«És monárquico? És republicano? (... ) Não to pergunto.
Pergunto-te apenas se és português acima de tudo».
Henrique Paiva Couceiro, in Profissão de Fé, 1944
Por ocasião das comemorações do 68º aniversário do falecimento de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, um grupo de amigos resolveu relembrar o homem que nunca desistiu de Portugal num restaurante de Lisboa.
Pedro Policarpo, Nuno Miguel Guedes (na sua intervenção) e Luís Coimbra.
Luís Filipe Coimbra.
Alocução do Coronel Fernandes Henriques
Artur de Oliveira, David Garcia, Aline Gallasch-Hall e Nuno Miguel Guedes.
Fotos: David Garcia
por: Miguel de Paiva Couceiro
Boa tarde.
Pediu-me a nossa querida amiga Maria João para vos dizer algumas palavras sobre Henrique de Paiva Couceiro na ocasião deste almoço em que se comemora o 68° aniversário da sua morte.
Não podendo, infelizmente, estar presente, foi evidentemente com enorme prazer que preparei uma curta revista de imprensa desse já longínquo mês de Fevereiro de 1944, em que mais de 40 jornais diferentes do país e mesmo o ABC de Madrid, publicaram artigos sobre Paiva Couceiro, na maior parte dos casos acompanhados de uma ou várias fotos do Comandante.
A maior dificuldade que se me deparou foi portanto a de escolher – na abundância de documentos que contém este dossier que há pouco começara a examinar – alguns títulos e frases de maior interesse.
Não podendo, infelizmente, estar presente, foi evidentemente com enorme prazer que preparei uma curta revista de imprensa desse já longínquo mês de Fevereiro de 1944, em que mais de 40 jornais diferentes do país e mesmo o ABC de Madrid, publicaram artigos sobre Paiva Couceiro, na maior parte dos casos acompanhados de uma ou várias fotos do Comandante.
A maior dificuldade que se me deparou foi portanto a de escolher – na abundância de documentos que contém este dossier que há pouco começara a examinar – alguns títulos e frases de maior interesse.
Começo pois com uma expressão típica de Paiva Couceiro, quando sabia que devia ser breve: “vamos então ao assunto”!
O jornal “Aléo”, na sua edição de 17 de Março de 1944 dedica as suas 24 páginas à morte de Paiva Couceiro, começando, na primeira, com a célebre frase de D. Duarte Nuno:
“A minha profunda admiração pelo herói nacional Paiva Couceiro, filia-se simultaneamente na sua bravura de militar e na sua coragem moral demonstrada pela aceitação plena de todas as consequências das suas atitudes e acções”
In Aléo do mesmo dia, encontramos artigos de variadas personagens como por exemplo:
· João de Azevedo Coutinho: à “Henrique de Paiva Couceiro – UM HOMEM”
· D. João de Almeida: à “RECORDAÇÕES”
· Hipólito Raposo: à “A Espada e a Honra” – “E em tempos de tão confusa e dolorosa provação, é consolador de esperança e confiança esse impulso do mais espontâneo sentimento público, na homenagem a um homem tão rico de honrada pobreza que ninguém podia igualar em inconformidade, desinteresse e renuncia pessoal, por bem da Nação.” …. “Grande, opulenta herança deixou esse Soldado e Sonhador – uma espada, em cuja lamina cintilaram rubros clarões de epopeia e um prestigio de honra sem mancha que há muito dera à sua vida um inestimável valor moral, para o rendido respeito de todos os portugueses, dignos de tal nome.
Rapazes: Aí tendes uma lição para aprender e um exemplo a seguir. Os vossos anelos de servidores da Pátria tornai-os sempre dignos daquela sincera comoção com que foi levado para a sepultura um dos soldados mais despresadores da morte que o Sol de África beijou e sagrou para a imortalidade.”
Rapazes: Aí tendes uma lição para aprender e um exemplo a seguir. Os vossos anelos de servidores da Pátria tornai-os sempre dignos daquela sincera comoção com que foi levado para a sepultura um dos soldados mais despresadores da morte que o Sol de África beijou e sagrou para a imortalidade.”
