In “Ecos de Guimarães” de 9 de Julho de 1922 (10° aniversário do Ataque
a Chaves)
NO ANIVERSARIO DUM HERÓICO GESTO DE PORTUGUEZES
Nota Miguel de Paiva Couceiro: 3 artigos em primeira página:
RECORDANDO UM DIA (P. João L. Caldas)
O nosso jornal honra-se sobremaneira publicando o retrato do bravo
Comandante de Chaves que, nestes doze mal-aventurados anos de republica, a tem
combatido sem cessar.
Henrique de Paiva Couceiro, o glorioso combatente de Magul, o homem de quem um jornal republicano - o «País» - disse o que vai ler-se :
Henrique de Paiva Couceiro, o glorioso combatente de Magul, o homem de quem um jornal republicano - o «País» - disse o que vai ler-se :
PAIVA Couceiro, com as suas baterias sem pólvora e as suas fileiras sem
soldados correndo a Mafra a oferecer ao Rei a sua escada gloriosa, é a
encarnação do guerreiro antigo, meio soldado, meio namorado, um pouco de tudo -
de pajem e de cavaleiro, de galanteador e de lutador - mas herói sempre, e
herói á maneira antiga, isto é, fiel ao seu princípio e ao seu juramento.
Foi o português que melhormente espalhou, em si, a alma lusitana
primitiva no que ela tinha de inteiriço; foi em última analise o único
adversário sério da Revolução, e o único dentre todos que deixou uma saudade !
Bela alma de herói e de crente ! Guarda da monarquia que jurou defender,
e de quem não quis nada em troca da sua fidelidade, foi o último a entregar as
chaves do castelo, e fê-lo só depois de pôr ao sol a Espada que tantas vezes
cintilara debaixo da Bandeira azul e branca!
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Homens como Paiva Couceiro não pertencem a um regime, pertencem a uma
Pátria e quer esteja no quadro um Rei, quer esteja uma Republica, conservam-se
activos para o bem comum.
A Republica precisa de ter ao seu lado esse glorioso adversário, que foi
o seu único inimigo na Revolução, mas foi também, de todos os monárquicos, o
que ganhou jus á nossa admiração.
Que adira, Esse, porque a Republica dará, em troca os outros aderentes
todos...
Pois bem. Couceiro, que tanta falta faz no País e tanto bem podia
prestar, continua no exílio com mais oito companheiros enquanto a republica
leva a Nacionalidade ao abismo. Exilados enquanto o regabofe republicano
continua.
Couceiro combateu a republica em Chaves, combateu-a nos dias de glória
do Porto e, cremos bem, há de combate-la ainda amanhã, quando a Causa
Monárquica entender que chegou a hora bendita do resgate. Nesse dia Couceiro e
os seus colegas de infortúnio hão de enfileirar na vanguarda dos valentes que
queiram jogar a vida no combate á republica. São soldados e decididos a quem a
Nação ainda um dia há de prestar as homenagens só devidas aos Heróis.
Artigo de Henrique de Paiva Couceiro
SÃO os cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra... »
Assim falou Afonso V a seu filho o Príncipe D. João, armando-o Cavaleiro
perante o cadáver ensanguentado do Conde de Marialva, D. João Coutinho, que, no
assalto de Arzila, acabava de encontrar morte assinalada e valorosa. São os
cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra.» Palavras doutras eras.
Mas por isso mesmo palavras apropriadas para aqueles que, como nós, guardam
aceso, nos íntimos do peito, o culto do antigo...
Do «antigo» cuja expressão suprema, para nós Portugueses, vem a ser a
velha Pátria dos nossos maiores. Essa Pátria que, tendo por base material a
estreiteza dum pequeno território, soube criar e alimentar as seivas dum Poder
moral tão grande, que trouxe á sua vassalagem efectiva metade do Mundo, e á
vassalagem da sua fama, e dos seus prestígios, a outra metade. Deixando desse
modo bem demonstrado, pelo argumento convincente do facto histórico, quanto
pôde um Povo de inteligência pronta, e coragem intemerata, quando as suas
faculdades próprias são guiadas pelos estímulos da crença, pelas culturas da
ciência, e pelas vistas largas e patrióticas de Governos nacionais, com
estabilidade, competência e continuidade.
