Braga 2012, um doloroso tiro no pé
Braga
poderia ter vivido um ano de excepção em 2012. Não o viveu, perdeu-se em
polémicas e obras por concretizar.
Comecemos
pelo fim: valeu a pena Braga ter sido a casa, durante 11 meses, da Capital
Europeia da Juventude (CEJ), um evento praticamente desconhecido dos
portugueses até então?
Valeu a
pena porque Braga ainda continua a ser a cidade mais jovem do país – e, em
grande medida, à boleia de uma das melhores universidades portuguesas – e
conheceu uma grande campanha de publicidade, a nível internacional, neste
domínio. Valeu a pena pela dimensão que o evento conferiu a algumas associações
da cidade, atiradas para a sarjeta ou esquecidas pelo tempo, que viram nesta
ajuda um balão de oxigénio (mediático) para a sua sobrevivência.
Valeu a
pena pelo suporte que deu a jovens empreendedores de colocarem as ideias no
activo e tentarem a sua sorte nos diversos programas que a Capital Europeia da Juventude colocou
ao dispor dos interessados (sendo que alguns deles acabaram por não ter o
efeito pretendido...). Valeu a pena por ter movimentado jovens e menos jovens à
cidade durante o ano, por ter aumentado – em registo causa/efeito? – o turismo
na cidade.
No
entanto, a imagem do evento fica manchada por vários erros que são, no meu
entender, imperdoáveis. Um deles, fruto de um exemplar trabalho jornalístico
que soube retirar a notícia daquilo que parecia, à partida, um
"fait-divers", fez com que este evento ficasse refém de um nome:
Pearl Jam. A equipa responsável pelo evento lá deixou escapar o nome e a forte
possibilidade de um concerto da banda de Eddie Vedder na cidade. Bem, Eddie
Vedder não é propriamente o conhecido Zé Amaro, em que basta estalar os dedos e
colocá-lo a tocar num coreto. As contas sucederam-se, as piadas aumentaram de
tom conforme nos aproximávamos do final do evento: mas afinal, quando e onde
actuam os Pearl Jam? Como era esperado, não actuaram.
Há mais:
a equipa decidiu intervir estética e funcionalmente um edíficio devoluto – o
antigo quartel da GNR – e comprometeu-se, perante os bracarenses, a
inaugurá-lo, totalmente renovado como um pólo cultural de referência, no
decorrer de Junho de 2012. Não o fez. Denunciaram-se atrasos vários e
apontou-se uma nova data para Setembro/Outubro. Repetiu-se o atraso. Apontou-se
Dezembro. Mais uma vez o mesmo desfecho. E com tanta derrapagem na data de
abertura a piada passou a ser “qual a data de abertura, afinal, do Generation [nome
dado ao novo espaço]?” Aponta-se agora para Fevereiro de 2013, fora do período
em que decorreu o evento. A obra que poderia firmar positivamente o evento
acabou por ser desperdiçada desta forma.
Mas o
Minho, no seu exíguo perímetro, não está habituado a demasiada movimentação
fora de época. E construir uma Capital Europeia da Juventude no mesmo ano em
que a cidade vizinha (e rival) Guimarães é a Capital Europeia da Cultura foi um
doloroso tiro no pé.
Com
orçamentos totalmente opostos (diferença cifrada na ordem das dezenas de milhões),
Braga seria enterrada no seu próprio anonimato. Foi o que aconteceu. Guimarães
venceu, pela quantidade, pela qualidade, pela difusão. Braga perdeu. Perdeu em
público, perdeu em cobertura mediática, perdeu em fixação de artistas o evento.
No final de contas, Braga 2014 poderia ter sido um sucesso retumbante. Com
tanta pressa, Braga 2012 mais não foi do que uma oportunidade perdida.
Artigo
corrigido às 17h44.
A
diferença de orçamentos entre a CEC e a CEJ situa-se nas dezenas de milhões e
não dezenas de milhar, como estava escrito.
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