· Eurico Satúrio Pires: à “História de uma Espada e de um Soneto”
· Delfim Maya: “Os grandes paladinos nacionais”
· Luís de Almeida Braga: “De todas as Histórias é a História Contemporânea a mais difícil de entender. Esquecido por uns e desprezado por outros, Paiva Couceiro parecia morto em vida, e eis que a morte verdadeira o restitui à Pátria! Pobre terra, onde só na sepultura os homens são grandes!”
· Visconde de Torrão: “Paiva Couceiro – Homem moral”
· Francisco Quintella (Xavico): “O Sonho e a Vida de um Soldado”
· Conde de Valle de Reis: “Mortos da Pátria! Sentido!”
· Fernando Amado: “Morreu o Comandante”
· Tomaz de Figueiredo: “Velada mortuária, velada de armas…”
· Luiz Leite Rio: “Couceiro, Construtor de Império”
· Da redacção de “Aléo”: à “Paiva Couceiro não foi discípulo de ninguém. Foi MESTRE de todos.”
Entre os títulos mais sugestivos dos outros jornais, notei os seguintes:
· “Diário da Manhã”: “A Morte de um Soldado”
· “Jornal de Notícias”: “Glorioso soldado e grande colonialista”
· “Diário de Lisboa” : “Uma vida de aventura e glória”
· “A Voz”: “A morte do Comandante”
· “Diário Popular”: “Ilustre Militar, Exemplo de coragem, dignidade e constância”
· “A Voz”: “A Morte do Herói”
· “Comércio do Porto”: “Grande Herói da nossa epopeia africana”
· “A Voz”: “Prestigioso militar e insigne colonialista”
· “Jornal de Notícias”: “Um grande português, notabilíssima figura de militar e de colonialista célebre”
· “Correio da Manhã”: Uma Figura Nacional”
· “A.B.C. – Madrid”: “Una Vida de Leyenda”
· “Ecos de Sintra”: “A Morte do Leão”
Os títulos que acabo de citar são títulos de artigos de fundo, certamente da autoria do director do respectivo jornal.
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Passo em seguida a citar alguns dos textos que mais me emocionaram:
1. No cemitério dos Prazeres, durante a cerimónia fúnebre, disse o Conselheiro António Cabral, antigo Ministro da Marinha e Ultramar:
“Como soldado, foi herói em Marracuene e em Magul; como colonial serviu, como nenhum outro, a província de Angola; como político, foi sempre fiel à sua bandeira e ao seu Rei; como Português, foi uma das mais altas figuras da nossa vida contemporânea, amando acima de tudo a sua Pátria”.
2. 1944-2-11 in « Diário Popular », passagem de um artigo sem assinatura:
“Morreu Hoje PAIVA COUCEIRO – Ilustre Militar, Exemplo de Coragem, Dignidade e Constância”.
Com Paiva Couceiro desaparece o ultimo sobrevivente de uma geração que as próprias condições da vida actual não se consentem se renove.
Coragem temerária, desinteresse total de benesses materiais, amor sem limite ao perigo e à gloria, integridade de carácter, fidelidade imutável, juventude que os insultos do tempo não atingem – eis, em resumo desbotado e rápido, os traços dominantes dos homens dessa geração, nos quais a alegria acompanhava a temeridade, a gentileza caminhava de par com a energia, o brilho do espírito iluminava a força do braço.
Paiva Couceiro foi, sempre, em síntese literária, o descendente lusitano do Cid Campeador, do místico Nun’Alvares, do fidalgo du Guesclin.
Centenas de anos atrás, Couceiro teria sido Condestável. Assim, foi o que na realidade sempre são tais homens – um Exilado.
Mais adiante:
Morreu Paiva Couceiro.
………………
Hoje foi a enterrar um dos últimos portugueses que a lenda envolveu e aureolou. A sua vida foi uma cadeia maravilhosa de rasgos e aventuras. Vida longa e cheia. Chamaram-lhe o “Paladino”, o “Comandante”, o “Bayer Português”, o “Capitão Fantasma”. António Enes chamou-lhe “Leão de Combate”.
Ou ainda:
1944-2-16 in “Gazeta dos Caminhos de Ferro”
“Comandante Paiva Couceiro
….
