Este artigo é um modesto contributo para um melhor
entendimento do processo de mudança e o seu impacto estratégico no crescimento
e por conseguinte no desenvolvimento económico organizativo, local/regional e
nacional. Como afirma Heraclito (600
A .C.), o filosofo sofista grego que viveu por volta do
ano 600 A .C.,
afirmava que o mundo se caracterizava pela mudança. De acordo este pensador
grego, tudo muda, cit “ o rio que
observamos muda a cada instante, pois as suas águas não são as mesmas. Para
Heraclito (600 A .C.),
a única constante do mundo em que vivemos é a mudança. Assim sendo, define-se
mudança como a alteração da estrutura, da forma de funcionamento ou de competir
de uma organização ou economia de modo a torná-la mais competitiva e ajustada
às novas realidades competitivas. Na literatura estratégica, conceito mudança
consiste em fazer algo diferente a respeito de atitudes, comportamentos,
crenças valores, hábitos, pautas de interacção entre indivíduos ou grupos e
estruturas organizativas. Dito de outra forma, a mudança consiste na
modificação e transformação de forma que sobreviva melhor num ambiente de
elevada volatilidade Hage (1980). O construto mudança é constituído por dois
paradigmas que são; ameaça (tempo) e oportunidade, sendo o futuro a razão de
existir do presente, as decisões e as politicas estratégicas tomadas no
presente vão influenciar e determinar os resultados futuros. Deste modo, o
sucesso ou insucesso de uma determinada economia (individual, organizativa,
regional/local ou nacional) é determinada pelo seu crescimento e
desenvolvimento. Porquanto, na era da economia do conhecimento a criação e
geração de vantagem competitiva, desempenho superior à concorrência, é condição
fundamental de sobrevivência e continuidade. A estabilidade fundamental do
conceito mudança consiste em sobreviver, assegurar e garantir a continuidade de
uma organização ou outra dimensão económica num ambiente de elevada incerteza e
descontinuidade. A mudança é a principal variável do desenvolvimento de uma
economia, tampouco uma alteração que ocorra no meio envolvente, provocado por
uma variável exógena numa determinada economia, vai provocar um desequilíbrio
nessa economia e é a capacidade dessa economia de se ajustar ou adaptar-se às
alterações do meio ambiente, que determina a sua sobrevivência e continuidade
num ambiente de elevada turbulência que caracteriza a sociedade pós-industrial,
a economia do conhecimento. Desta forma, a mudança induz uma organização económica
a criar condições favoráveis que permita adaptar-se e ajustar-se, traduzida na
criação e geração de valor através da criação do conhecimento incorporado em
novos produtos, tecnologias e inovações sociais. Tampouco, criando uma dianamica
de crescimento e desenvolvimento e por conseguinte de vantagem competitiva
sustentável. Sendo a mudança a principal variável do desenvolvimento de uma
economia ou de criação de eficiência competitiva, é esta variável que permite a
criação e geração de valor numa economia, através da criação de novos produtos,
garantindo a sua continuidade e sobrevivência. Qualquer processo de mudança,
individual ou institucional, tem como pressuposto conseguir neutralizar ou
mesmo inverter os comportamentos e atitudes que se opõem à mudança, isto é,
neutralizar os mecanismos de resistência. Assim sendo, a resistência à mudança,
tem como principal variável a cultura de uma determinada economia; o conhecimento,
hábitos, rituais, crenças, atitudes, mentalidades, comportamentos,
perspectivas, formação, educação etc, que impedem que o processo de mudança se
desencadeie ou evolua, gerado pela frustração, insatisfação de um determinado
status quo socioeconómico, para uma situação futura mais atraente e desejável e
aceitável. Sem embargo, se reportarmos à dimensão economia portuguesa,
verificamos que nas estatísticas do Eurostat, Portugal ocupa o 27º lugar no
ranking dos vinte e sete países da união europeia com menor desenvolvimento
estrutural. De acordo com Barquero (1993, pp 227), a questão do desenvolvimento
está correlacionada com a produtividade e competitividade de uma economia.
