segunda-feira, 9 de julho de 2012

NO ANIVERSARIO DUM HERÓICO GESTO DE PORTUGUEZES

In “Ecos de Guimarães” de 9 de Julho de 1922 (10° aniversário do Ataque a Chaves)
NO ANIVERSARIO DUM HERÓICO GESTO DE PORTUGUEZES
Nota Miguel de Paiva Couceiro: 3 artigos em primeira página:
RECORDANDO UM DIA (P. João L. Caldas)
O nosso jornal honra-se sobremaneira publicando o retrato do bravo Comandante de Chaves que, nestes doze mal-aventurados anos de republica, a tem combatido sem cessar.
Henrique de Paiva Couceiro, o glorioso combatente de Magul, o homem de quem um jornal republicano - o «País» - disse o que vai ler-se :
PAIVA Couceiro, com as suas baterias sem pólvora e as suas fileiras sem soldados correndo a Mafra a oferecer ao Rei a sua escada gloriosa, é a encarnação do guerreiro antigo, meio soldado, meio namorado, um pouco de tudo - de pajem e de cavaleiro, de galanteador e de lutador - mas herói sempre, e herói á maneira antiga, isto é, fiel ao seu princípio e ao seu juramento.
Foi o português que melhormente espalhou, em si, a alma lusitana primitiva no que ela tinha de inteiriço; foi em última analise o único adversário sério da Revolução, e o único dentre todos que deixou uma saudade !
Bela alma de herói e de crente ! Guarda da monarquia que jurou defender, e de quem não quis nada em troca da sua fidelidade, foi o último a entregar as chaves do castelo, e fê-lo só depois de pôr ao sol a Espada que tantas vezes cintilara debaixo da Bandeira azul e branca!
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Homens como Paiva Couceiro não pertencem a um regime, pertencem a uma Pátria e quer esteja no quadro um Rei, quer esteja uma Republica, conservam-se activos para o bem comum.
A Republica precisa de ter ao seu lado esse glorioso adversário, que foi o seu único inimigo na Revolução, mas foi também, de todos os monárquicos, o que ganhou jus á nossa admiração.
Que adira, Esse, porque a Republica dará, em troca os outros aderentes todos...
Pois bem. Couceiro, que tanta falta faz no País e tanto bem podia prestar, continua no exílio com mais oito companheiros enquanto a republica leva a Nacionalidade ao abismo. Exilados enquanto o regabofe republicano continua.
Couceiro combateu a republica em Chaves, combateu-a nos dias de glória do Porto e, cremos bem, há de combate-la ainda amanhã, quando a Causa Monárquica entender que chegou a hora bendita do resgate. Nesse dia Couceiro e os seus colegas de infortúnio hão de enfileirar na vanguarda dos valentes que queiram jogar a vida no combate á republica. São soldados e decididos a quem a Nação ainda um dia há de prestar as homenagens só devidas aos Heróis.

