Fala do ressurgimento da Monarquia no Norte; põe em causa esta democracia que não permite ao povo optar por uma Monarquia ou República; mas acha que, afinal, Portugal vive uma Monarquia electiva. E para além de Soares, Mesquita Machado é outro dos seus representantes. Manuel Beninger, presidente da comissão política distrital da Juventude Monárquica admite candidatar-se à Câmara Municipal e adianta que também haverá candidatura em Famalicão. Pelo menos. E fala de Vizela, que deve ser concelho.
OPINIÃO PÚBLICA (OP): A que se deve o "renascer" do Partido Popular Monárquico no distrito de Braga? Aparecem agora com grande força interventiva, especialmente em Braga...
MANUEL BENINGER (MB): "Eu acho que houve um ressurgimento de interesse monárquico em Portugal e principalmente no Norte. E um interesse sobretudo a nível da Juventude. É o caso que se constata no distrito de Braga, que partiu do zero no passado dia quatro de Fevereito e onde agora vamos conseguir eleger cinco "concelhias". Este interesse crescente é, aliás, comum a toda a Europa, com uma identificação cada vez maior das populações com as Casas Monárquicas de cada país como garante da democracia. Veja-se o caso dos países de leste".
OP: Apesar de tudo, a vida interna do PPM, não tem sido pacifica. A contestação à liderança de Nuno Cardoso da Silva é um facto. O último congresso no Porto prova isso mesmo...
MB: "Houve de facto contestação, mas eu acho-a positiva. Isso quer dizer que os monárquicos estão empenhados em modificar Portugal e estão vivos. Se estivesses amorfos a discussão não seria tão acesa e polémica, nem mesmo se proporia a extinção do partido..."
OP: De qualquer forma, os resultados do PPM nas últimas legislativas foram mesmo fracos tendo em conta o empenhamento do seu líder.
MB: Repare que o PPM desde a sua criação oficial como partido político sempre oscilou entre os 30 e 50 mil votos. A variação nunca foi muito grande. Nas últimas eleições houve mesmo um pequeno, mas significativo, crescimento.
OP: Acha que há muitas diferenças entre o PPM de Ribeiro Teles e o PPM de Nuno Cardo da Silva?
MB: "Não muito grandes. As diferenças são de liderança. Com a liderança do "grande" Ribeiro Teles, o PPM caiu numa identificação do partido ao líder e a Lisboa. Nuno Cardoso da Silva não é tão conhecido, mas conseguiu desenvolver uma dinâmica forte que conseguiu implantar o partido em muitos dos distritos. A Juventude Monárquica (JM) em Braga é um exemplo disso mesmo. è um surto explosivo que o PPM sofre neste momento e isso deve-se muito à acção de Nuno Cardoso da Silva. Foi ele quem apelou nas últimas eleições à união de todos os monárquicos, e sondagens recentes têm apontado a existência de 30 por cento de monárquicos dentro da população portuguesa..."
OP: Mas há outras organizações monárquicas. É o caso das Reais Associações, e o distrito de Braga tem uma, que não estão particularmente vocacionadas para questões políticas. O que eu quero saber é se o Manuel Beninger é mais monárquico ou mais político monárquico?
MB: "Eu sou monárquico, mas não se pode dizer que alguém seja só republicana. Numa sociedade defendem-se causas e ideias. Eu defendo a Real Associação. Não a integro, mas defendo que trabalhe e é positivo para a Monarquia que existam muitas associações, muitos movimentos e vários partidos políticos monárquicos".
OP: Isso não prejudica o PPM?
MB: "Não e por uma razão muito simples. Quanto mais se falar de Monarquia maior será o surto de monárquicos e mais se fará pela defesa da causa. Nem só de Monarquia vive o PPM, nem o povo português. Repare que para voltarmos para à monarquia só através de uma causa política. É preciso rever o artigo 290 da Constituição. Os constitucionalistas devem ter chegado ao fim do seu trabalho já um pouco cansados, o que levou a cometerem alguns erros e os últimos artigos são disso exemplo. Esse artigo não revela democracia nenhuma. Que raio de democracia é esta que não permite o povo português optar por uma Monarquia ou República. A alteração deste artigo e a possibilidade do recurso a um referendo - não nos passa pela cabeça restaurar a Monarquia recorrendo a uma revolução - que também não está previsto na nossa Constituição, são questões politicas. Há também outras causas que o PPM defende a par da Monarquia. A defesa do ambiente, da cultura, da juventude, que estão muito mal defendidas em Portugal, são outras questões políticas que preocupam o PPM".
