1 - Sábado próximo é o dia 1 do ano I de uma nova era. Nem é de César e
nem é de Cristo, será, quiçá a era do Coelho, do Relvas ou do Gaspar, numa
aproximação ao calendário chinês.
Sexta-feira acaba a era republicana em Portugal, por decreto ministerial
que obriga a raspar o 5 de Outubro, como movimento político que pôs fim à
monarquia e implantou o regime em vigor desde aquele dia 1910, pelo qual a
maioria dos portugueses passou a dizer-se republicana. A História regista que
foram 102 anos de altos e baixos de um regime que proclamava a igualdade, a
liberdade, mas nem uma nem outra soube construir, deixando-as incompletas, tal
como as «capelas imperfeitas» do Mosteiro da Batalha, porque encerrou a
liberdade durante quarenta e oito anos no Forte de Peniche e no Tarrafal, entre
outros lugares sombrios, frios e de sofrimento, após a chegada ao poder de um
senhor de Santa Comba, dita do Dão, criador da tortura àqueles que lhe
contrariavam as ideias. Tal «sistema político» nunca percebeu muito bem o que
devia ser a igualdade, coisa ou facto que assola ainda a actualidade. E nesta
actualidade foi preciso que o Tribunal Constitucional lembrasse ao Poder
vigente o carácter igualitário que faz parte da definição de república
democrática. Seguindo o exemplo de Cícero (político, orador, filósofo e
escritor romano do sec. II/I a.C.), pilar e consciência da República romana, o
Primeiro-ministro, homem que já declarou não se modular pela «cantiga da rua»,
invocará “o direito de todos os «nobres» [ António Borges, Miguel Relvas e
quejandos] ocuparem um lugar no Estado e de todos os cidadãos honestos
participarem nos negócios públicos, deixando de fora deste grupo a plebe, gente
desprezível sem vintém e que não podia ter qualquer espécie de crença
política”, mas que ousa encher o Terreiro do Passo, o Rossio ou as praças
municipais de vilas e cidades?
O país, em nome do trabalho, da produtividade, argumentos mais do que
bastantes mas não muito convincentes, assiste à morte da mãe verde-rubra, em
pira, no Coliseu (leia-se S. Bento). Adeus, República. Olá Rabbitlândia.
2 - «É horrível o ser-se enganado!» (…) O espírito do homem é feito de
maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade”, assim o escreveu
Erasmo de Rotedão no seu livro o Elogio da Loucura. Aliás, quem diz estas
palavras é exactamente a Loucura, essa figura que comanda os homens, porque não
há gosto maior que ser possuído por ela. Ora, quando olhamos os governantes que
tivemos e para os que temos, só podemos exactamente perceber que uns foram e
outros são sacerdotes devotíssimos desta Loucura: de Guterres a Santana Lopes,
de Barroso a Sócrates, de Passos Coelho aos seus pares. Todos os citados
cometeram a Loucura de nos venderem a felicidade com amanhãs de sol nos jardins
floridos das nossas cabanas. Todos disseram e os actuais dizem: Esta água é
santa, cura todos os males. Quanto mais beberem mais sãos ficarão e mais
felizes serão nas noites de lua cheia. Esta é a promessa gloriosa de enganar a
sociedade: fazê-la feliz, quando sabem que, sendo amantes da Loucura, só podem
oferecer a Loucura. Há mais dias no ano que luas cheias. “O homem, porém,
destinado a governar as coisas, deveria ter recebido um pouco mais que uma onça
de senso” (Erasmo, idem), o que parece não ser o caso, em Portugal.
3 - “Para que um Estado seja bem orientado, não basta que tenha boas leis,
se não tiver cuidado com a sua execução,” (Aristóteles, filósofo grego, no seu
Tratado da Política. Daqui resulta que um Estado com boas leis nem sempre é um
bom Estado se tiver maus governantes, mas também um Estado com más leis nunca
pode aspirar a ser um bom Estado, mesmo com bons governantes.
4 - Termino com felicitações à inteligência do dr. António Borges, o homem
da Goldman Sachs, entidade responsável pelo desastre económico em muitos
países, Portugal incluído» porque continua a ganhar no jogo da sueca: 350 mil
euros, em 2010, como administrador da empresa Galeno Participações SGPS; 225
mil euros em 2011, livres de impostos, pagos pelo FMI. Ora é este «pobre»
senhor, mas sábio, que sobe ao palco para se dirigir, para dizer à plateia que,
além de ser ignorante, ganha demais e que precisa de deixar umas moedas
(leia-se TSU) no cofre do Gasparzinho, que lhe anda a pagar mal pelas ideias
espantosas que ele tem soprado ao PM, para prejudicar quem lhe paga o ordenado.
A Loucura (que Erasmo de Roterdão pôs em livro) diz: “ o homem,
destinado a governar as coisas, deveria ter um pouco mais que uma onça de
senso”… Mas, em Portugal, parece não haver.
(Rabbitlândia = terra (país) do Coelho)
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