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Manuel Beninger

domingo, 22 de julho de 2012

Vantagem Competitiva e enfoque nos Recursos Estratégicos


Este artigo se marca como objectivo contribuir para o entendimento de um tema que é pressuposto fundamental na sobrevivência e crescimento das várias dimensões económicas. A economia do conhecimento é caracterizada pela incerteza e descontinuidade em que a mudança é a principal constante de desenvolvimento económico. Tampouco, a elevada volatilidade e sofisticação das necessidades da demanda e da sociedade determina que a produtividade, heterogeneidade dos recursos, competitividade e interdependência são factores de vantagem competitiva da economia do conhecimento, que caracteriza a actualidade económica e social. Assim mesmo, o êxito das organizações reside na capacidade de se ajustar e reagir às novas formas de funcionamento e exigências sociais, que ditarão os paradigmas civilizacionais em transformação ou emergentes. Sem embargo, os produtos têm de estar adaptados às necessidades, desejos e satisfação dos usuários e clientes. Transpondo este pressuposto as politicas estratégicas os modelos de gestão ou governança tem de se adaptar às necessidades e satisfação da sociedade. Isto implica, o surgimento do conceito de qualidade em que as politicas de gestão e modelos têm de estar adequados aos requerimentos, desejos e necessidades, e satisfação dos usuários, clientes ou do meio social, isto porque os hábitos e exigências sociais se alteraram. Assim sendo, a era da incerteza, descontinuidade e volatilidade que caracteriza a era da sociedade do conhecimento, a mudança processa-se a um ritmo elevado nas economias de dimensão individual, organizativa, local/regional ou nacional, têm de ter a capacidade de se ajustar e reagir às novas formas de funcionamento organizativo e comportamento socioeconómicos. Na era da sociedade do conhecimento, as economias têm de estar adaptadas e ajustadas ao ambiente competitivo de forma a criarem vantagem competitiva sustentável, que lhes permita sobreviver e crescer num ambiente de elevada turbulência e ambiguidade. Ademais, vai originar a evolução e sofisticação das necessidades da demanda. As economias têm de ter a capacidade dos seus recursos gerarem valor através da criação de riqueza mediante actividades de produção e inovação. Na literatura estratégica, o conceito de vantagem competitiva é a capacidade de uma economia, organizacional, local/regional ou nacional obter rendas financeiras ou sobrelucros positivos, acima da média das economias concorrentes, isto significa ter um desempenho competitivo superior à média das outras economias. De acordo com distintos autores, a vantagem competitiva tem como marco conceptual e teórico que uma organização tem vantagem competitiva quando implementa estratégias de criação de valor de forma não paralela ou inexistência de duplicação estratégica de qualquer economia concorrente, e esta não poder duplicar os benefícios originados dessa estratégia. Ademais, a vantagem competitiva é a impossibilidade ou incapacidade dos concorrentes de uma dada economia em implementar estratégias de criação de valor em simultaneidade ou paralelo. Este paradigma é entendido como a impossibilidade dos concorrentes em implementarem, de forma simultânea, estratégias competitivas de valor, isto é, estratégias que conduzem à criação e maximização do valor com base nos recursos estratégicos. 
Este construto não invalida ou posterga, que a acção competitiva da concorrência, pode implementar estratégias competitivas de criação de valor, similares ou sucedâneas às de outra organização económica, obtendo taxas de rentabilidade análogas ou superiores. Assim mesmo, a vantagem competitiva é resultante da capacidade da empresa realizar eficientemente um conjunto de actividades necessárias à obtenção de um custo mais baixo que os concorrentes ou de organizar essa actividade uniformemente, capaz de gerar valor diferenciado para os clientes ou usuários ou incremento de valor no bem-estar económico e social. Qualquer organização independentemente da sua dimensão económica, na [EBC] ou economia do conhecimento, tem como condição básica a sua sobrevivência, isto significa vencer, manter-se viva e crescer. Porquanto as organizações têm de desenvolver e adaptar estratégias que garantam a sua sustentabilidade ao longo do tempo, através de uma performance superior a outras economias e que conduzam à criação de vantagem competitiva sustentável. Estas estratégias permitem obter mais valor que a concorrência e deste modo ter uma performance superior em termos de quota de mercado, volume de negócios, maiores taxas de retorno e crescimento e maior cotação bolsista nos mercados financeiros. Todavia, a vantagem competitiva sustentável se mantém ao longo do tempo e por isso é sustentável e nunca é alvo de duplicação competitiva, não trará à organização que a duplicou os mesmos resultados da organização precursora. Emerge daqui uma questão como é possível determinada economia sustentar elevadas taxas de crescimento e desenvolvimento e outra não? Esta questão está fundamentada na correlação com a questão da criação de valor nas organizações ou outra dimensão económica, através de actividades  produtoras de conhecimento, em que o conhecimento das pessoas – recursos intangíveis – é incorporado e cristalizado em novos produtos e serviços, conduzindo à criação de uma dinâmica de crescimento e desenvolvimento sustentado.
