Muito preocupadas andam as gentes com a subida da Marine nas
eleições francesas. Xenofobia, racismo, extremismo, fascismo, o diabo a quatro.
Talvez tenham razão. Mas não em se preocupar.
Indo um bocadinho mais longe, pergunte-se: de que fala a
Marine, senão de socialismo? Um socialismo nacional, sem os rodriguinhos da
“solidariedade” e de outros “valores” na moda dos outros socialismos.
Socialismo puro e duro. Socialismo que cala fundo na mentalidade das pessoas,
mormente das que procuram protecção, apoio, subsídio, estado social, as mesmas
que votam na extrema-esquerda do Melenchon, malta sem emprego ou possuída de
juvenis sentimentos de revolta, trabalhadores (30% dos que votaram na Marine!),
tudo gente que precisa de confiar nalguma coisa e que, como tem pouco em que
confiar, se entrega nas mãos do Estado, convencida pelos demagogos da direita
ou da esquerda que é no Estado, não em si mesmos ou nos seus, que vão encontrar
refrigério, protecção e… dinheiro.
Foi assim com Mussolini que, pés bem assentes na chamada
classe trabalhadora, marchou sobre Roma e se locupletou com o poder. Foi assim
com Hitler, que, com apoio de massas da mesma natureza, se aproveitou do
estertor da República de Weimar para ser eleito e fazer o que fez. Tudo em nome
do socialismo. Foi assim com Lenine, com Castro, com Kim-Il-Sung… com
argumentos rivais mas de natureza semelhante, isto é, argumentos socialistas.
Há formas mais mitigadas do socialismo - o chamado socialismo
democrático - que, como entre nós ficou demonstrado à saciedade nos últimos
dias, acham que a democracia acaba quando a vontade popular deixa de estar nas
suas mãos.
Na sua essência anti-humano, porque alicerçado na convicção
de que a sociedade tem que ser “guiada” por um Estado omnipresente e
omnicondutor, o socialismo consiste, essencialmente, na negação da liberdade
individual. Mesmo quando dela faz bandeira.
O socialismo democrático é muito bonito enquanto tem quem
lhe pague as despesas. Por outras palavras, enquanto conseguir coabitar com
economias ditas liberais e pactuar com os produtores de riqueza que eleger para
se resguardar a si mesmo.
Quando o dinheiro, vítima das armadilhas que o pensamento
socialista criou, tende a acabar, ai Jesus que estão a acabar com a democracia!
Que democracia? A que os socialistas inventaram e que, ou deu cabo do estado
liberal ou o encheu de vícios.
Mas o socialismo está em marcha triunfante. Está ínsito na
regulamentarite aguda da Comissão Europeia, está metido no sangue de partidos
ditos de direita, está encastrado na mente dos dirigentes políticos da Europa
ocidental, de esquerda e de direita.
A Europa ocidental soçobra cada vez mais depressa, enquanto
a de Leste, que nem quer ouvir falar em socialismo, se vai safando e, apesar de
tudo, crescendo.
Criou-se o mito, ternamente acarinhado pelos mários soares
& Cª, Igreja incluída, do pecado liberal ou, num prodígio de aldrabófona
imaginação, neo-liberal.
Por outras palavras, para a generalidade dos “pensadores”, a
liberdade é pecado.
Sair disto, se fosse possível, seria a mais nobre das
revoluções.
António Borges de
Carvalho
(António Borges de
Carvalho foi eleito deputado em 1979 e 1980 pelo PPM, a cujo Grupo Parlamentar
presidiu, tendo presidido a Comissão de Revisão Constitucional (primeira
revisão) e à Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da Republica. Foi
também vice-presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, tendo colaborado na
redacção da Lei de Defesa Nacional).
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