Artigo de Henrique de Paiva Couceiro
SÃO os cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra... »
Assim falou Afonso V a seu filho o Príncipe D. João, armando-o Cavaleiro perante o cadáver ensanguentado do Conde de Marialva, D. João Coutinho, que, no assalto de Arzila, acabava de encontrar morte assinalada e valorosa. São os cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra.» Palavras doutras eras. Mas por isso mesmo palavras apropriadas para aqueles que, como nós, guardam aceso, nos íntimos do peito, o culto do antigo...
Do «antigo» cuja expressão suprema, para nós Portugueses, vem a ser a velha Pátria dos nossos maiores. Essa Pátria que, tendo por base material a estreiteza dum pequeno território, soube criar e alimentar as seivas dum Poder moral tão grande, que trouxe á sua vassalagem efectiva metade do Mundo, e á vassalagem da sua fama, e dos seus prestígios, a outra metade. Deixando desse modo bem demonstrado, pelo argumento convincente do facto histórico, quanto pôde um Povo de inteligência pronta, e coragem intemerata, quando as suas faculdades próprias são guiadas pelos estímulos da crença, pelas culturas da ciência, e pelas vistas largas e patrióticas de Governos nacionais, com estabilidade, competência e continuidade.
Recordações doutras eras. Mas por isso mesmo recordações apropriadas para aqueles que, como nós, representam o protesto vivo contra esse «moderno» que por aí se está decompondo e esfacelando, nos estertores duma falência miserável, cujas voragens tudo sub vertem e perdem, sem que ao menos a honra se salve, como a de Francisco I se salvou na batalha de Pavía.
«São os cavaleiros obrigados a morrer por sua lei e sua terra.» Assim fizeram os nossos Companheiros, cuja perda hoje comemoramos, pedindo a Deus que os conserve na Sua Santa Guarda. Eles cumpriram. E a nossa presença junto á sua sepultura significa que nós estamos prontos para cumprir como eles. Companheiros sempre, apesar da morte. Eles insuflando-nos da Eternidade o espírito da abnegação e do sacrifício, de que foram lição sugestiva. E nós servindo na terra, enquanto o sangue nos pulse nas veias, esses mesmos ideais, e essa mesma Bandeira, da qual, na morte, e na vida, eles e nós, somos permanentemente os mesmos soldados inseparáveis e fieis. Na certeza plena, que nos acompanha e anima, de que esses ideais e essa Bandeira, são os ideais e a Bandeira salvadores da nossa Pátria em perigo.
Julho, 8 - 1922. - H. de Paiva Couceiro.
Artigo de Ayres d’Ornellas

CHAVES
NO DECENNIO passado desde o combate de Chaves até hoje, quantos acontecimentos tem modificado, a um tempo a carta do mundo, a carta das liberdades públicas e até segundo certos reformadores, os próprios alicerces da ordem social! A primeira guerra mundial, como com tão profética propriedade lhe chamou Repington, destruiu a velha Europa do Congresso de Viena, e pelos princípios absurdos em que a democracia quis basear a paz e levantar o novo mundo, deixou em embrião umas vinte e tantas guerras, como dizia também com rara visão o grande soldado que foi o Marechal Wilson ainda há poucos dias barbaramente assassinado.
Porque assim como foi a Escola de Guerra francesa que pela solidez inabalável das doutrinas de Napoleão derrotou e venceu na grande guerra os paradoxos de von Schlieffen erigidos em doutrina de guerra alemã, assim foram a contrario a nebulosidade dos 14 princípios de Wilson e a série de erros intelectuais que constituem os princípios democráticos causadores da série de males de que enferma a Europa incapaz de se reconstruir enquanto a essa reconstrução se quiser dar como base exactamente aquilo que a Guerra tinha por objectivo destruir, o militarismo alemão, melhor e com mais verdade chamado, a unidade alemã.
O que nós temos padecido e estamos passando pelos erros políticos e económicos cometidos pelo regime que nos governa, são factos do domínio público e que os meus colegas na Câmara largamente tem demonstrado.
E a situação actual reclamando, para ser vencida, as energias de todos os portugueses, é de molde a fazer-nos pensar qual séria ela, se em Chaves e Valença têm vencido a dedicada coragem dos nossos combatentes.
Não é uma comemoração destas que pode consentir o escrevermos um artigo político, no sentido actual da palavra. Basta que juntemos agora na mesma saudade inolvidável os que deram a sua vida pela Pátria no combate de há dez anos, e aqueles que iníqua e barbaramente são mantidos ainda num exílio contra o qual protesta diariamente todo o sentimento da nação.
Ainda há pouco Ela aclamou uníssona, de norte a sul, o feito épico de dois dos seus filhos dignos dos melhores tempos da sua historia. Veio essa maravilhosa travessia mostrar-nos que nunca devemos duvidar de nós próprios. É a lição que nos deixou Chaves, e estimo ter hoje ocasião de reunir esses dois excepcionais incitamentos. Nada de desanimar do porvir da Pátria Portuguesa em quanto tiver tais filhos !
AYRES D'ORNELLAS.

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