OP: Como é que convenceria alguém a optar por uma Monarquia constitucional? Que vantagens traria ela a Portugal?
MB: "Eu acho que Portugal já vive uma Monarquia electiva. E isso porque o povo português é monárquico por excelência. Repare que quando um povo se manifesta contra um sistema destitui todos os símbolos desse sistema. Veja o caso da Alemanha pós-guerra ou as recentes revoluções no Leste. Todas as estátuas de Lenine e seus pares caíram. Em Portugal, o povo nunca destruiu os símbolos da Monarquia e dos seus Reis. A própria revolução de 5 de Outubro de 1919 foi um golpe palaciano realizado em Lisboa. Não venham dizer os republicanos que foi um golpe popular, que não foi mesmo. O povo ficou a saber depois e assumiu. Ele é apaticamente republicano. Pode-se aqui lembrar as bolsas de resistência pela Monarquia que se viu nessa altura. Para falar em 5 de Outubro, não acha mais importante o de 1143 e se comemorar a Bula Papal que reconheceu a independência do Estado português?".
OP: Faça-me então uma avaliação da República e da figura do actual presidente Mário Soares, também apontado como "Rei Soares"...
MB: "É o exemplo da Monarquia electiva. À excepção dos Estados Unidos da América, não conheço países, com regimes presidencialistas ou semi-presidencialistas, onde se fale e conheça tão bem a primeira dama como em Portugal. Já no tempo do presidente Ramalho Eanes acontecia o mesmo. Agora conhece-se o filho de Mário Soares, a filha, os netos. É uma coisa impressionante. O povo português gosta disso, mas isso não é identificável com a República".
OP: Está a querer dizer que temos um regime republicano "amonarquizado"?
MB: "Exactamente. E isso não se deve ao Presidente da República, mas acontece porque o português assim o quer. O povo português gosta de ver o símbolo do estado numa pessoa. E numa pessoa isenta que não é o caso de Mário Soares que é republicano, laico e socialista. O povo português, maioritariamente não é socialista e muito menos laico. Isso é coisa que não é. Quanto a republicano nem me parece que o próprio Dr. Mário Soares o seja, até porque ele se comporta como um monarca".
OP: Acha então os portugueses monárquicos inconsciêntes ou adormecidos?
MB: "Exactamente"
OP: Qual é o principal ponto da oposição da Juventude Monárquica relativamente ao Tratado de Maastricht. É mesmo a perda da soberania?
MB: "É claro que sim. E a par disso fica em causa a defesa e representatividade de Portugal relativamente ao exterior. De todos os países da Comunidade Europeia, Portugal é dos poucos, senão o único, que têm uma forte identidade própria e sem problemas de minorias, ao contrário dos restantes. É uma Europa que se quer identificar consigo própria".
OP: Acha que Maastricht pode fazer nascer problemas de minorias, nomeadamente étnicas?
MB: "A Europa pode tornar-se numa Jugoslávia em ponto grande".
OP: E em Portugal?
MB: "Portugal é um país de brandos costumes. O problema no nosso país é que seremos subjugados e perdermos a nossa identidade própria. Mas Maastricht deve ser vista como uma questão europeia, e não só portuguesa. Depois há o problema de que foi elaborada por políticos sem a consulta à população em geral. O que a JM defende é a realização de um referendo..."
OP: E a resposta da JM a esse referendo seria não...
MB: "Da minha parte seria não. Mas o maior interesse de referendo para Portugal reside nas explicações ao povo português das consequências positivas e negativas do Tratado de Maastricht".
OP: O grande esforço da JM no distrito de Braga na criação de novas "concelhias" é desde já um "assalto" às eleições autárquicas de 1992?
