Fascistas - os negadores da democracia; Populistas, os que dela abusam
O mais abrangente e prostituído dos termos usado pelos políticos – Democracia
Todos os nossos proceres políticos – de um extremo ao outro do respectivo espectro – rasgam as vestes pela virginal pureza da democracia dos partidos que representam.
Detentores de cargos públicos, desde Sua Excelência o Presidente da Republica ao cabo de ordens – e não falo de regedor, porque a magistratura de origem marcadamente espúria foi abolida, por incompatível com a pureza da ideia, embora o seu avô tenha sido Napoleão – o democrata de botas e capacete – todos rendem loas à democracia.
Além fronteiras o culto foi e é igual.
Democratas se diziam ESTALINE, prócere da democracia popular, e MUSSOLINI, um dos pais da que se lhe contrapunha e se chamava democracia orgânica...
Os americanos contrapõem-lhe, numa gíria que mal logra disfarçar uma mera tentativa de provocar alternâncias, o vocábulo republicanos.
No que não viria mal, primeiro ao mundo onde pretendem aplicar a ideia e depois, por ricochete à própria América, se não tivessem a pecha de democratizar urbi et orbe à sua imagem e semelhança…
Mas essa vertigem pandemocrática, pretendendo uniformizar um mundo fortemente diferenciado ou mesmo antitético é que, servindo muitas vezes o inconfessado interesse do capital vagabundo e anónimo, se tem de considerar responsável pelas terriveis situações vividas em diversas partes deste nosso vasto mundo
A Pérsia, que rebatizaram de Irão, vivia em harmonia a progressiva ascensão economico-social sob a dinastia REZA-PALEVI.
Nunca tendo conhecido o regime monárquico, os Estados Unidos ignoram-lhe obviamente as potencialidades.
Daí a furia contra as várias casas reinantes - no Egito, onde o dissipador Faruque era, mesmo com toda a sua coorte de vícios, bem mais potenciador do bem-estar do povo do que quantos tem tripudiado sobre o tumulo dos faraós…
No Afeganistão, no Nepal... enfim em todos os reinos cujos monarcas tem sido apeados por golpes ou revoluções planificados, desencadeados e conduzidos da América.
Substituídas as casas reinantes, historicamente identificadas com as populações, por caudilhos de fabrico americano, ou à sua moda, logo sublevados contra a América, os povos assim historicamente desenraizados, avançaram, num ápice, para outros estádios com resultados terrivelmente trágicos, v g do Iraque e agora da Líbia
O Sadam podia ir matando uns tantos de tempos a tempos. Mas num só dia depois da libertação pelos ianques foram assassinados mais iraquianos do que ao longo de todo o sadamismo
Mais escandaloso é ainda o caso líbio. O povo, tribalizado ou não, vivia numa satisfatória mediania com subvenções estatais regularmente asseguradas. Os povos vizinhos tinham ali ocupação suficientemente retribuida. As grandes empresas europeias contratavam vultosas empreitadas.
Mas o sacro manto da democracia não se estendera da Cirenaica á Tripolitana.
As tribos tinham de ir á comuna. Nem que fosse pelos cabelos ou preferentemente pelas barbas.
O resultado está à vista de todos.
Como aconteceu em Cuba, quando afastaram Fulgêncio para entronizar Fidel, que lhes pagou com um antiamericanismo tão primário como o desejo ianque de democratizar á americana todo o mundo.
Como sucedeu na Ásia das Monções quando correram os franceses.
Ou na África Portuguesa, de onde nos empurraram, incitando á rebelião populações que só perderam com a mudança.
Democratas primários, os norte-americanos não aprenderam a lição e continuarão a querem democratizar à americana todo o mundo e amanhã, se lá chegarmos, a Lua e o Marte.
Por: Dr. Leal Freire
Fonte: Cinco Quinas
(Manuel Leal Freire, monárquico e ilustre advogado da cidade do Porto, interpreta como ninguém, em prosa e verso, a cultura portuguesa).