Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O ASSUNTO É SÉRIO; Artigo de Opinião de Sílvia Oliveira

acima
Jornal "Diário do Minho" de 22 de Novembro de 2010, pag. 20

O ASSUNTO É SÉRIO
Não se trata de garantir quotas de deputadas, nem de desejar que as equipas de gestão passem a ter maior representação feminina, trata-se de algo básico como são os Direitos Humanos e fundamental como é a Justiça Social.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima assinalou 6539 mulheres atingidas por crime em 2009, uma média de 18 por dia. Nestes crimes a violência doméstica é primitiva, sendo os maus-tratos psíquicos mais frequentes do que os físicos. O perfil da vítima traçado é mulher, entre 26 e 55 anos, casada, com filhos, com o primeiro ciclo e/ou ensino superior. O perfil do agressor é masculino, entre 26 e 55 anos, casado, com grau de ensino entre primeiro ciclo e ensino superior, empregado e em relação familiar com a vítima.
Também não se trata de encontrar um significado ou propósito de vida e tão pouco uma maneira colectiva de pensar e sentir, trata-se sim de aberrações humanas, que subjugam mulheres “a cultos divinos”.
São os casos de apedrejamento público de mulheres. Perante a lei islâmica, Ashtiani foi condenada, por ter mantido “relações ilícitas” com dois homens depois de ter enviuvado, sendo então sentenciada a 99 chicotadas. A execução no Irão por apedrejamento especifica que devem ser usadas pedras suficientemente grandes para causarem dor ao condenado, mas não o suficiente para o matarem de imediato.
Em oposição a esta contemporaneidade rica de evolução e desaire, temos a mulher da Monarquia Faraónica que, elegante e respeitada, podia governar uma província ou uma cidade, liderando inúmeros trabalhadores. E quando recebia um salário, não era inferior ao de um homem que fizesse a mesma tarefa.
Não dependia da autoridade de um pai ou de um marido e acedia ao exercício das mais altas funções do Estado. Na realidade, como afirma Christian Jacq, o mais reputado e popular dos egiptólogos modernos, “(…) é inegável que as egípcias beneficiariam de condições de vida muito superiores às que milhões de mulheres conhecem hoje (…).
A egípcia casava com o homem que escolhesse, independentemente da opinião dos familiares. Também não era necessário ser virgem para ser noiva. Nada a impedia de ter relações sexuais antes do casamento. E podia ainda optar por uma união temporária, uma experiência antes do grande passo que se pretendia eterno. Tal como hoje, os casais podiam viver juntos para se porem à prova. O casamento não era um acto jurídico e sagrado, mas social. Consistia na coabitação livremente decidida por um par e era isento de rituais. O fundamental era que vivessem em casa própria e não em casa dos pais. Uma vez casados, o marido devia ser fiel à mulher, reconhecer o valor do seu trabalho e não a importunar.
A dama Nebet, de acordo com uma antiga inscrição, foi juiz e vizir, uma espécie de braço direito do casal régio, um primeiro-ministro com múltiplas tarefas. A dama, Peseshet foi nomeada superiora dos médicos, uma espécie de ministra da saúde. A dama Hatchepsut foi regente, tanto se exprimia e vestia no masculino quanto no feminino. A sua história alimentou as mais variadas versões, mas, devido à duração do seu reinado e à abundante documentação é possível um perfil correcto desta extraordinária egípcia. Quando o seu pai, Tutmósis I, morreu, Htchepsut tinha 15 anos. Tornou-se a grande esposa real de Tutmósis II, que já tinha um filho. Quando Tutmósis II morreu, depois de ter governado durante três anos, o seu filho era ainda uma criança. De acordo com a tradição, pediu-se à esposa real, Hatchepsut, que exercesse a regência. Foi coroada no ano VII do reinado de Tumósis III. O seu reinado e o de Tutmósis III sobrepuseram-se. Eles foram co-regentes, num período longo e próspero. A grande obra de Hatchepsut foi a construção do templo de Deir el-Bahari, o “sublime dos sublimes”, na margem ocidental de Tebas, uma das construções mais belas do mundo.
Independentemente do aumento da “voz” aqui e além, nunca é pouco repetir que a “Realeza” é Dignidade e a Dignidade um Direito que começa na “morada” de cada um de nós.
(Daughters of Ísis – Women Of Ancient Egypt, de Joyce Tyldesley, Peguin Books; As Egípcias, de Christian Jacq, Edições Asa, e Hatchepsut – The Female Pharaoh de Joyce Tyldesley, Viking)

Sílvia Oliveira
Deputada Municipal P.P.M.