Por ocasião da realização da Exposição do Mundo Português, em 1940, foi publicada a “Revista dos Centenários” cuja edição de Janeiro incluiu um artigo da autoria de Jorge Larcher alusivo aos castelos de Bragança e Póvoa de Lanhoso. Nesse artigo que fazia parte de uma série dedicada aos castelos de Portugal, o autor escreveu o seguinte a propósito do castelo de Lanhoso:
“Além do castelo de Bragança, de que ligeiramente nos ocupámos, breves referências vamos dedicar ao castelo da Póvoa de Lanhoso, do qual só resta, como recordação gloriosa desse passado distante, a torre de menagem coroada de ameias, a única parte do castelo que conseguiu escapar à fúria devastadora dos homens e do tempo.
Impossível fixar a data da sua construção, mas supões-se, e não sem fundamento, que a origem desta fortificação venha dos tempos romanos pelos emementos que têm sido encontrados por aquelas imediações.
Devia ter sido fortaleza importante, pois nela se recolheu D. Tereza, quando não podendo resistir à perseguição das forças de sua irmã, que lhe havia declarado guerra, se acolheu à sombra destas muralhas, que não tardaram a ser cercadas pelas forças de D. Urraca.
Valeu-lhe nesta terrível situação Fernando Peres, que, com D. Gelmires, arcebispo de Compostela, não deixando escapar a ocasião que se lhes oferecia para disputarem com D. Paio alguns bens que pretendiam alcançar procuraram assim lançar a divisão entre as forças de D. Urraca.
Ignora-se a forma como D. Gelmires actuou. O que é certo é que foi preso, mas, apesar dessa decisão, D. Urraca achou mais prudente, temendo talvez a influência de tão irreconciliável inimigo, estabelecer as pazes com sua irmã, fazendo-lhe grandes concessões.
A este castelo está ligada uma lenda, na realidade de grande intensidade dramática, história de amores mal fadados, que aqui teve o seu epílogo.
D. Rodrigo Pereira de Barredo, fidalgo de alta nobreza, teve um dia a secreta e desoladora notícia de que sua mulher traía a fidelidade conjugal.
O nobre fidalgo, depois de ter a certeza de tão desagradável informação, uma noite, fechou de surpresa todas as portas, de modo que ninguém pudesse escapar à cruel punição que reservava a todos que considerava culpados, e pegou fogo ao castelo, que ardeu completamente, morrendo abrasados pelas chamas todos que nele se encontravam.
Qualquer destes castelos do norte, de tão remota fundação, foram vigilantes sentinelas e resistentes obstáculos que contribuíram para a libertação do solo português e para a afirmação da nossa Independência, que em breves meses se vai comemorar, condignamente, em todas as terras de Portugal”.