domingo, 11 de novembro de 2012

O Drama de um Rei


(...) Num tempo e num ambiente em que a Sociedade tinha perdido quase de todo o sentido do sagrado, a Realeza era o último fundamento ou, pelo menos, o claro símbolo do sentido transcendente da existência colectiva.
A morte do Rei, na sua preparação obscura e lenta, na sua execução bem visível e fulminante, e na espantosa glorificação dos assassinos, é o momento culminante de um processo longo, o processo movido simultaneamente pelo ideologismo mais ou menos filosófico, pelo burocratismo mesquinho e pelo igualitarismo destruidor.
Ao alcançarem o triunfo sangrento, os inimigos da Realeza descobriram o abismo em que se havia de precipitar toda a Nação e todas as formas tradicionais da cultura cristã.
Quando, seis anos mais tarde, tiver início o esforço intelectual e voluntário de renovação a que se chamou Integralismo Lusitano, essa atitude da geração nova terá por ponto de partida o significado do Rei na vida do Povo e, assim, o seu pano de fundo será a tragédia do Terreiro do Paço.
Foi preciso o testemunho do sangue. Por esse alto preço conquistou Portugal o direito a um renascimento doutrinário mais inteiro que qualquer dos movimentos que no Ocidente se ergueram contra os princípios da Revolução.
(...) O drama de El-Rei D. Carlos é o drama da Realeza moderna. Esse drama desenrola-se em dois planos: no primeiro, começou um século e meio mais cedo, quando o Marquês de Pombal introduziu brutalmente no nosso País as doutrinas racionalistas do despotismo esclarecido; o segundo data de 1820, foi gravado em 1826 e tomou nova feição em Évora-Monte (...)."
'Henrique Barrilaro Ruas'
Publicado por Raquel Sá Lemos Guedes

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