A Barbearia Matos, considerada a mais antiga da cidade de Braga, foi ontem despejada coercivamente por ordem do tribunal. Depois de um processo judicial que se arrastou durante mais de dez anos, o emblemático estabelecimento localizado na rua do Souto, ponto de atração turística, foi obrigado a fechar as portas, tendo o proprietário até ao fim deste mês para desocupar totalmente o espaço de que era arrendatário.
«Como eu tinha um contrato precário, o tribunal acabou por decidir pelo despejo da barbearia», lamentou Manuel Matos, apontando o dedo à Câmara de Braga por «nada ter feito» para manter este ponto de atração turística, apesar de receber em 2005 uma recomendação do IGESPAR para a classificação da barbearia como imóvel de interesse municipal e mais recentemente, em meados de setembro do ano passado, a Assembleia Municipal ter aprovado, por maioria, com a abstenção do CDS-PP, uma recomendação apresentada pelo PPM no mesmo sentido
Eram cerca das 10h00, estava Manuel Matos a começar a cortar o cabelo a um cliente, quando foi abordado por funcionários do tribunal e dois polícias, para que fosse executada a ordem de despejo. «Ao menos ainda esperaram que acabasse o trabalho», disse o barbeiro, que já estava à espera deste desfecho, mas ainda tinha uma réstia de esperança de que a execução não avançasse por força da recomendação aprovada na Assembleia Municipal.
«Pensei que a Câmara tivesse interferido para que a barbearia não encerrasse, mas o tribunal apareceu aqui e encerrou a barbearia. É sinal de que a Câmara de Braga nada fez», lamentou Manuel Matos, visivelmente magoado e com a voz trémula.
A Barbearia Matos, que passou de pai para filho, estava instalada na rua do Souto há cerca de 60 anos, mas já tinha mais de 100 anos. O contrato de arrendamento, com décadas, era precário, tendo o senhorio movido uma ação de despejo. «É mais um espaço magnífico, talvez único na Europa, que deixam encerrar. É a gente que temos, o país espelha bem esta situação», atirou o barbeiro.
Para já está posta de lado a possibilidade de Manuel Matos instalar a barbearia noutro sítio da cidade. «Não faz sentido. A barbearia só faz sentido neste espaço, era aqui que as pessoas a conheciam e gostavam de vir», realçou.
Com 59 anos de idade, grande parte deles passados na barbearia “herdada” do pai, Manuel Matos diz que o seu destino agora é o desemprego.
Numa última tentativa, desafia a Câmara de Braga a tomar diligências, no sentido de fazer com que seja possível reverter o processo para que a barbearia se possa manter naquele imóvel, na rua do Souto.
No momento do despejo algumas pessoas, entre as quais clientes assíduos, concentraram-se junto à barbearia e manifestaram a sua indignação e revolta pelo encerramento do estabelecimento secular.
«Não se compreende como é que esta casa não foi declarada de interesse público. Isto é muito mais do que uma barbearia, é um espaço de tertúlia, local de convívio, ponto de atração turística, passam aqui dezenas e dezenas de turistas», disse Luís Filipe Fonseca, de 80 anos de idade, um dos clientes habituais da Barbearia Matos.
No final quando viu a porta da barbearia a ser fechada, este comerciante, proprietário da loja em frente, não conteve as lágrimas. «Isto é uma autêntica desgraça na rua do Souto.
Paravam aqui centenas de pessoas para ver a barbearia que continha objetos muito antigos e despertava muito a atenção das pessoas», referiu.
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