Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

PORTUGAL: NEM REPÚBLICA NEM MONARQUIA

A Economia matou a História. De uma penada, zás-trás-pás, Portugal ficou sem cabeça, um corpo sem identidade, ainda que lhe restem o ADN da planta dos pés e as impressões digitais dos dedos esfacelados por golpe inaudito do ministro Álvaro, quiçá coadjuvado pelo ameno Gaspar, pelo tão tranquilo Coelho e pelo desaparecido, como dizem, Paulinho dos Estrangeiros.

O governo, apertado pela dupla incrível MerSarkozy que nos vem costurando (mais certo seria dizer ‘cosendo e cozendo’) não pensou duas vezes e agarrando na gadanha ceifou-nos o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro sem pedir licença a quer que fosse, amancebados que estão com a maioria absoluta. Quer-me pois parecer que o cérebro de alguns membros do governo estão ocos, já dizia a Merenciana no Sarau do Liceu. E, de repente, veio-me à lembrança a mais importante e dramática pergunta (Frei Jorge) seguida da mais célebre resposta (dor) do teatro português, no final do 2º ano do Frei Luís de Sousa: - “-Romeiro, Romeiro, quem és tu? – Ninguém!”, respondeu ele. «Ninguém» porque esquecido, porque, estando na casa que fora sua, não houve alma que o reconhecesse. Nem Madalena! «Ninguém» porque a simples hipótese de estar vivo era um tormento para aqueles que amou ou amava. Ele já só podia ser sombra. Perdera tudo. E o Álvaro? Perdeu-se no labirinto do não saber para que lado se virar e destruiu o que 40 conjurados (e centenas de portugueses espalhados pela província), em 1640, construíram, deitou ao lixo a memória de um país e um país sem memória não é país, porque não sabem quem é. Álvaro - e com ele todos os membros deste governo – venderam a memória por prato de lentilhas tal como Saul vendeu o reino a David.

A História deste país anda uma desgraça. Quase não existe nos manuais escolares. Agora é o governo que abdica dos seus registos de baptismo e de confirmação. Em 5 de Outubro de 1910, Portugal baptizou-se como país republicano. Em 1640, confirmou pela segunda vez a sua independência (aqui a ordem não de catecismo). O 5 de Outubro é a matriz do regime, comemorado até pelos monárquicos, que em romagem vão ao cemitério colocar flores em memória da «Mãe» defunta. Como, pois, perceber que seja o governo de um país o agente de destruição da sua genética? Governo assim só pode ser classificado de uma maneira: desnaturado.

Abdicou a França do 14 de Julho? Os EUA renegaram o 4 de Julho? A Rússia apagou a memória da sua Revolução em 1917? Não comemora a Espanha o 12 de Outubro? E quantos e quantos países não têm o seu dia nacional na data da independência? A Grécia, por exemplo, será que abjurou do seu 25 de Março por causa da Troika? Mas que fado! Lá se foi a imaterialidade! Agora nem fumo, nem fogo. Parece que nós somos capazes de tudo, porque somos ímpares, singulares. Até nos renegamos para agradar a troi(k)anos, coisa que nem os gregos fizeram. Falta um «cavalo de pau». Mas por cá não há Aquiles, Ajax, Ulisses ou Agamemnon. Aqueus nem vê-los! Só Troi(k)anos!

Hoje, já nem somos monarquia, nem república. Somos apenas «ninguém»!


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Sobre a palha loira
Dorme a rir, Jesus:
Tudo a rir doira
De inocente luz. (Guerra Junqueiro)


Votos de Feliz Natal aos meus leitores.