Morreu alguém. Morreu o herói das campanhas coloniais; morreu um honrado soldado que cobriu de glória o exército português, morreu o paladino de uma causa que sempre defendeu com denodo e altivez; morreu um político, sim, mas em quem os seus adversários admiravam um carácter nobilíssimo; morreu, finalmente, um homem de bem, que acima de tudo colocou a imagem da Pátria e a obrigação de a servir.”
Tantas palavras bonitas, tantas verdades ditas por grandes Portugueses cuja idoneidade não pode ser posta em causa!…
Devo confessar que me apaixonei por tudo o que li neste dossier, como em tantos outros, e que teria, com imenso gosto, continuado a citar-vos, noite fora, tudo o que me maravilhou.
Mas o tempo não é elástico e por isso me limitarei a mais algumas palavras publicadas no jornal “Domingo” de 20 de Fevereiro de 1944:
… – É que nessa figura espantosa de soldado e de herói, perfil quase de lenda, última flor da cavalaria que desabrochou e viveu na terra de Portugal, simboliza-se, mais que em qualquer outra, toda a grandeza heróica e magnífica, esbelta e luminosa desse período em que, à custa de mil sacrifícios, de incontáveis dificuldades, foi possível a um punhado de homens desprovidos dos mais rudimentares elementos, das mais comezinhas condições, erguer e consolidar o vasto Império, projectando Portugal no Mundo.
… o intemerato Português que logrou ser a melhor e mais lídima expressão das virtudes da Raça, num tempo em que o abastardamento do carácter, o desprezo pela lealdade, o esquecimento do respeito à fé jurada foram infelizmente o timbre, a marca duma sociedade em decomposição.
Duma integridade moral que jamais foi excedida e desgraçadamente bem poucas vezes tem sido igualada, Paiva Couceiro foi principalmente e acima de tudo, um grande carácter e por isso mesmo a figura ideal de Português sem mácula que viveu deslocado no seu tempo. Alma de elite, poucos como ele tiveram em tão alto grau o culto da Honra e do Dever.
Duma integridade moral que jamais foi excedida e desgraçadamente bem poucas vezes tem sido igualada, Paiva Couceiro foi principalmente e acima de tudo, um grande carácter e por isso mesmo a figura ideal de Português sem mácula que viveu deslocado no seu tempo. Alma de elite, poucos como ele tiveram em tão alto grau o culto da Honra e do Dever.
E por aqui me fico, ainda com muito para contar, mas, como dizia Pedro de Alferrara, no jornal “Domingo” de 20-2-1944:
“…. era assim este homem duma só fé e duma só lei, cuja estatura só se compreenderá em toda a sua completa grandeza no dia em que dele se disser aquele muito, imenso mesmo, que ainda há para dizer”.
Para terminar queria dizer-vos que a responsabilidade da escolha do assunto é toda minha; alguém disse um dia que os “heróis não morrem”, por isso, ao publicar o que admiradores, amigos e mesmo inimigos disseram de Paiva Couceiro na hora da morte, faço-o com a sensação que ele está bem vivo no meu espírito, como também estará, possivelmente, no vosso.
Ele que não tinha medo de nada, nem da morte, dizia poucos dias antes de morrer: “estou cansado da vida, e estou pronto para ir para junto de Deus, meu único Rei e Senhor”.
Estou portanto certo de que, para Paiva Couceiro, a morte foi mais uma vitória; e, quando se viveu bem, o caixão é um arco de triunfo!
Para todos os presentes um abraço sincero.
Miguel de Paiva Couceiro.
Crans, 8/2/2012
por: Nuno Álvares de Noronha de Paiva Couceiro
11 de Fevereiro de 2012
Em primeiro lugar gostaria de dizer quanto lamento não poder estar presente nesta simpática iniciativa e quanto agradeço à Maria João Quintans o convite para participar nesta homenagem ao meu querido avô Henrique.
Também agradeço a solicitação da Maria João para escrever umas palavras sobre HPC, o que é por demais fácil e prazeroso para eu fazer.
Dificilmente eu falaria sobre meu avô sem acabar incorrendo em comentários ou descrições de fatos por todos conhecidos e portanto para não ser repetitivo, me decidi por expressar o que eu acho que meu avô gostaria que todos ouvissem.
