Investigadores brasileiros exumaram os corpos de membros da família
imperial e fizeram exames que desfazem mitos sobre a morte de Dona Leopoldina,
além de revelarem facetas da vida do primeiro imperador do Brasil.
O trabalho foi dirigido pela historiadora e arqueóloga brasileira
Valdirene do Carmo Ambiel, da Universidade de São Paulo (USP). As ossadas foram
submetidas a biópsias e exames radiológicos que deverão permitir ainda a
reconstituição da face e até a simulação de movimentos destas personagens
históricas através de hologramas.
De acordo com Paulo
Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, as ossadas de Dona Leopoldina,
primeira mulher de D. Pedro I do Brasil, D. Pedro IV, em Portugal, não possuíam
marcas de fracturas, desmentindo a versão de historiadores que apontam uma
queda, em consequência de uma discussão com o marido, como causa da
morte. "Existia uma versão, não sei com que base, de que a morte dela
teria sido ocasionada por uma fractura, gerada numa queda depois de uma
discussão com D. Pedro [que a teria empurrado]. Pode ter ocorrido a queda, mas
não o suficiente para que isso causasse a morte", reforça este
patologista, que foi responsável pelos exames.
Já na ossada de D. Pedro
IV foi possível observar duas fracturas associadas a acidentes de equitação. O
detalhe permite explicar o que terá ocasionado o diagnóstico, anos mais tarde,
relativo ao mau funcionamento de um dos seus pulmões. "Numa dessas
fracturas, provavelmente foi atingido o pulmão, mas não foi diagnosticado na
hora e isso gerou um pneumotórax [devido a uma lesão da pleura] ", explica
Saldiva.
De facto, alguns anos
após o acidente, uma autópsia feita no Porto, em Portugal, indicava que um dos
pulmões do imperador estava totalmente colapsado. A causa da sua morte terá
sido uma tuberculose. Para Paulo Saldiva, os exames permitem revelar a
personalidade do imperador, mostrando que este ainda teve a "coragem"
e a disposição para enfrentar "grandes batalhas", apesar das dificuldades
respiratórias que certamente passou a sentir após a lesão.
D. Pedro foi o
responsável por conseguir a independência do Brasil em relação a Portugal, em
1822. O filho de D. João VI e Carlota Joaquina ainda regressou a Portugal,
tendo sido coroado como D. Pedro IV, em 1826. Pouco tempo depois, o monarca
abdicou do trono a favor de sua filha, Dona Maria II.
Quanto ao corpo de Dona
Maria Amélia, sua segunda esposa, era o mais bem conservado porque foi o único
dos três que foi embalsamado. Na avaliação do investigador, os corpos não foram
conservados com o cuidado que mereciam. "Continuo a achar que o
Brasil podia ter cuidado um pouco melhor desses personagens. Percebemos que
embalsamar não era um costume da família real, não temos informação de como foi
feita a de Dona Amélia, provavelmente foi feita em França", completa
Saldiva.
O trabalho foi realizado
com a autorização de descendentes da família real no Brasil e os corpos já
foram repostos nas respectivas sepulturas. A análise dos cadáveres foi
feita separadamente, ao longo de uma única noite, e precisou de planeamento e
esforço especiais para garantir o retorno dos restos mortais em perfeito
estado. "Durante a abertura das covas a família estava presente,
havia padre. Era importante garantir o transporte adequado, até pela má
conservação do esqueleto. Não podíamos retirar ossos e devolver um saquinho de
pó", ressaltou o cientista.
Sem comentários:
Enviar um comentário