quinta-feira, 12 de abril de 2012

Barbearia Matos fechou portas


Serão só os bracarenses a reagir à perda deste património?
O que pensarão os turistas que visitaram Braga (nacionais e estrangeiros) e conheceram a sua antiga barbearia, quando tomarem conhecimento do seu encerramento forçado? 
O que pensam os comerciantes da perda de atractivos no Centro Histórico de Braga?

A Barbearia Matos foi, ontem de manhã, encerrada por ordem do tribunal. O despejo foi o culminar de um processo judicial que se arrastou durante mais de 10 anos.
A mais antiga barbearia da cidade de Braga foi, ontem, encerrada compulsivamente, por ordem do tribunal, tendo o proprietário até ao final do mês para desocupar totalmente o imóvel.
“Eram umas 10 horas. Estava a começar a cortar o cabelo a um cliente e apareceram-me à porta uns funcionários do tribunal e dois polícias, para executarem a ordem de despejo. Vá lá que ao menos ainda esperaram que acabasse de atender o cliente”, ironizou o proprietário, Manuel Matos, sem esconder a “mágoa” que lhe vai na alma.
O despejo foi o culminar de um processo judicial que se arrastou durante mais de 10 anos.
Em Setembro de 2011, a Assembleia Municipal aprovou por maioria, apenas com a abstenção do CDS-PP, uma recomendação apresentada pelo PPM, para que a câmara municipal desenvolvesse “todos os esforços” no sentido de classificar aquela barbearia como imóvel de interesse municipal.
“A partir desse momento, ganhei uma nova esperança de que não me fechassem a casa, mas afinal estava enganado. Eu perco o meu local de trabalho, mas quem perde mais é a cidade. Perde uma casa cheia de história e de histórias, apenas e só porque alguém quer ampliar uma loja de roupa”, criticou Manuel Matos.

Paragem “obrigatória”
Com 59 anos de idade, “praticamente todos” passados naquela histórica barbearia da rua do Souto, Manuel Matos garante que o seu futuro imediato passa pelo desemprego. “Não me sinto com coragem para recomeçar noutro local”, desabafa.
A Barbearia Matos tem mais de 100 anos, está há 60 instalada na rua do Souto e passou de pai para filho.
O edifício terá sido construído na transição do século 17 para 18, tendo como elementos de destaque a porta do fundo, o mosaico e o azulejo. A barbearia conservava o mobiliário da casa-mãe, como espelhos, bancada, móvel lavatório, cadeiras de ferro e de madeira, entre outras peças. Entre a “decoração”, sobressaía uma tabela de preços datada de 1 de Fevereiro de 1924, quando se pagava um escudo (meio cêntimo) por fazer a barba e o dobro por um corte de cabelo.
Tudo isto contribuiu para que o estabelecimento de Manuel Matos se tenha transformado num ponto turístico de Braga, sendo ponto de paragem “obrigatória” para muitos que demandam a cidade.
O contrato de arrendamento, com décadas, era precário, tendo entretanto o senhorio movido uma acção de despejo. “Esta barbearia só faz sentido aqui, nesta rua e neste espaço”, frisou o inquilino, desabafando que o contrato “é do tempo em que a palavra de um homem valia mais do que um papel”.
Jornal "Correio do Minho" de 12 de Abril, pág. 8

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