INCURSÃO 2012
Mais uma vez estamos vendo Portugal atravessando uma época difícil da sua história, época esta repetitivamente marcada por culpa do seu próprio povo, de todos nós portugueses, a culpa dos que mal fazem e mais ainda, dos que assistem e nada de bem fazem.
Na verdade mais culpo os que nada fazem contra os malandros que fazem o mal. Malandro é pessoa sem caráter, submisso, perdido na vida, nós que aqui estamos presentes e tantos outros espalhados pelo país e estrangeiro afora somos pessoas que querem renovar a dignidade da sua Pátria, da raça, da nossa posição perante os demais países e viver uma vida de gente evoluída e com 900 anos de tradições.
É isto que me vai na alma. Depois de tanto saber de escritos e livros sobre meu avô assim como por ler qualquer diário português de qualquer dia de qualquer década ou ouvir qualquer notícia sobre Portugal em qualquer mídia de qualquer país, certamente considero que meu avô já se levantou do seu túmulo, e está entre nós para mais uma incursão, para nos transmitir a forma, a força e a vontade de agir para fazer de Portugal o que ele sempre apregoou.
Nós estamos na verdade muito acomodados e ficamos sentados ouvindo por exemplo que Portugal está colonizado pelos países europeus, de “colonizadores” viramos colonizados, continuamos sentados ouvindo, entregamos nossos irmãos do ultramar pela vontade covarde de alguns – ainda vivos inclusive – que não estão sequer indiciados pelos seus crimes contra a humanidade, temos que abrir as portas aos fiscais estrangeiros para que decidam o que podemos ou não fazer em nosso parco orçamento, estamos sendo taxados com impostos e reduções de nível de vida decididos e aceites lá por Bruxelas ou Berlim, estamos na verdade navegando ao sabor da nossa indiferença, ficando fracos e fácil presa de algum outro país expansionista.
Diria meu avô, mas que país é este? Onde estão os portugueses? Onde está nosso povo e nosso brio? Onde está nossa independência e soberania, portugueses? De que servem tantas sub-facções monárquicas, tantas discussões sem resultado, tantos vivas ao rei que não temos, quem sabe se o país quer república ou monarquia? Por acaso os monárquicos já se esforçaram assertivamente para mudar a constituição? Por acaso os monárquicos já sabem que quem ganhou em 1910 não foram os republicanos e sim que foram os monárquicos que perderam?
Pois é, nem uns nem outros são a questão, o que falta mesmo é o amor ao país, o amor ao povo, a vontade de lutar, a vontade de combater, a vontade de vencer e alcançar o conteúdo dos ideais que trazemos na alma e fazer Portugal voltar a ser Portugal.
por: Coronel Américo José Fernandes Henriques
(O seu texto será apresentado na íntegra. Para já, deixo uma nota introdutória da sua "eloquente" intervenção)
"Henrique Mitchell de Paiva Couceiro. Patrono dos Cursos de Entrada na Academia Militar de 1994-1995"
"Como soldado, Paiva Couceiro revelou nas Campanhas de África (e) em que tomou parte, uma bravura, uma lealdade, um audácia e um espírito de sacrifício tão extraordinários que o impuseram como um dos mais puros heróis da época.
Como governante, a sua passagem pelo governo de Angola, apesar de fugaz e prejudicada pela escassez em recursos financeiros e militares postos à sua disposição, deixou um rasto tão brilhante, que foi considerado excepcional, (de) entre aqueles que desempenharam tal função.
Como homem público, a sintomática unanimidade de opiniões sobre a sua honradez pessoal e política, sobre a natureza e patriotismo das suas intenções, sobre uma integridade de carácter verdadeiramente excepcional, elevou Paiva Couceiro, à indiscutível posição de um dos maiores e melhores valores morais da nossa História.
Até ao fim da sua vida, Paiva Couceiro sempre norteou a sua conduta humana pela fidelidade às ideias que defendia e honrava e manteve-se politicamente fiel aos ideais da monarquia que, em permanência, advogara e jurara servir.
A sua brilhante firmeza de pensamento e acção forma por ele sintetizados numa frase curta, mas reveladora da nobreza do Homem, do Militar e do Político: "Portugal não estende a mão sendo a Deus".
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