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Manuel Beninger

terça-feira, 5 de junho de 2012

Um Porto fabuloso para o jubileu de diamante de Isabel II


Há vinhos que depois de abertos são como os génios das lâmpadas mágicas: soltam-se, invadem os lugares e dominam os sentidos. O Graham's de 1952, que servirá simbolicamente como o vinho das comemorações do Jubileu de Diamante da rainha Isabel II, é um desses vinhos, já no limiar das sensações terrenas, quase do outro lado das experiências místicas.
Simon Field, Master of Wine e responsável pelas compras de uma das principais lojas de vinhos de Londres, a Berry's Bros., provou-o e pôs-se a dissertar sobre o aroma de "antigas bibliotecas, fogueiras outonais, distante poesia" ou sobre o paladar "profundo e majestático, espantosamente intenso e poderoso, soberano na sua complexidade, um elixir intemporal".
Jancis Robinson, crítica de vinhos do Financial Times e uma das vozes mais respeitadas em todo o mundo, não foi tão longe na poesia, mas considerou-o "muito, muito bom". Sem dúvida: este Porto sexagenário é uma obra-prima da natureza e do tempo.
Em 1952, quando Isabel II ascendeu ao trono, os tempos eram difíceis para o vinho do Porto. A Europa tardava em recuperar das feridas da II Guerra Mundial. "Não havia dinheiro, não havia mercado, foi o tempo em que várias famílias tiveram de vender as suas empresas, como os Croft ou os Delaforce", lembra Johnny Symington, um dos administradores do grupo que é proprietário da Graham"s. Vinhos de anos prodigiosos como 1945 ou 1947 ficavam nas caves de Gaia à espera de melhores tempos.
O 1952 da Graham"s teve de passar por essas vicissitudes. Mas por ser tão bom, "escapou às lotações com outros vinhos, e além de operações normais de limpeza não teve em todo este tempo mais nenhuma intervenção", diz Symington.
O 1952 é um Colheita (vinho de uma só vindima sem lotações e envelhecido em casco), do qual chegaram até nós cerca de seis pipas (uns 3300 litros), das quais foram engarrafadas mil unidades para o Jubileu da rainha mais 10 jeroboams (garrafas de 4,5 litros).
Não se sabe em que momento das comemorações entrará este Colheita. Sabe-se que o vinho do Porto continua a ser o vinho oficial dos brindes em Buckingham. E se a rainha tiver um consultor com bom senso para a enofilia, não deixará de ter nas cerimónias este vinho com tons âmbar, um aroma interminável e inebriante de frutos secos e especiarias, e uma prova de boca intensa, que deixa um rasto muito longo de sensações luxuriantes no palato.
Um Porto inesquecível, que só estará à venda em Portugal e no Reino Unido. Não é nada barato (330 euros), mas, como pergunta Jancis Robinson, quantos vinhos de classe mundial com 60 anos custam este preço?

fugas-vinhos


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