Joaquim Leandro Monteiro Costa e Nora nasceu a 9 de Maio de
1954, em Coimbra.
Passou a infância em Murtede, no concelho de Cantanhede, e a
juventude em
Coimbra. Praticou andebol, basquetebol e râguebi e, ainda
hoje, continua intimamente ligado ao desporto, sendo Presidente do Conselho
Fiscal da Associação de Basquetebol de Coimbra. Licenciou-se em Direito e ainda
pensou ser diplomata. Casado, tem três filhos, três netos e é confrade na
Confraria da Rainha Santa Isabel. Costa e Nora é também conhecido por ser um
defensor da monarquia, regime político que promove em diversos eventos e
iniciativas.
Joaquim Costa e Nora
materializa a imagem que temos de um cavalheiro, algo que transparece nos seus
gestos e na sua forma de estar. Escolheu seguir uma carreira na advocacia,
embora durante algum tempo tivesse ponderado licenciar-se em Economia. Já sobre quem
deve ocupar o cargo de Chefe de Estado de Portugal, o advogado não tem dúvidas:
o Rei.
O seu escritório de
advocacia, que partilha com o irmão José Sampaio Nora e outros familiares,
encontra-se numa rua de Cantanhede baptizada com o nome do primeiro rei de
Portugal — D. Afonso Henriques. “Como não podia deixar de ser”, brinca
Joaquim Costa e Nora, advogado e apoiante da Causa Real. Coincidência ou não,
também a estátua de D. António Luís de Meneses, Marquês de Marialva, figura
central na Restauração da Independência, aponta para o local de trabalho do
causídico.
Estas curiosidades foram
referidas no decorrer de uma breve conversa telefónica que tivemos com Costa e
Nora para agendar uma entrevista. Por isso mesmo, quando chegámos ao seu
escritório, já sabíamos estar perante um acérrimo defensor da monarquia. Também
o emblema que trazia na lapela do casaco, representando as armas reais,
denunciava a sua convicção política.
Sobre a monarquia e sobre
o que o advogado considera ser a nova “nobreza” falaremos mais à frente. Para
já, vamos começar pelos primeiros anos de vida de um homem que veio ao Mundo em
1954, em Coimbra, concretamente “na Clínica dos Olivais, embora a sede
familiar estivesse então em Murtede”. Foi nesta localidade do concelho
de Cantanhede que residiu durante a infância, juntamente com os pais — um
advogado e uma licenciada em Farmácia — e os dois irmãos mais velhos. “Quando
os meus irmãos entraram no Liceu, deixei a Escola de Murtede e passei a
frequentar a Escola Primária de Santo António dos Olivais, em Coimbra. A última
metade da quarta-classe foi passada na Escola de Sepins [Cantanhede]”. “Posso
dizer, com algum orgulho, que ainda tenho bons amigos que conheci nas três
escolas que frequentei”.
Diz ter vivido uma
infância feliz e, mesmo que não houvesse tantas distracções como hoje em dia,
diz não se recordar “de ter tempos em que me maçasse. Tinha sempre a
companhia de bons amigos. Aliás, a amizade era tão boa que quando seguimos
caminhos diferentes nos estudos, nas férias juntávamo-nos e, inclusivamente,
numas férias de Natal, formámos em Murtede um grupo de teatro”. O
grupo ensaiava no Centro de Recreio Popular de Murtede, ligado à FNAT (Fundação
Nacional para a Alegria no Trabalho), a instituição que precedeu o INATEL.