Recordações doutras eras. Mas por isso mesmo recordações apropriadas
para aqueles que, como nós, representam o protesto vivo contra esse «moderno»
que por aí se está decompondo e esfacelando, nos estertores duma falência
miserável, cujas voragens tudo sub vertem e perdem, sem que ao menos a honra se
salve, como a de Francisco I se salvou na batalha de Pavía.
«São os cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra.» Assim
fizeram os nossos Companheiros, cuja perda hoje comemoramos, pedindo a Deus que
os conserve na Sua Santa Guarda. Eles cumpriram. E a nossa presença junto á sua
sepultura significa que nós estamos prontos para cumprir como eles.
Companheiros sempre, apesar da morte. Eles insuflando-nos da Eternidade o
espírito da abnegação e do sacrifício, de que foram lição sugestiva. E nós
servindo na terra, enquanto o sangue nos pulse nas veias, esses mesmos ideais,
e essa mesma Bandeira, da qual, na morte, e na vida, eles e nós, somos
permanentemente os mesmos soldados inseparáveis e fieis. Na certeza plena, que
nos acompanha e anima, de que esses ideais e essa Bandeira, são os ideais e a
Bandeira salvadores da nossa Pátria em perigo.
Julho, 8 - 1922. - H. de Paiva Couceiro.
Artigo de Ayres d’Ornellas
CHAVES
NO DECENNIO passado desde o combate de Chaves até hoje, quantos acontecimentos tem modificado, a um tempo a carta do
mundo, a carta das liberdades públicas e até segundo certos reformadores, os
próprios alicerces da ordem social! A primeira guerra mundial, como com tão
profética propriedade lhe chamou Repington, destruiu a velha Europa do
Congresso de Viena, e pelos princípios absurdos em que a democracia quis basear
a paz e levantar o novo mundo, deixou em embrião umas vinte e tantas guerras,
como dizia também com rara visão o grande soldado que foi o Marechal Wilson
ainda há poucos dias barbaramente assassinado.
Porque assim como foi a Escola de Guerra francesa que pela solidez
inabalável das doutrinas de Napoleão derrotou e venceu na grande guerra os
paradoxos de von Schlieffen erigidos em doutrina de guerra alemã, assim foram a
contrario a nebulosidade dos 14 princípios de Wilson e a série de erros
intelectuais que constituem os princípios democráticos causadores da série de
males de que enferma a Europa incapaz de se reconstruir enquanto a essa
reconstrução se quiser dar como base exactamente aquilo que a Guerra tinha por
objectivo destruir, o militarismo alemão, melhor e com mais verdade chamado, a
unidade alemã.
O que nós temos padecido e estamos passando pelos erros políticos e
económicos cometidos pelo regime que nos governa, são factos do domínio público
e que os meus colegas na Câmara largamente tem demonstrado.
E a situação actual reclamando, para ser vencida, as energias de todos
os portugueses, é de molde a fazer-nos pensar qual séria ela, se em Chaves e
Valença têm vencido a dedicada coragem dos nossos combatentes.
Não é uma comemoração destas que pode consentir o escrevermos um artigo
político, no sentido actual da palavra. Basta que juntemos agora na mesma
saudade inolvidável os que deram a sua vida pela Pátria no combate de há dez
anos, e aqueles que iníqua e barbaramente são mantidos ainda num exílio contra
o qual protesta diariamente todo o sentimento da nação.
Ainda há pouco Ela aclamou uníssona, de norte a sul, o feito épico de
dois dos seus filhos dignos dos melhores tempos da sua historia. Veio essa
maravilhosa travessia mostrar-nos que nunca devemos duvidar de nós próprios. É
a lição que nos deixou Chaves, e estimo ter hoje ocasião de reunir esses dois
excepcionais incitamentos. Nada de desanimar do porvir da Pátria Portuguesa em
quanto tiver tais filhos !
AYRES D'ORNELLAS.
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