Várias razões são apontadas para explicar o fraco desempenho competitivo da
nossa economia; (1) o enfoque na discussão dos problemas em detrimento da
implementação das soluções, (2) falta de crença nos indivíduos como agentes de mudança,
(3) tendência para adoptar medidas parciais em vez de acções globais e ausência
de uma visão sistémica na abordagem das questões, (4) deficiências
estratégicas, métodos e modelos de gestão obsoletos e estilos de liderança inconsistentes,(5)
estruturas organizativas inadequadas e gestão funcional inviabilizam a correcta
identificação e selecção das oportunidades de negócio e a construção de
vantagens competitivas sustentáveis. Nos últimos dez anos, Portugal teve um
crescimento quase nulo, comparativamente com outros países da união europeia
com taxas médias de crescimento do produto de 3%, ie; Espanha 3,2%. Isto significa, que os países da união europeia
com maior taxa de crescimento e desenvolvimento adoptaram politicas
estratégicas consistentes, adaptadas e ajustadas à turbulência do meio
envolvente e das novas realidades competitivas, conseguindo desencadear
processos de mudança, nos diversos sectores socioeconómicos, que conduziram a
elevadas taxas de crescimento e desenvolvimento, e por conseguinte a um
diferencial competitivo mais elevado que os restantes países da União Europeia,
com menores taxas de crescimento e desenvolvimento. Todavia, apesar de Portugal
ter a mesma flutuação económica de diversos países da união europeia, excepto
alguns países que estão em contra ciclo que apresentam taxas de crescimento
mais elevadas, verifica-se gap´s ou
assimetrias de crescimento e desenvolvimento socioeconómica, político e
cultural em relação aos restantes países que têm taxas mais elevadas. Possíveis
explicações poderão ser argumentadas a factores de resistência ou inércia à
mudança tais como; (1) percepção distorcida do modelo de crescimento económico
e social, (2) falta de motivação e ambição e apatia e opacidade ou miopia
socioeconómica (falta visão integrada das actuações futuras), (3) ausência de
respostas ou comportamentos criativos no sentido de ver com claridade e
transparência a direcção, liderança ou rumo que se devia tomar, (4) barreiras políticas,
referencia aos problemas organizativos e estruturais e sociais internos que
impedem ou retrasam a implementação da mudança, caso de factores culturais que
provocam um efeito de inércia cultural que desencoraja a criatividade,
iniciativa e a inovação. A este respeito, resistência de pessoas ou grupos de
pessoas que consideram ameaça o processo de mudança, (5) problemas de acção
colectiva que se referem a falta de unidade nas actuações e falta de liderança política
em incentivar a mudança. O actual ciclo económico em que vivemos reflecte a
incapacidade de Portugal, de adaptação ou nivelamento estratégico às alterações
que resultaram das mudanças das variáveis ambientais tais como; económicas (macroeconómicas),
politico-legal, tecnológicas, ambientais, demográficas e sócio-culturais. Ademais,
a incapacidade de realizar mudanças drásticas e profundas a nível estrutural,
social e económico, que reflete uma situação de depressão económica, em que a
taxa desemprego oscila entre os 13% a 14% relativamente à taxa de 5,5%, que
corresponde à taxa natural de desemprego, isto é, ao seu PNB potencial
(capacidade produtiva de um pais); conduz à falta de confiança dos investidores
na economia portuguesa, que exigem um premio de risco pela divida publica
portuguesa, nos mercados financeiros, uma taxa de rentabilidade ou remuneração
da divida que varia entre 20% a 28%, originada do elevado risco de credito, resultante
da imagem negativa e falta de credibilidade, de Portugal no exterior, mais
propriamente junto dos investidores, accionistas e empreendedores. De acordo
com Mateus ( 6:22,23), cit “ (…) se o teu olho for singelo ( sincero,
focalizado no que é bom), todo o teu corpo será luminoso; mas se o teu olho for
iníquo, todo o teu corpo será escuro (…)” , dito de outra forma, significa que
os pensamentos bons iluminam nossa vida e os pensamentos maus a escurecem. Perante
o actual status quo socioeconómico, deveremos ter uma leitura optimista que
olhe esta crise como uma oportunidade – oportunidade de criar, oportunidade de
mudar, oportunidade de melhorar e de crescer- pode fazer toda a diferença.
“ (…) no século XXI,
os vencedores serão aqueles que estão à frente da curva da mudança, redefinindo
constantemente as suas organizações, empresas e economias criando novos mercados, proclamando novas
pistas, reinventando regras competitivas, desafiando o status quo (…)”. Charles Handy (1994).
Autor;
Julio Henrique Paiva Figo
Doutorando em Economia e Administração de Empresas.
Universidade de Santiago de Compostela (USC) -(Artigo_3)
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