MB: "É claro que sim. A receptividade à nossa acção tem sido grande. A nossa intenção seria criar secções nos treze concelhos do distrito, que aliás deveriam ser catorze, já que Vizela também deveria ser concelho tal como o PPM sempre defendeu. Mas destes treze concelhos oficiais, há cinco onde a JM tem recebido grandes adesões. Sobretudo Braga onde já há direcção. Em Famalicão, Barcelos e Vila Verde já estão lançadas as bases. Em Guimarães espero que haja eleições ainda este ano, em Famalicão as eleições serão no início do próximo ano".
OP: Pode-se então prever candidaturas nos cinco concelhos onde existirem direcções já empossadas?
MB: "Será difícil. E isto porque a comissão política distrital tem-se empenhado fortemente no concelho de Braga. Aí sim, a concretização de uma candidatura, autónoma - a mais provável - ou em coligação, nas eleições autárquicas do próximo ano é quase uma certeza. Em Famalicão a hipótese, apesar de estar tremida, não é de excluir".
OP: Em caso de coligação, com que partido?
MB: "Com os partidos políticos mais próximos do PPM: o CDS ou o PSD. Com o PS será impossível em Braga e isto porque o PS em Braga não existe. Existe sim o partido do Eng.º Mesquita Machado.
OP: O que quer dizer com isso...?
MB: O PS em Braga é um partido dos tristes. É do Eng.º Mesquita Machado, que é mais um símbolo da monarquia electiva portuguesa.
OP: Como classifica a actuação do Eng.º Mesquita Machado na Câmara Municipal de Braga?
MB: Tem feito algumas coisas positivas, mas lamentavelmente tem tido muitas negativas. Grande parte dos seus vereadores tem feito uma política desastrosa. O vereador do transito é um exemplo; Política cultural em Braga não existe, é deplorável. É também desastroso assitir-se ao plano de expansão urbanístico actual".
OP: O Manuel Beninger admite ser o candidato do PPM, à Câmara Municipal de Braga?
MB: "As portas não estão fechadas. Já foi feita a passagem do testemunho do PPM para a JM para a preparação das eleições autárquicas. É uma hipótese a não excluir".
CANDIDATURA À CÂMARA EM PERSPECTIVA
É presidente da comissão política distrital de Braga da Juventude Monárquica (JM) e, interinamente, responsável máximo nacional pela organização juvenil do Partido Popular Monárquico (PPM), e admite ser candidato à presidência da Câmara de Braga.
Com 27 anos, Manuel Maria Beninger Simões Correia considera-se suficientemente "persistente" para continuar a lutar pelo seu partido "que há-de ser, dos mais pequenos, o maior" e para terminar o seu curso de Engenharia Civil, do qual lhe faltam apenas algumas cadeiras. Mas tese curso que agora se prepara para concluir na Universidade do Minho não é o único que consta do seu "curriculum". Manuel Beninger tem o curso geral de Conservatório e actualmente lecciona guitarra clássica na Academia de Música de Vila Verde. Foi exactamente a sua paizão pela música, com a ajuda da sua ascendência materna (austríaca), que levou este jovem nascido em Lourenço Marques a "emigrar" durante três anos, quase todos passados em Viena, onde se especializou em História da Música, e na Alemanha. O presidente da "distrital" bracarense é também apresentador de um programa diário de música clássica - claro!!! - na Rádio Universitária do Minho e já foi dirigente associativo.
Com uma "vida pacata", Manuel Beninger é católico, apostólico, romano e dá-se "maravilhosamente bem" com Deus. Considera que Portugal tem um "défice" a nível de líderes políticos. Para ele o que há agora é o fenómeno "Homus Cavacus", que em tempo de eleições consegue concentrar as atenções e os... votos. De resto, "não existe mais ninguém". Não esconde a sua tentação em "violar o princípio da Câmara Municipal de Braga e abrir o jogo democrático".
Desportivamente, Manuel Beninger, admite "torcer pelo Sporting de Braga" mas o clube de seu coração é o Futebol Clube Encouradense, da III Divisão Distrital. "Solteiro e bom rapaz", tem como tipo de mulher aquela que o consegue "aturar". Não é grande apreciador de cinema, mas sempre consegue mostrar o seu interesse por aquelas que são "boas actrizes e boas atrás..."