A Plataforma da Cidadania vai concorrer em Outubro às
eleições regionais nos Açores, liderada pelo Dr. Paulo Estevão do P.P.M.. Da
sua mais recente entrevista, registo uma vez mais o sentido implícito de um
discurso objectivo e transparente, para que todos os cidadãos entendem uma
mensagem, renovada e diferente do actual espectro político, e há muito
esquecido pela generalidade dos nossos políticos:
"Servir e não servir-se".
Urge, de igual modo alargar este ideal para todo o
território nacional - torna-se a breve trecho fundamental como igualmente
necessário.
Desta recente entrevista, transcrevo:
"A Plataforma
da Cidadania permite a participação, sem filiação a qualquer partido e sem
correr o perigo de ser descartado na segunda-feira seguinte ao Domingo em
que depositou o seu voto. Os eleitos da Plataforma da Cidadania não terão
liberdade de voto na Assembleia Legislativa, uma vez que os eleitores terão
sempre a última palavra."
...
"Não queremos
captar o voto de protesto, mas sim o da participação e o da responsabilidade
colectiva. Somos opção para quem quer acabar com a irresponsabilidade
governativa e a demagogia eleitoral."
Perante este simples discurso e entendível por todos,
auguro um futuro promissor nas próximas eleições Regionais dos Açores.
As maiores felicidades.
A Plataforma de Cidadania assume-se
nas eleições de outubro como uma alternativa aos partidos tradicionais. A DI XL
falou com um dos coordenadores, Paulo Estevão, também líder do PPM, sobre a
situação actual do arquipélago e o projeto da Plataforma.
QUAL É A FILOSOFIA DA
PLATAFORMA DE CIDADANIA?
A Plataforma de Cidadania pretende criar um novo paradigma na forma de participar
e de fazer política. Consideramos que existe um grande desgaste no âmbito do
sistema partidário tradicional, algo que está a levar as pessoas a não
participar na vida política ou então a escolher formas radicais de protesto. Veja-se
o caso da preocupante ascensão da extrema-direita e da extrema-esquerda em
França e na Grécia.
A nossa abordagem é diferente:
pretendemos criar mecanismos de participação política abertos a toda a
sociedade, premiando o mérito, a competência e o grau de compromisso solidário.
O nosso programa será construído por todos o que se quiserem juntar à
Plataforma e a sua execução será acompanhada por uma bolsa de eleitores que
definirá o nosso sentido de voto em cada proposta e iniciativa. Dessa forma – e
aproveitando as novas tecnologias – pretendemos regressar à democracia direta:
todos contam e todos decidem.
Os partidos tradicionais estão completamente reféns dos aparelhos
partidários e dos mecanismos de ascensão internos. Não é por acaso que os
líderes dos dois maiores partidos portugueses são ex-presidentes das respetivas
jotas ou que o candidato socialista a presidente do Governo Regional também é um
antigo presidente de uma jota regional. Tudo isto demonstra bem como se faz a
ascensão política em Portugal. Os deputados, ministros ou secretários não são
obrigatoriamente recrutados entre os melhores, mas sim entre aqueles que
lograram sobreviver no labirinto dos aparelhos partidários. É isto que queremos
contrariar com a Plataforma, de forma a ultrapassar a anemia de mérito,
participação, qualificação e responsabilidade que se vive no âmbito do nosso
sistema político.
PORQUÊ ESTA OPÇÃO POR
INTEGRAR UMA PLATAFORMA?
A ideia nasce de muitas discussões. A questão que se colocava sempre que
se tentava envolver alguém na vida política e cívica era o repúdio ao
envolvimento numa organização partidária. Pura e simplesmente, as pessoas
sentem que se integrarem um partido tradicional, a força dos interesses
partidários instalados é tão grande que acabam por perder a sua identidade e
independência pessoal. Desta forma, milhares de pessoas com indiscutível mérito
profissional, cívico e académico acabam por ficar fora do funcionamento concreto
do sistema político.
No entanto, a atual crise económica demonstrou, a muita gente, que não é
possível fugir da política, ou pelo menos das suas consequências. Isto sucede quando
as pessoas perdem os seus subsídios de Natal e de férias, basicamente porque os
políticos realizaram investimentos e despesas para as quais não tinham
dinheiro. Esses erros são agora pagos por todos os contribuintes, mesmo por
aqueles que não gostam de política e que não votaram. Isto significa que é
possível não participar na decisão, mas a participação nas consequências é
inevitável.
A Plataforma de Cidadania permite a participação, sem filiação a qualquer
partido e sem correr o perigo de ser descartado na segunda-feira seguinte ao Domingo
em que depositou o seu voto. Os eleitos da Plataforma de Cidadania não terão
liberdade de voto na Assembleia Legislativa, uma vez que os eleitores terão
sempre a última palavra.
EM QUE CONDIÇÕES
CONSIDERA QUE A PLATAFORMA PARTE PARA ESTAS ELEIÇÕES REGIONAIS?