 Alguns distintos autores estratégicos, definem que os gestores ou líderes necessitam definir as suas organizações como criadoras de valor em lugar de apropriadoras de valor. Dois construtos fundamentais configuram estruturalmente a base da evolução do pensamento sobre estratégia competitiva; (1) vantagem competitiva, (2) mudança organizativa e estratégia. No actual contexto de mudança, as decisões estratégicas deverão se basear num interface entre estratégia e comportamento organizativo. Assim mesmo, a implementação de uma estratégia deverá ser direccionada para adaptação ou ajustamento competitivo às condições económicas. Significa que a implementação da estratégica deverá se ajustar aos factores endógenos de uma economia, à estrutura do mercado ou à sua posição competitiva mais vantajosa e favorável. As diferenças de performance entre as diferentes economias, de uma determinada dimensão económica, são justificadas pelos seus recursos terem a capacidade de gerar bens e serviços comercialmente viáveis. Na tradição da economia neoclássica, a economia de mercado é estável porque tem uma dinâmica de transição de um estado estacionário para outro estado ou de equilíbrio dinâmico para outro. O sistema capitalista é visto numa perspectiva evolucionista, em que os equilíbrios são dinâmicos e por isso a economia nunca atingiria o equilíbrio nem estaria em permanente dinâmica de mudança. Na tradição da escola austríaca  Schumpeteriana a economia é preconizada numa situação de equilíbrio geral estacionário, em que existe um movimento mas não existe qualquer variação das condições fundamentais, o que significa a inexistência de um fluxo circular de bens e serviços num sentido e moeda em sentido contrário.
Assim sendo, o crescimento e desenvolvimento ocorre quando as organizações desenvolvem inovações, alterando o equilíbrio das forças competitivas. De acordo com Schumpeter a renovação constante de produtos, processos e formas organizativas, que permitam o estabelecimento de rendas financeiras temporárias são factores de impedimento do mercado de manter uma posição de equilíbrio. O sucesso de uma economia é mensurado pela variável crescimento. Como surge o crescimento económico e quais são as suas consequências? a resposta a esta questão, Schumpeter chama a atenção para a função inovação. A inovação, mudança, surgimento de novos concorrentes, os fenómenos de rendimento crescente e os resultados financeiros diferenciados da média do mercado são fenómenos comuns, já que são ocorrências esperadas num modelo que gera as diferenças de performance.
A inovação é resultante do conhecimento incorporado em bens e serviços, processos, modelos e métodos. Numa era em que a economia é caracterizada pela ambiguidade, incerteza e descontinuidade, em que os mercados são dinâmicos a condição fundamental de sobrevivência e crescimento é a adaptação à alteração das condições iniciais, através da introdução de  spillovers de inovação - introdução de inovações na economia como um processo sistemático, de forma  a criar uma dinâmica de crescimento sustentado e assim vantagem competitiva. Assim sendo, as capacidades organizativas de uma economia são os factores alvancadores ou estabilizadores estratégicos de crescimento e por conseguinte de vantagem competitiva. A capacidade organizativa é constituída por duas componentes de recursos; tangíveis (físicos e financeiros) e intangíveis (capital humano, capital estrutural e capital relacional). O capital humano (conhecimento, competências, habilidades) é o principal recurso estratégico que contribui em maior percentagem para a inovação através do conhecimento incorporado em bens e serviços que gera uma dinâmica de criação de valor conduzindo à criação de diferencial competitivo sustentável.
