sábado, 23 de fevereiro de 2013

Exames aos restos mortais de Dom Pedro IV de Portugal clarificam a sua história


Investigadores brasileiros exumaram os corpos de membros da família imperial e fizeram exames que desfazem mitos sobre a morte de Dona Leopoldina, além de revelarem facetas da vida do primeiro imperador do Brasil.
 
O trabalho foi dirigido pela historiadora e arqueóloga brasileira Valdirene do Carmo Ambiel, da Universidade de São Paulo (USP). As ossadas foram submetidas a biópsias e exames radiológicos que deverão permitir ainda a reconstituição da face e até a simulação de movimentos destas personagens históricas através de hologramas.
De acordo com Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, as ossadas de Dona Leopoldina, primeira mulher de D. Pedro I do Brasil, D. Pedro IV, em Portugal, não possuíam marcas de fracturas, desmentindo a versão de historiadores que apontam uma queda, em consequência de uma discussão com o marido, como causa da morte. "Existia uma versão, não sei com que base, de que a morte dela teria sido ocasionada por uma fractura, gerada numa queda depois de uma discussão com D. Pedro [que a teria empurrado]. Pode ter ocorrido a queda, mas não o suficiente para que isso causasse a morte", reforça este patologista, que foi responsável pelos exames.
Já na ossada de D. Pedro IV foi possível observar duas fracturas associadas a acidentes de equitação. O detalhe permite explicar o que terá ocasionado o diagnóstico, anos mais tarde, relativo ao mau funcionamento de um dos seus pulmões. "Numa dessas fracturas, provavelmente foi atingido o pulmão, mas não foi diagnosticado na hora e isso gerou um pneumotórax [devido a uma lesão da pleura] ", explica Saldiva.
De facto, alguns anos após o acidente, uma autópsia feita no Porto, em Portugal, indicava que um dos pulmões do imperador estava totalmente colapsado. A causa da sua morte terá sido uma tuberculose. Para Paulo Saldiva, os exames permitem revelar a personalidade do imperador, mostrando que este ainda teve a "coragem" e a disposição para enfrentar "grandes batalhas", apesar das dificuldades respiratórias que certamente passou a sentir após a lesão.
D. Pedro foi o responsável por conseguir a independência do Brasil em relação a Portugal, em 1822. O filho de D. João VI e Carlota Joaquina ainda regressou a Portugal, tendo sido coroado como D. Pedro IV, em 1826. Pouco tempo depois, o monarca abdicou do trono a favor de sua filha, Dona Maria II.
Quanto ao corpo de Dona Maria Amélia, sua segunda esposa, era o mais bem conservado porque foi o único dos três que foi embalsamado. Na avaliação do investigador, os corpos não foram conservados com o cuidado que mereciam. "Continuo a achar que o Brasil podia ter cuidado um pouco melhor desses personagens. Percebemos que embalsamar não era um costume da família real, não temos informação de como foi feita a de Dona Amélia, provavelmente foi feita em França", completa Saldiva.
O trabalho foi realizado com a autorização de descendentes da família real no Brasil e os corpos já foram repostos nas respectivas sepulturas. A análise dos cadáveres foi feita separadamente, ao longo de uma única noite, e precisou de planeamento e esforço especiais para garantir o retorno dos restos mortais em perfeito estado. "Durante a abertura das covas a família estava presente, havia padre. Era importante garantir o transporte adequado, até pela má conservação do esqueleto. Não podíamos retirar ossos e devolver um saquinho de pó", ressaltou o cientista.

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