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Manuel Beninger

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Comprar pode ser um sentimento; por Sílvia Oliveira


Cresce o desconforto de um processo sem fim, que tem na sua base crenças insensatas em que comprar pode ser um acto sentimental ou compulsivo quando serve para nos compensarmos daquilo que não podemos ter. Este comportamento alimenta-se de uma ansiedade crescente em que quanto maior a tensão interior, mais vezes se repete o comportamento, assim como, maior se vai tornar o sentimento de culpa, de perda de controlo e de desvalorização pessoal. O comportamento compulsivo e rotineiro apenas esconde necessidades afectivas não preenchidas: são tristezas, solidões e frustrações os pilotos destes comportamentos; são o vício em que as pessoas estão envolvidas; é uma fraca auto-estima inconscientemente compensada com as compras; é uma tensão acumulada e incapacidade de resistir ao impulso, acto prejudicial, em que a pessoa apesar de ter consciência do seu acto não consegue impedir-se de o fazer. O acto de comprar proporciona, ainda que temporariamente, emoções positivas como a alegria, o bem-estar, a sensação de poder e até algum relaxamento, o problema, é que a corrida às compras não “tapa” o vazio interior. Se estamos mal no casamento ou no emprego, se temos problemas com os filhos ou com os pais, se os vizinhos são um incomodo desforramo-nos nas compras para reduzir a ansiedade, de compra em compra experimentamos as emoções de alegria e/ou tristeza, pelo meio somam-se perdas afectivas e sentimentos de profundo desespero que, por vezes, é preciso chegar para repensar tudo e partir do zero, procurando-se soluções pessoais aos problemas em vez de substitutos materiais.
Para reforçar esta realidade que vem de dentro de cada um de nós temos no descoberto das pessoas a sociedade da superabundância, onde somos assediados pelos múltiplos apelos ao consumo, a facilidade de acesso ao dinheiro que apesar de constituir, só por si, um factor ilusório, faz consumir cada vez mais. Neste rescaldo, consumimos para nos afirmarmos em que o possuir é algo como demonstrar, adquirir status, conhecimento e distinção.
E, nesta permuta entre o pessoal e o colectivo surge-nos a inevitável questão: será que podemos continuar nesta atitude, com este comportamento condicionado ao consumo? É claro que não, a sociedade que ontem nos abriu as portas ao consumo é a mesma que hoje as fecha, alertando-nos para o “travão a fundo” na despesa, recordando-nos, inclusivamente, que os bens acautelam as nossas necessidades, mas não nos aliviam das frustrações do dia-a-dia que nos impelem à acção espontânea que, por vezes, ignora os nossos interesses e o dos outros.
Enfim, apesar da sociedade mediatizada e materialista, nos bombardear com todo o tipo de estereótipos, o que nos dificulta a percepção do que é realmente essencial, como se nos fizessem uma lavagem ao cérebro, destituindo-nos de sentido crítico, surgindo com isto o mal-estar interior, aquele que nos faz sentir vazios e perdidos, escravos de todo o tipo de modas e tendências, muitas das vezes geradoras, ainda, de mais decepções, as pessoas sabem muito bem como se libertar da pressão da publicidade e do consumo, se estão inquietas é por outros motivos como o desemprego, uma doença, a relação com os outros, o desapontamento ou a falta de amor. Por isso, não faça das compras deste Natal o antitóxico do vosso humor ou da vossa moral.

Sílvia Oliveira
Deputada municipal pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 9 de Dezembro

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