Trabalho de equipa
De Sepins o jovem Joaquim
Costa e Nora seguiu para o então Liceu D. João III, em Coimbra, cidade para
onde entretanto se tinha mudado definitivamente com a família. Dos sete anos no
Liceu, hoje a Escola Secundária de José Falcão, recorda o elevado nível de
exigência dos professores. “Todo o ensino era exigente. Não havia as
facilidades que há hoje, em que os alunos quase são levados ao colo. Ali havia
estímulo. Os professores, que eram muito bons, estimulavam os alunos a
aprender”. De entre os docentes que o marcaram destaca Álvaro Silveira
e Monteiro Rodrigues. Na sua memória guarda ainda alguns professores de
Educação Física, responsáveis por o terem incentivado a praticar diversos
desportos, como o andebol, o basquetebol e o râguebi, sendo este último o que
praticou durante mais tempo. “Cheguei a jogar râguebi pela Associação
Académica [de Coimbra], de manhã, e, à tarde, futebol pelo
C.R.P. Murtede, no campeonato da FNAT. Gostei sempre de desporto e, sobretudo,
de desportos de equipa, daí a razão de não gostar de falar de mim, mas das
minhas “equipas”.
Continuou a jogar râguebi
enquanto frequentou o ensino superior, mas o basquetebol também sempre foi uma
das suas paixões, tendo pertencido à Direcção da Secção desta modalidade no
Clube Académico de Coimbra. De facto, a sua paixão pelo “desporto rei” norte-americano
estende-se até à actualidade. Embora já não drible e enceste, presta o seu
apoio com os conhecimentos jurídicos que adquiriu ao longo dos anos. “Mais
recentemente, a secção de Basquetebol da Associação Académica [de
Coimbra] passou por momentos menos bons e uma equipa directiva a que
pertenci e de que fui Presidente durante três épocas, conseguiu recuperar a
secção, ao ponto de hoje o basquetebol da Académica só ser suplantado pelas
profissionalíssimas equipas do Benfica e do Porto”. Também integra o
Conselho Desportivo Municipal de Coimbra, um órgão consultivo independente, e é
presidente do Conselho Fiscal da Associação de Basquetebol de Coimbra.
Joaquim Costa e Nora
licenciou-se emDireito, pela Universidade de Coimbra, cumprindo a tradição
familiar iniciada pelo pai e continuada pelo irmão mais velho. Mas Direito
não foi, pelo menos durante um período, o curso que Costa e Nora ponderou
seguir. “Tinha relativamente boas notas a Matemática e, portanto,
pensei ir para Economia, como acabou por ir um dos meus filhos. Só que em
Coimbra [ainda] não havia Faculdade de Economia, de maneira
que acabei por cursar Direito”.
Enquanto frequentava o
curso, o universitário pertenceu ao Orfeon Académico de Coimbra e frequentava o
Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), também conhecido por Instituto
Justiça e Paz. Aos fins-de-semana, ministrava a catequese em Murtede. Em termos
profissionais futuros acalentou, durante algum tempo, o desejo de seguir uma
carreira diplomática. Porém, o sonho acabou por nunca se cumprir. “Um
das coisas que estava nos meus horizontes seria a carreira diplomática, que
acabei por deixar de lado porque, entretanto, no final do meu curso, “deu-se” o
25 de Abril e, como aluno, estive saneado durante dois anos e impedido de fazer
exames”. Porquê? “Por motivos políticos, naturalmente. As
pessoas que na altura estavam à frente dos plenários da Faculdade não eram
propriamente muito tolerantes e eu não era da cor política delas. Sempre fui uma
pessoa reconhecidamente de direita. Como a carreira diplomática era uma
carreira muito hierárquica e dependente da administração do Estado, deixei-a de
lado”.
Depois de concluída a
licenciatura em Direito, em 1977, Costa e Nora cumpriu o serviço militar na
Escola Prática de Administração Militar, em Lisboa, no 1.º Curso Especial de
Oficiais Milicianos de 1978. “Curiosamente, fui o primeiro classificado
desse curso”. Depois, seguiu para o Estado-Maior General das Forças
Armadas, também na capital, e, posteriormente, para a Comissão de Extinção da
PIDE/DGS, em Coimbra. “Funcionava no edifício anteriormente ocupado
pela própria PIDE. Instruíamos processos que depois iriam para o Tribunal
Militar, onde um Promotor de Justiça entendia se os processos deveriam, ou não,
ser submetidos a julgamento militar”.Concretamente, o que Costa e Nora e os
colegas faziam era apurar quem tinha pertencido à polícia do antigo regime.
