Jornal “Diário do Minho” de 9 de Fevereiro de 2011, pág. 20
O próprio ou uma trágica megalomania de aparências que (des)iludem.
Há uns poucos para quem o céu é o limite! Querem tudo, são sedentos de poder, nunca se satisfazem com o que conseguem, sentem-se sempre exclusivos, ímpares, merecedores de tudo quanto conseguem imaginar. Porque é verdadeiro o seu convencimento, perseguem objectivos desmesurados e, ainda por cima alcançam-nos, reforçando a certeza que têm de ser os superiores e os escolhidos. Não se contêm quando seria o esperado, não tiveram medo do ridículo quando todos os outros o temeram, atropelaram tudo e todos para atingir objectivos próprios, não entenderam a compaixão, a generosidade, nem mesmo o mero senso do comum. Valerá realmente a pena esta total inversão de prioridades? Há outros que preferem investir no exterior, no que conforta o ego e transmite status: a roupa e sapatos, o carro e telemóvel, enfim, uma parafernália de gadgets que ostentam. As mulheres para a moda e beleza e os homens para o mundo automóvel e tecnologia. Diga-se que também não faltam mulheres a exibir-se ao volante de um jipe de alta cilindrada e a teclar e falar no iPhone e homens, cuidar a imagem, percebendo o que é o dress code em função das ocasiões e da projecção que essas escolhas lhes dão, depilação a laser e toda gama de anti-rugas. Quando um casal decide investir na decoração da casa, empenham-se invariavelmente na sala. É fácil perceber porquê. No final de contas, o que sobra para o interior?
Felizmente para a maioria das pessoas, do que existe para desejar, contentam-se em atingir objectivos realmente modestos e próximos da realidade. Mesmo que pareça que vivemos num tempo em que a popularidade e a fama são objectivos de qualquer um, são poucos os que querem ser estrelas, divas, ditadores, super-heróis, grandes magnatas ou “príncipes das Arábias”. O cidadão vulgar contenta-se em viver o que considera bem, ter sucesso amoroso e profissional e, de vez em quando, aceder a circunstâncias em que, por prazos de tempo limitado, se sentem importantes e admirados.
A “justeza” destas dissemelhanças é a imagem que foi construída desde a primeira vez que fomos olhados e depois nos fomos reconhecendo sempre que encontramos o mesmo olhar, o olhar de quem nos cuidou e entendeu do que precisávamos. Talvez por isso, o primeiro espelho das crianças seja o “olhar dos adultos” onde se organiza a imagem inicial que irá fazer parte do próprio ou de uma trágica megalomania de aparências que (des)iludem.
Sílvia Oliveira
Deputada Municipal do PPM