 Recentes estudos empíricos fundamentam que nas economias da administração local portuguesa, a formação do rendimento económico ou organizativo é explicado por 91% pelos recursos intangíveis das economias locais da administração portuguesa. Os restantes 9% são explicados pelos recursos tangíveis (físicos e financeiros) das economias da administração local portuguesa. Estes resultados da estimação empírica são distribuídos da seguinte forma, nos recursos intangíveis; (1) capital humano 42%, (2) capital estrutural (organizativo e tecnológico) 26%, (3) capital relacional 38% os restantes 9% são afectados aos recursos tangíveis (recursos físicos e financeiros). Da análise empírica aos resultados verifica-se que o rendimento económico da administração portuguesa a nível de concelho (município) é participado na sua maior percentagem (91%) pelo capital intelectual de todos os intervenientes sociais, registando-se elevada capacidade laboriosa, criativa e inovadora dos actores sociais. Tampouco, surge a questão porque algumas economias locais apresentam elevadas taxas de crescimento e desenvolvimento e por conseguinte são mais competitivas que outras economias da administração local ou dito de outra forma porque alguns concelhos têm uma performance competitiva e outros não? A existência de gap´s ou assimetrias de crescimento e desenvolvimento local, na dimensão concelho, é resultante de possíveis explicações que poderão fundamentar estas disparidades competitivas locais/ regionais tais como; (1) ausência de politicas estratégicas com enfoque nas capacidades organizativas (recursos estratégicos) desadequadas aos requerimentos (desejos e necessidades) e satisfação dos usuários, utentes e clientes, (2) ausência de politicas paralelas entre as diversas economias locais/regionais, (3) inexistência de investimentos em tecnologia, (4) falta de ajustamento competitivo e reacção à volatilidade do ambiente local e global caracterizado por novas formas de funcionamento e exigência sociais, (5) modelos de gestão (administração) ou governança e liderança inadequados às necessidades e satisfação da sociedade, (6) falta de qualidade dos recursos e ineficiência e ineficácia das politicas de gestão e de liderança, (7) Inexistência de uma política de inovação local/ regional (sistemas regionais/ locais de inovação SRI), (8) administração reactiva e burocrática propensa à corrupção, (9) falta de visão estratégica, (10) falta de predição das alterações ambientais e políticos dai o fracasso dos planos estratégicos, (11) inexistência de politicas de ajustamento tributário e paralelas eg; taxas de derrama municipais, impostos locais etc….
A gestão de muito é o mesmo que a gestão de poucos, é uma questão de organização. Porquanto, a competitividade de um país é o reflexo da competitividade das sua economias organizativas, locais e regionais, em que a capacidade produtiva de uma economia ( local/ regional ou nacional) que determina os padrões de vida dos seus cidadãos. A este respeito, se observa que em Portugal as diferenças de competitividade ou eficiência competitiva entre economias locais ou regionais, é resultante da ausência de políticas de qualidade dos recursos estratégicos com base nas capacidades organizativas locais, por incompetência técnica, desconhecimento ou deficiência técnica. Como assinala J. Tobin o ónus da prova tem de recair sobre aqueles que produzem menos, em vez dos que produzem mais, os que deixem homens, maquinas, infra-estruturas e terras desocupadas e que podem ser usadas, orçamentos desequilibrados, divida externa excessiva, perda de confiança e défice da balança de transacções correntes excessiva. 
O problema do desenvolvimento organizativo, local/ regional e nacional, na era da economia baseada no conhecimento, consiste na melhoria da produtividade e da competitividade das economias locais e regionais ou organizativas. Daqui se infere que os objectivos estratégicos de desenvolvimento local e organizacional, devem privilegiar e estar ancorados em actividades de geradoras e criadoras de valor ou riqueza que concorram para reduzir as assimetrias ou desigualdades organizativas ou locais/ regionais e que são; a produtividade; através da melhoria em infra-estruturas de comunicação e redes viárias, investimentos em drives de inovação e de eficiência, politicas de empreendorismo, qualidade dos recursos humanos, investimento em drives de tecnologia – sistemas ou redes regionais de inovação (SRI) -, actividades de produção de conhecimento potenciando a capacidade inovadora dos agentes ou actores socioeconómicos. As economias organizativas e locais/ regionais precisam garantir e criar uma dinâmica de eficiência competitiva sustentável em relação à concorrência, já que na era da economia baseada no conhecimento, a concorrência não é entre produtos e serviços mas a competitividade é entre recursos e competências. Assim mesmo, o que diferencia os recursos organizacionais é a sua capacidade de gerar valor para os usuários, clientes e dai obterem vantagem competitiva.
 “ (….) A vantagem competitiva das nações exige um ambiente favorável para inovação tecnológica, trabalhadores capacitados e facilidade no trânsito de ideias e pessoas ( .. …) cit (Publicação Publica Estratégica para Informação , Comunidade Europeia, 2000).
Doutorando em Economia e Administração de Empresas.
Universidade de Santiago de Compostela (USC)

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