O Rei D. Manuel II foi "mal compreendido pelos próprios
monárquicos" e nunca viu a Inglaterra, onde se exilou, como "uma
segunda casa", afirma Ricardo de Medrano, autor de um ensaio sobre o
monarca no exílio.
A obra intitula-se "D. Manuel II - A vida desconhecida no
exílio", e, segundo o autor, pretende-se "aprofundar essa parte menos
conhecida da vida do Rei, o seu exílio, e particularmente a sua personalidade e
a suas ocupações quotidianas".
D. Manuel II reinou entre 1908 e 1910, quando a proclamação da República
o obrigou ao exílio em Inglaterra, onde morreu há 80 anos, na localidade de
Twickenham, onde fixou residência.
Apesar da grande actividade na comunidade local, no empenhamento em prol
dos aliados na I Grande Guerra Mundial, nomeadamente prestando apoio aos
militares portugueses, das "deferências dos monarcas britânicos", o
exílio de D. Manuel II "foi marcado por fortes saudades da pátria
perdida", atesta Ricardo Mateos Sáinz de Medrano.
O autor afirma que o soberano teve "reiteradas frustrações"
entre 1912, quando em Portugal aconteceu a primeira revolta monárquica, e 1924,
quando abandonou "toda a actividade política".
Segundo Medrano, que se tem dedicado à história genealógica das famílias
reais, "a personalidade [de D. Manuel II] salta para a História um pouco à
sombra do carácter mais forte e mais determinado de sua mãe", a Rainha D.ª
Amélia, "cuja influência sobre ele foi sem dúvida capital contribuindo
para o manter num relativo segundo plano".
O investigador considera que esta forte influência de D.ª Amélia
contribuiu para o Rei ter escolhido a princesa alemã Augusta Vitória de
Hohenzollern, como sua mulher. Uma companheira, escreve Ricardo de Medrano, que
"parece circular junto dele mais como uma sombra do que como a grande
personalidade que se espera de uma rainha".
Numa das muitas fotos desta edição está o casal real. O autor chama a
atenção para o "olhar caloroso de Manuel" em contraste com o
"olhar sempre vago de Mimi", como era apelidada na intimidade Augusta
Vitória.
Depois da morte do marido, Augusta Vitória "soube construir uma
nova vida à sua medida, à margem da existência anterior (?), mas ganhando a
alienação da terra e das gentes daquele Portugal tão caro a Manuel",
atesta o investigador.
O monarca, segundo o autor, deu um forte contributo para os novos
tratamentos ortopédicos e esforçou-se em "recuperar e reivindicar a grande
literatura clássica portuguesa", mas "os pesadelos económicos,
amargariam a sua vida até à morte".
Ricardo de Medrano descreve a vida de D. Manuel II como "cheia de
amarguras" e "própria de uma personagem afável, mas mais medíocre do
que excepcional, que sempre sofreu com a perda do trono dos seus
antepassados".
"D. Manuel II - A vida desconhecida no exílio", com a chancela
da Esfera dos Livros, reproduz um variado leque de fotografias, algumas raras,
como uma do casal real a nadar, de D. Manuel II participando numa feira em
Twickenham, ou da rainha vestida de minhota.
A obra divide-se em 16 capítulos desde a saída de Lisboa da família
real, "com os canhões apontados para o palácio", a passagem por
Gibraltar e o exílio em Inglaterra, abordando ainda questões dinásticas como o
Pacto de Doves, o facto de o Rei não ter tido filhos e ainda a viuvez de
Augusta Vitória que se voltou a casar e a ostentar o título de condessa Douglas.
Sem comentários:
Enviar um comentário