O que tem sucedido em todas as eleições que se disputam em toda a Europa
é a derrota de quem governa. Nesta conjuntura, tanto são derrotados os partidos
governamentais de esquerda como os de direita. Em alguns casos, os partidos
tradicionais perderam hegemonias com mais de trinta anos. Nesse sentido,
considero que estas serão as eleições mais abertas de sempre. A crise económica
é tão grave e o descrédito dos partidos hegemónicos é tão amplo, que é
expectável uma alteração profunda do status quo.
A estas condições sistémicas temos de juntar um contexto regional que
também é favorável à mudança. O Presidente do Governo Regional em exercício
abandona o cargo e deixa um sucessor que não se legitimou em Congresso.
Trata-se do mais mal desenhado processo de transição da História.
Do lado do PSD, a candidata da renovação integrou os governos que
antecederam este longuíssimo ciclo político de 16 anos. É a proposta de
renovação mais “estranha” da História. Nestas condições sistémicas e de
conjuntura, a Plataforma pode alcançar um resultado muito significativo e
decisivo. Temos já centenas de pessoas envolvidas no processo e estamos a
construir um programa eleitoral de grande qualidade. Não queremos captar o voto
de protesto, mas sim o da participação e o da responsabilidade coletiva. Somos
a opção para quem quer acabar com a irresponsabilidade governativa e a
demagogia eleitoral.
O QUE TRAZ O AGORA
APOIO FORMAL DO PND DE MAIS-VALIAS À PLATAFORMA DE CIDADANIA?
O PND tem grandes pergaminhos na luta contra o poder despótico instalado
na Madeira. Nesse âmbito, o PND disponibilizou – tal como o PPM – o seu apoio
formal e institucional à Plataforma de Cidadania. O PND sabe, tal como o PPM,
que isto significa dar toda a independência de construção do programa e de
funcionamento aos elementos independentes da Plataforma de Cidadania, que
representam 99,9% deste movimento. Isto significa que, ao contrário de outras
coligações partidárias tradicionais, na Plataforma os partidos não são
hegemónicos e não condicionam programaticamente a proposta eleitoral. Trata-se
de um projeto político absolutamente inovador. O PND tem todo o mérito de
tornar possível a institucionalização da Plataforma de Cidadania e de integrar
um movimento que aposta na total liberdade de pensamento e de participação.
CONSIDERA QUE A
PLATAFORMA DE CIDADANIA PODE BENEFICIAR DE ALGUM AFASTAMENTO DA SOCIEDADE CIVIL
DA CLASSE POLÍTICA, EM TERMOS DE RESULTADOS ELEITORAIS?
Absolutamente! O país e também a Região foram conduzidas pelos partidos do
arco da governação a uma situação de quase bancarrota. Desperdiçaramse milhões
de euros em projetos faraónicos que em nada contribuíram para o crescimento
económico da Região. A resposta das pessoas foi a abstenção e o desinteresse.
Essa atitude nada resolveu e nada resolverá, uma vez que políticos não deixarão
de ser eleitos mesmo que venham a ser os únicos a votar em si próprios. A única
opção correta é participar e acompanhar de perto as decisões. Controlar os
desperdícios, influenciar as decisões e participar na definição das prioridades.
Veja-se o exemplo da contenção do aumento do número de deputados
regionais. A Plataforma de Cidadania associou-se a outros movimentos cívicos e,
juntos, elaboraram uma petição que pretendia travar esse aumento. Eu elaborei
uma iniciativa legislativa nesse sentido e agendei o assunto na Assembleia
Legislativa. Evitou-se, assim, o aumento do número de deputados num período de
grave crise económica e social. Este foi um processo em que se demonstrou a
importância de ter um movimento cívico representado na Assembleia. Por isso,
não tenho dúvidas que a Plataforma terá um grande sucesso eleitoral. É a única
forma de romper a lógica partidária no âmbito do sistema político
açoriano.
COMO VÊ ESSE DIVÓRCIO
ENTRE A SOCIEDADE E OS POLÍTICOS?
Se analisarmos o que sucedeu na década de trinta - quando as sociedades europeias
enfrentaram uma situação económica e social muito semelhante à situação atual -
não podemos deixar de concluir que esse divórcio encerra enormes perigos para a
liberdade e a democracia. Foi nestas circunstâncias que prosperou a mensagem
antiparlamentar e emergiram o fascismo e o nazismo. Quando se olha para a
Grécia e para a forma como entrou no Parlamento helénico um partido nazi – logo
na Grécia, que sofreu a ocupação alemã na II Guerra Mundial -, somos levados a
pensar que a História se pode repetir.
O problema não está na política e na democracia, mas sim nas más
políticas e no alheamento da cidadania. Se não concordamos com as decisões dos
partidos e consideramos a sua gestão danosa, a única resposta plausível é
participar e alterar este estado de coisas através do voto. A que sítios levam
a abstenção e o voto de protesto em forças políticas que apenas têm para
oferecer o ódio e a violência?
QUAL É A AVALIAÇÃO QUE
FAZ DA SITUAÇÃO ATUAL DA REGIÃO, NOS VÁRIOS CAMPOS?