Pouco antes de terminar o serviço militar foi promovido a alferes e passado à
disponibilidade. “Hoje estou na reserva”.
Enquanto cumpria o
serviço militar completou o estágio profissional em advocacia, no escritório do
pai, em
Cantanhede. Tornou-se advogado em 1978, o ano em que também
se casou.“Quando eu comecei só havia meia dúzia de advogados em Cantanhede”, recorda.
Ao longo dos mais de 30 anos de profissão revelou ser um notável causídico.
Confessa-se apaixonado pela profissão, embora não goste de comentar os
processos em que esteve envolvido.
Um Real Chefe de
Estado
Joaquim Costa e Nora é,
desde a juventude, um apoiante da Causa Real, acreditando que o Chefe de
Estado deve ser o Rei e não o Presidente da República. De uma forma resumida
explicou-nos a razão desta sua convicção. “No meu ponto de vista, o que
se nota nas eleições para Presidente da República, é que criam uma divisão.
Qualquer Presidente da República, quando chega ao momento de tomar uma posição,
é sempre acusado, ou pelos que o elegeram, que o acusam de traição, ou pelos
outros, que o acusam de estar a proteger os que o elegeram. Portanto, nunca tem
paz”. “Entendo que o Rei — e não a nobreza, entenda-se, até porque nobreza
existe em República, que são os membros dos aparelhos partidários — sendo
preparado e não estando dependente de eleições e de apoios partidários, é muito
mais independente do que o Presidente da República”.
Nos antepassados mais
próximos do advogado não há registo de monárquicos, exceptuando o pai que tinha “alguma
simpatia” por este regime político. “Isto talvez funcione como
contra-peso. Por exemplo, o meu avô, como viveu em Monarquia, consta que era
Republicano”.
Curiosamente, Costa e
Nora não é militante do Partido Popular Monárquico (PPM). “Embora tenha
muita simpatia pelo partido, o PPM está como partido no arco do Governo. Os
partidos têm os seus combates eleitorais numa área de Governo. E eu entendo que
o Rei deve reinar e não governar. O Rei é um chefe de Estado, é um símbolo
nacional, tal como a Bandeira e o Hino Nacional”.
Nas últimas décadas o
causídico tem vindo a bater-se pela divulgação da Causa que apoia, nomeadamente
através da participação em cerimónias que evocam momentos importantes da
história da nacionalidade. “A nossa actuação funciona também noutros
âmbitos. Criámos o Instituto da Democracia Portuguesa, de que fazem parte
pessoas que não são monárquicas. Pretendemos arranjar soluções para Portugal.
Fazemos várias reuniões, os chamados fóruns, e chegamos a conclusões”. Refira-se
que essa vontade de arranjar novas ideias para salvar o País da crise deu
origem ao livro “Plano C”, uma obra que reúne depoimentos de nomes conhecidos
como Gonçalo Ribeiro Telles, Rui Moreira e Rui Rangel.
Depois de mais de uma
hora à conversa com Joaquim Costa e Nora, o advogado alertou-nos para a sua
necessidade de se ausentar de Cantanhede. A agradável troca de palavras
tinha-se estendido mais do que o previsto e Costa e Nora tinha um compromisso
em Coimbra, ao qual não podia faltar. Estávamos a 1 de Fevereiro, um dia banal
para muitos, talvez, mas de grande relevo para os monárquicos: foi no primeiro
dia de Fevereiro, do ano de 1908, que o Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís
Filipe foram assassinados. E, tal como é hábito, o nosso entrevistado ia
assistir a uma missa de evocação do regicídio.
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