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Manuel Beninger

sábado, 5 de janeiro de 2013

Braga 2012, um doloroso tiro no pé


Braga poderia ter vivido um ano de excepção em 2012. Não o viveu, perdeu-se em polémicas e obras por concretizar.
Comecemos pelo fim: valeu a pena Braga ter sido a casa, durante 11 meses, da Capital Europeia da Juventude (CEJ), um evento praticamente desconhecido dos portugueses até então?
Valeu a pena porque Braga ainda continua a ser a cidade mais jovem do país – e, em grande medida, à boleia de uma das melhores universidades portuguesas – e conheceu uma grande campanha de publicidade, a nível internacional, neste domínio. Valeu a pena pela dimensão que o evento conferiu a algumas associações da cidade, atiradas para a sarjeta ou esquecidas pelo tempo, que viram nesta ajuda um balão de oxigénio (mediático) para a sua sobrevivência.
Valeu a pena pelo suporte que deu a jovens empreendedores de colocarem as ideias no activo e tentarem a sua sorte nos diversos programas que a Capital Europeia da Juventude colocou ao dispor dos interessados (sendo que alguns deles acabaram por não ter o efeito pretendido...). Valeu a pena por ter movimentado jovens e menos jovens à cidade durante o ano, por ter aumentado – em registo causa/efeito? – o turismo na cidade.
No entanto, a imagem do evento fica manchada por vários erros que são, no meu entender, imperdoáveis. Um deles, fruto de um exemplar trabalho jornalístico que soube retirar a notícia daquilo que parecia, à partida, um "fait-divers", fez com que este evento ficasse refém de um nome: Pearl Jam. A equipa responsável pelo evento lá deixou escapar o nome e a forte possibilidade de um concerto da banda de Eddie Vedder na cidade. Bem, Eddie Vedder não é propriamente o conhecido Zé Amaro, em que basta estalar os dedos e colocá-lo a tocar num coreto. As contas sucederam-se, as piadas aumentaram de tom conforme nos aproximávamos do final do evento: mas afinal, quando e onde actuam os Pearl Jam? Como era esperado, não actuaram.
Há mais: a equipa decidiu intervir estética e funcionalmente um edíficio devoluto – o antigo quartel da GNR – e comprometeu-se, perante os bracarenses, a inaugurá-lo, totalmente renovado como um pólo cultural de referência, no decorrer de Junho de 2012. Não o fez. Denunciaram-se atrasos vários e apontou-se uma nova data para Setembro/Outubro. Repetiu-se o atraso. Apontou-se Dezembro. Mais uma vez o mesmo desfecho. E com tanta derrapagem na data de abertura a piada passou a ser “qual a data de abertura, afinal, do Generation [nome dado ao novo espaço]?” Aponta-se agora para Fevereiro de 2013, fora do período em que decorreu o evento. A obra que poderia firmar positivamente o evento acabou por ser desperdiçada desta forma.
Mas o Minho, no seu exíguo perímetro, não está habituado a demasiada movimentação fora de época. E construir uma Capital Europeia da Juventude no mesmo ano em que a cidade vizinha (e rival) Guimarães é a Capital Europeia da Cultura foi um doloroso tiro no pé.
Com orçamentos totalmente opostos (diferença cifrada na ordem das dezenas de milhões), Braga seria enterrada no seu próprio anonimato. Foi o que aconteceu. Guimarães venceu, pela quantidade, pela qualidade, pela difusão. Braga perdeu. Perdeu em público, perdeu em cobertura mediática, perdeu em fixação de artistas o evento. No final de contas, Braga 2014 poderia ter sido um sucesso retumbante. Com tanta pressa, Braga 2012 mais não foi do que uma oportunidade perdida.
Artigo corrigido às 17h44.
A diferença de orçamentos entre a CEC e a CEJ situa-se nas dezenas de milhões e não dezenas de milhar, como estava escrito.

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