunais e da Igreja, fechando
o cortejo a banda de Infantaria 8, comandada pelo capitão Aurélio Antunes.
Ao longo do percurso, os edifícios públicos
e particulares estavam engalanados com bandeiras e colchas, assistindo-se ainda
ao lançamento de constantes girândolas de foguetes. Até o comércio foi
encerrado, para que todos os que quisessem integrar o cortejo o pudessem fazer.
Este cortejo percorreu o Campo de D. Luís,
as ruas de D. Frei Caetano Brandão, Nova de Sousa, Rodrigues de Carvalho, S. Marcos
e do Anjo; Campo de S. Tiago e ainda as ruas da Rainha e da Sé.
Às 13.30 horas realizou-se uma cerimónia religiosa
na Sé de Braga, presidida pelo reverendo D. António José da Silva Correia Simões,
onde estavam presentes as proeminentes figuras de Braga.
À noite, foram várias as iluminações públicas
e particulares que saudavam desta forma a subida ao trono de D. Manuel II.
Foi com todo este cerimonial que Braga acolheu
a subida ao trono do jovem Rei: com manifestações de alegria e júbilo. Curiosamente,
foi com a mesma alegria e júbilo que, passados pouco mais de dois anos, festejaram
a instauração da República em Portugal e, por conseguinte, a deposição do Rei!
A finalizar, deixo apenas duas notas:
- O nome completo de D. Manuel II: Manuel
Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco
de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha;
- A comparação dos gastos entre Portugal e
Espanha: a Presidência da República Portuguesa custa cerca de cinco vezes do
que a Casa Real Espanhola
Joaquim da Silva Gomes, Professor e Investigador
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