Todos os anos cumprimos o mesmo protocolo, pegamos em
doze passas e, por cada uma que colocamos na boca, ao compasso das badaladas
que marcam mais um progresso no calendário, pedimos desejos para o ano novo que
está a comparecer. Nesse instante de contagem decrescente, afiançamos que vamos
arranjar energias para tornar os nossos sonhos realidade, pois deles depende a
nossa ventura, juramento este que no dia seguinte fica largado ou adiado.
Mudar de vida dá trabalho exige uma atitude activa,
avaliando as vantagens, enfrentando as escolhas, renascendo e aprendendo.
O que nos leva a aferrolhar o caminho aos desejos de
mudança é o medo, a segurança existencial e consequente necessidade de
controlar todos os riscos. Claro que mudar por mudar, sem saber muito bem
porquê ou para onde, não é solução para qualquer tipo de mal-estar interior.
Mas, a mudança, quando reflectida e nascida dentro das nossas potencialidades
vitais, pode abrir caminhos de realização nunca imaginados possíveis. E, o que
nos leva a abrir esses mesmos caminhos para a mudança é a angústia diária, como
sinal de alarme que nos faz parar para questionar o que queremos para a nossa
existência(?). Desta questão surge naturalmente uma encruzilhada, situação mais
ou menos complexa do que é habitual, tendo a pessoa que optar por um caminho
vital entre vários possíveis. As
mudanças, os conflitos, as crises ou as encruzilhadas não são acidentes do
destino, são parte natural e essencial da condição humana, alimentam uma ideia
de renascimento, pois nela incluem uma solução satisfatória e uma esperança para
a frente.
Ora, olhar de frente é talvez o maior desafio de quem
decidiu tomar como pensamento “Ano Novo Vida Nova”. Para isto temos que nos
debruçar sobre nós mesmos e analisarmos as nossas necessidades mais profundas,
e se somos tão bons a fazê-lo para os outros, sobretudo quando não nos pedem,
porque é que temos tanto medo de olhar e actuarmos dentro de nós(?), porque
talvez tenhamos medo de que as nossas verdadeiras necessidades não correspondam
às exigências dos outros ou da sociedade, o que nos dificulta a tomada de
decisão ou então temos medo de dar um passo em falso, ir contra as praxes
sociais. Enfim, vencer este terror inicial da descoberta é fundamental e uma
empreitada que depende somente de cada um, onde nenhum apoio externo pode
subestimar esta decisão autónoma de fazermos algo por nós próprios.
Aprender e renascer passa naturalmente por mudanças
nas crenças e costumes. Por isso é essencial conhecermos a nossa história, pois
é o passado que nos mostra as nossas possibilidades e limitações. Não podemos
fazer planos de futuro a partir de uma avaliação errada dos nossos recursos,
alertando-se que muitas das nossas potencialidades poderão estar esquecidas ou até
sufocadas por nunca terem sido chamadas ao nosso quotidiano.
A mudança acontece e com ela os tempos de desordem
que requerem coragem e perseverança. Talvez não seja fácil aceitarmos a
desordem devido à luta contínua pela ordem das coisas, quando este caos se
instala temos atitudes imaturas e infantis ou melhor temerosas, são as
regressões em que adoptamos novamente comportamentos de outras etapas da vida,
e em que damos um passo atrás na nossa relação com o mundo.
É, assim, nesta desordem e persistência que
aventuramos um novo caminho de vida, uma descoberta, uma nova tarefa, que de
solitária não tem nada, visto precisarmos de todos os outros para se criar o
ambiente propício à mudança e crescimento. Se as pessoas à minha volta forem
congruentes, genuínas, autênticas, se me aceitarem de forma incondicional, ou
olharem para mim de modo positivo e dispostas a compreender-me, então temos
criadas as condições certas para a mudança e crescimento.
Sílvia Oliveira
Deputada pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 4 de Janeiro de 2013, pág. 19
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