A nossa situação é dramática. Está tudo em suspenso até às eleições, mas
a partir daí a situação irá agravar-se muito substancialmente. Esqueçam todas
as promessas demagógicas que para aí andam a apregoar os candidatos mais
mediáticos. Depois das eleições, o candidato vencedor dirá que não sabia que a situação
era tão má e que por isso não poderá cumprir o que prometeu.
O sector da saúde está em colapso e tecnicamente falido, como já afirmou
o Tribunal de Contas. A dívida e os encargos totais da Região, considerando as
dívidas do sector empresarial regional, andarão à volta dos 3 300 milhões de
euros. Uma barbaridade! O sector turístico está paralisado devido ao custo
insuportável das passagens aéreas. O sector turístico está em grande expansão e
a crescer em todo o mundo, com exceção da África do Norte e do Médio Oriente,
devido à instabilidade política. Os Açores são a única região estável e sem
conflitos militares que não cresce, apesar de ser unanimemente considerado um
dos locais mais maravilhosos do planeta.
Nas pescas, o nosso mar está esvaziado de peixe e não se vê o que anda o
Governo a fazer para proteger o futuro desta atividade. Na agricultura, temos uma
guilhotina suspensa sobre o futuro do sector (o fim do regime de quotas), a
ameaça da entrada da carne brasileira e argentina a preços absolutamente
arrasadores e um fraquíssimo índice de diversificação. O Governo limitou-se a gerir
– e mal – o presente e não tem nada preparado para o futuro.
Da construção civil é melhor nem falarmos, tal como do estado do sector bancário
na Região. No que diz respeito às empresas açorianas, a situação é igualmente
dramática e não melhorará quando o diferencial fiscal da Região for abolido após
as eleições de Outubro. No que diz respeito à educação, só temos mesmo de
consultar a média dos exames do ensino secundário dos últimos anos. Pior que
nós, só mesmo as escolas madeirenses. No sector social estamos a viver uma
situação de colapso e somos a Região do país com os resultados mais altos no
âmbito do desemprego e da integração das famílias no rendimento social de
inserção.
Olhe-se por onde se olhe, está tudo preso pelos arames. Temos uma herança
pesada pela frente.
O QUE DEFENDE A
PLATAFORMA PARA OS AÇORES?
A Plataforma defende um projeto político de grande qualidade para os
Açores. Temos consciência que a situação atual é muito má, mas acreditamos que é
possível inverter este estado de coisas. Vamos terminar com os investimentos faraónicos
e os elefantes brancos e vamos investir o dinheiro de forma conscienciosa.
Temos de aplicar, com grande rigor, os nossos recursos para conseguir inverter
a atual situação. Estamos ainda a elaborar o nosso programa eleitoral e
esperamos obter uma grande participação de todos.
Posso, no entanto, adiantar que o
trabalho já realizado aponta para uma forte aposta no sector turístico, ligando
essa questão à vertente de uma grande redução do preço do transporte aéreo, assim
como à concretização de uma rede de grande qualidade no âmbito do transporte
marítimo de passageiros e de mercadorias. Queremos construir um sector com
valências muito diversificadas e com um forte cunho ambiental.
Na agricultura estamos a preparar um plano para enfrentar o cenário do
fim das quotas, de forma a proteger o potencial agrícola da Região e os
rendimentos dos agricultores. Apostamos na criação de mecanismos de compensação
europeus e nacionais, mas também apostamos no escoamento da produção local,
além de termos planos concretos de diversificação para o sector.
Na área das pescas temos prevista
a implementação de ambiciosas medidas de proteção aos recursos (forçando a
União Europeia a alterar a sua postura) e de combate aos monopólios regionais
nas áreas da compra em lota e na comercialização. Queremos forçar, nesta área,
uma distribuição justa dos lucros. Vamos apostar, de forma decisiva, em todas
as vertentes da economia do mar.
Enfim, não posso pormenorizar aqui, mas nas áreas sociais preparamos uma autêntica
revolução em termos de eficácia, melhoria e cobertura universal dos serviços.
Projetamos a cultura como um sector essencial para a criação de riqueza.
Noutras áreas, e são tantas, temos um conjunto de propostas muito pragmáticas e
inovadoras. Tudo isto resulta do esforço e do contributo de centenas de pessoas
a quem estamos a pedir “ideias” e colaboração.
QUE CENÁRIO VÊ COM
MELHORES OLHOS: UMA VITÓRIA DO PS NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES OU O TRIUNFO DO PSD?
Pode parecer utópico, mas o que prefiro mesmo é uma vitória da Plataforma
de Cidadania. Em princípio, nenhum partido tem mais votos que os seus
adversários no início da manhã de Domingo. Não reconhecemos nenhum estatuto
especial ao PSD ou ao PS. A Constituição ou o Estatuto Político-Administrativo
também não lhes reconhece nenhum direito especial para governar. Nenhuma
hegemonia partidária é eterna. Onde estão os partidos Regenerador e
Progressista que governaram Portugal durante várias décadas até ao início do
século XX? Onde está o PRP que governou Portugal hegemonicamente durante a I
República? Onde está a União Nacional, que teve um papel tão hegemónico durante
o Estado Novo? As coisas mudam e eu espero que a Plataforma de Cidadania seja a
opção de mudança da maioria dos açorianos.
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