Satisfação
conjugal é, sem dúvida, um conceito subjectivo que implica ter as próprias
necessidades e desejos satisfeitos, assim como corresponder, em maior ou menor
escala, ao que o outro espera, definindo um dar e receber recíproco e
espontâneo.
Não
há dúvidas que a competência do casal depende da qualidade das relações
estabelecidas entre os conjugues, relações essas que se transformam ao longo do
ciclo de vida conjugal.
Mas, também é verdade que toda a dificuldade de ser
casal encerra ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas individualidades e uma
conjugalidade, ou seja, um casal contem dois sujeitos, dois desejos, duas
inserções no mundo, duas percepções do mundo, duas histórias de vida, dois
projectos de vida, duas identidades individuais que na relação amorosa convivem
com uma conjugalidade, um desejo, uma história de vida conjugal, um projecto de
vida de casal e uma identidade conjugal.
Então, como ser dois sendo um? Como ser um sendo
dois?
Uma condição essencial para o casal é a
adaptabilidade, que tem relação com o equilíbrio entre a manutenção de uma
estrutura estável e ao mesmo tempo flexível, com regras claras e susceptíveis
de serem negociadas e até modificadas, em resposta às mudanças da vida, que
hoje, são muitas e muito rápidas.
Um outro requisito fundamental é a expressão das
emoções que funciona como aspecto vital da comunicação de casal e que se
relaciona com sensações e sentimentos de bem-estar, contentamento,
companheirismo, afeição e segurança, factores que propiciam intimidade no
relacionamento, decorrendo da congruência entre as expectativas e aspirações
que os cônjuges têm e a realidade vivenciada no casamento.
E, nesta continuidade é importante considerar,
também, a liderança partilhada, ou seja, a reciprocidade e equilíbrio de poder
entre o homem e mulher, pois quando o desequilíbrio persiste leva a relação à
insatisfação, a sintomas de fadiga, à diminuição no desejo sexual e até
depressão, mais frequente na mulher devido à carga desproporcional de
responsabilidades.
Também a coesão é um factor de protecção, integridade
e prevenção da ruptura do vínculo. Os casais saudáveis conseguem encontrar um
equilíbrio entre proximidade e respeito ao distanciamento e às diferenças
individuais. Note-se que nos casamentos tradicionais, espera-se que as mulheres
sacrifiquem a satisfação das necessidades pessoais e de relação, à carreira do
marido, nestes casos, se alguma coesão é mantida é obra quase exclusiva da
adaptação da esposa às prioridades do companheiro. Situação bem diferente das
relações actuais em que ambos se empenham na execução dos compromissos de
trabalho e família, sofrendo o relacionamento de falta de espaço para o próprio
casal e para cada um individualmente.
Independentemente das condições apresentadas serem
importantes na vida do casal, a resolução de problemas é das situações mais
essenciais para o ciclo vital do casamento. A grande diferença dos casais que
dão certo e os que não dão certo, não é a presença ou ausência de problemas,
mas sim a capacidade de enfrentar e resolver as dificuldades que surgem na vida
a dois. Mais, enquanto no casamento tradicional as regras da relação são claras
e até congruentes com a própria família e com a comunidade, retirando-se disso
modelos e apoio, nos casais não tradicionais, experimenta-se um tipo de mudança
descontínua que muito dificulta a resolução dos problemas vividos. Assim,
surgem armadilhas sucessivas que sem resolução à vista caminham para a ruptura
de relações que tudo teriam para dar certo. Neste propósito estão, também, os
casais com baixa tolerância ao conflito que por isso mesmo, tendem a não
exprimir as diferenças, por medo que o conflito aumente e ocasione violência ou
ruptura, tendendo nessa continuidade a concordar com tudo, para se libertarem
do fracasso ou da culpa. Também existem aqueles casais que caiem em armadilhas
de “quem tem razão e quem não tem”, sem qualquer capacidade de considerar o
ponto de vista do outro. Uma outra situação que merece todo o cuidado na
relação do casal é o evitar os conflitos, pois a sua prática leva a segredos na
vida a dois. Nestes casos, os conjugues tem por hábito ver o companheiro(a)
como uma parte inseparável da sua própria identidade e existência, considerando
intolerável qualquer conflito que possa ameaçar o seu relacionamento, sendo
pois este comportamento que leva os aspectos conflituantes a ser escondidos ou
até resolvidos fora do casamento, mantendo-se o relacionamento rígido, estável
e ilusório, baseado mais na função que na satisfação mútua das necessidades
reais. Outra situação é os anos de conflitos abertos e não resolvidos ou os
falsos casais que aparecem felizes em público, mas que desenvolvem por trás
dessa aparência mecanismos sofisticados para encobrir os buracos da sua
relação, sendo a maior parte das vezes casamentos mantidos pela crença na
família e não pelos laços emocionais entre os conjugues. Esta incapacidade de
interacções eficazes e criativas para resolver os problemas dentro de uma
relação, deixa insatisfeitas necessidades pessoais e relacionais, sustentando
um estado de bloqueio e de estagnação que leva os cônjuges a não saber como
mover-se para dar o primeiro passo, perdendo com isso o potencial curativo da
própria relação.
Em
forma de termo importa deixar registado que casais satisfeitos conseguem manter
fortes laços emocionais com seu cônjuge, mudar a estrutura de poder, de papéis
e de regras no seu relacionamento ao longo da vida conjugal e em face de
situações de crise, assim como, desenvolvem padrões de comunicação adequados, o
que é considerado essencial para a satisfação conjugal de ser amado,
respeitado, sentir-se seguro, compartilhar desejos e sonhos, ter suas
necessidades físicas, emocionais e espirituais satisfeitas, bem como, ter a
possibilidade de dividir tudo isso com alguém especial ao longo da vida.
Sílvia Oliveira
Deputada Municipal pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 7 de Julho, pág. 21
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