Têm estado a decorrer as comemorações do falecimento do grande Estadista Português, Engenheiro Frederico Ressano Garcia, a quem Lisboa deve o seu desenvolvimento e modernização vertiginosa, no princípio do último século. Na verdade, a partir de um eixo constituído pela Avenida da Liberdade, através de uma série de significativos e essenciais projectos, onde se incluía a construção da Praça Marquês de Pombal e a sua área envolvente, o rasgar das Avenidas Novas, com especial destaque para a agora chamada Avenida da República, a construção da Avenida 24 de Julho e do Mercado da Ribeira Nova, bem como dos bairros de Campo de Ourique e da Estefânia, Lisboa mudou completamente a sua fisionomia. A sua obra, como responsável da Edilidade Lisbonense e ministro de várias pastas, transformou a capital, em duas décadas, numa moderna e encantadora cidade. Nos Serviços Urbanísticos da Câmara Municipal de Lisboa, onde começou a trabalhar, logo tentou intervir na efectiva gestão urbanística, conseguindo com êxito a autonomia do Município em relação ao Poder Central. O seu espírito criativo, apesar de alguma má vontade e da oposição dos interesses instalados que teve que ultrapassar, centrou-se energicamente no traçado de novos arruamentos e bairros, na arborização e ajardinamento da cidade, no abastecimento de água e na renovação da rede de esgotos, a par do desenvolvimento da acessibilidade a Lisboa, incrementado pelas linhas ferroviárias e pela adaptação da zona portuária, aos novos desafios da navegação que entravavam o progresso da nossa economia. Era um visionário e um Homem do Futuro, a quem a modernidade da Capital muito ficou a dever.
Frederico Ressano Garcia nasceu em 1847 e faleceu em 1911. Estudou na Escola Politécnica para frequentar o curso de engenharia, que acabou por concluir em Paris, com altíssimas classificações, na École Imperial des Ponts et Chaussées. Como estudante, aquando da invasão prussiana, lutou nas barricadas de Paris com tal valentia ao lado dos estudantes franceses, que foi condecorado com a Legião de Honra. Muito mais tarde, na abertura da Exposição Universal, em Paris, num jantar oficial dado pelo Presidente da República Francesa aos chefes de estado dos países convidados, como estivessem presentes o Rei de Inglaterra, o Czar da Rússia e outras cabeças coroadas europeias, os anfitriões, para ultrapassarem os melindres do protocolo, sentaram à direita do Presidente da República Francesa o representante do nosso País, Frederico Ressano Garcia, pelo facto de exibir no peito a Legião de Honra Francesa, uma das mais altas condecorações gaulesas. Em 1897, foi dado o seu nome a uma avenida das Picoas, que ele rasgou e melhorou e que, actualmente se chama Avenida da República. Em 1911, já muito doente e acamado, retirado de qualquer actividade profissional e há muito afastado da política, foi visitado por uma representação republicana que insistiu em por Ele ser recebida, apesar de conhecerem o seu estado desesperado de saúde. Afinal, não era uma visita de cortesia que estavam a fazer a um grande homem, era sim uma infame e hipócrita manobra, para terem a certeza que Ressano Garcia tinha conhecimento de que haviam retirado o seu nome de uma Avenida por si projectada e mandada executar, e que anteriormente tinha sido atribuída em compensação do muito que Lisboa lhe devia, para o substituir por Avenida da República. Desse modo, conseguiram dar um profundo desgosto a um moribundo, nos últimos dias da sua vida, desgosto esse que a Família estava a tentar evitar, ocultando a alteração politicamente feita. Comportamento miserável de baixa política, de quem não tem valores, a não ser o execrável desejo gratuito de vindicta, próprio de gente reles e medíocre. Bem têm tentado lavar a história, procurando que o seu nome ficasse no esquecimento. Mas não tiveram êxito. Já foi dado o seu nome a uma avenida de Lisboa e a uma cidade moçambicana, cujo nome se mantém após a independência, pois Frederico Ressano Garcia tem não só a merecida gratidão dos alfacinhas, orgulhosos da sua bonita Cidade, como igualmente usufrui do reconhecimento de toda a comunidade de língua portuguesa.
António Moniz Palme - 2012
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