(...) Num tempo e num ambiente em que a Sociedade tinha perdido quase de
todo o sentido do sagrado, a Realeza era o último fundamento ou, pelo menos, o
claro símbolo do sentido transcendente da existência colectiva.
A morte do Rei, na sua preparação obscura e lenta, na sua execução bem
visível e fulminante, e na espantosa glorificação dos assassinos, é o momento
culminante de um processo longo, o processo movido simultaneamente pelo
ideologismo mais ou menos filosófico, pelo burocratismo mesquinho e pelo igualitarismo
destruidor.
Ao alcançarem o triunfo sangrento, os inimigos da Realeza descobriram o
abismo em que se havia de precipitar toda a Nação e todas as formas
tradicionais da cultura cristã.
Quando, seis anos mais tarde, tiver início o esforço intelectual e
voluntário de renovação a que se chamou Integralismo Lusitano, essa atitude da
geração nova terá por ponto de partida o significado do Rei na vida do Povo e,
assim, o seu pano de fundo será a tragédia do Terreiro do Paço.
Foi preciso o testemunho do sangue. Por esse alto preço conquistou
Portugal o direito a um renascimento doutrinário mais inteiro que qualquer dos
movimentos que no Ocidente se ergueram contra os princípios da Revolução.
(...) O drama de El-Rei D. Carlos é o drama da Realeza moderna. Esse
drama desenrola-se em dois planos: no primeiro, começou um século e meio mais
cedo, quando o Marquês de Pombal introduziu brutalmente no nosso País as
doutrinas racionalistas do despotismo esclarecido; o segundo data de 1820, foi
gravado em 1826 e tomou nova feição em Évora-Monte (...)."
'Henrique Barrilaro Ruas'
Publicado por Raquel Sá Lemos Guedes
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