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Manuel Beninger

terça-feira, 15 de abril de 2014

Desilusão, Ilusão? Artigo de opinião de Sílvia Oliveira

acima
Jornal "Diário do Minho" de 12 de Abril, pág. 14

A ilusão é uma projeção das idealizações da nossa infância, quando nos iludimos, acreditamos que essa ilusão tem o segredo de tudo o que nos faz falta esem ela nada faz sentido. A ilusão é um desejo profundo de querer recuperar um estado de bem-aventurança, a reconquista do paraíso perdido da nossa infância, que mais não é do que um mito do individuo e um sonho da humanidade, surgindo deste equívoco a inevitável desilusão a expressar o excesso de dor pelo que já foi ou até nunca existiu. A desilusão acontece sempre que identificamos um erro entre aquilo que desejamos alcançar e aquilo que realmente alcançámos. Sempre que identificamos esta discordância, na grande maioria das vezes, ficamos decepcionados com os outros ou connosco mesmo.Nesse processo descobrimos que nos enganámos, que não conhecíamos pessoas de sempre nas nossas vidas, que amigos falharam, que amantes afinal não amavam, que o mundo que julgávamos arrumado de uma certa maneira afinal não estava, ficando desta forma perante um estado que nos assalta inadvertidamente, se instala sem pedir licença e se vai embora do mesmo modo que qualquer outro luto e ao custo de mais uma perda de inocência. Mas, o mais grave em tudo isto é que por mais velhos, experientes ou sábios que sejamos, por mais inteligentes e elaborados que consigamos ser sobre a desnecessidade da ilusão, o fato é que resistem em nós ingenuidades, ainda que bem disfarçadas, que possibilitam amarguras que bem se escusavam, mas que são ineludíveis.Quando isto nos acontece devemos ou deveríamos, ficar radiantesou pelo menos satisfeitos porque a desilusão chega ao fim, permitindo que tudo se esclareça e a fantasia enfim desaparece. Devíamos, pois claro. Mas, como se sabe, não ficamos. Quando a desilusão chega,cansados de saber que o erro é nosso, que mais que provavelmente o que agora aparece à luz do dia, sempre lá esteve, que vimos o que quisemos ver e acreditámos no que quisemos acreditar, continuamos a evoluir num mundo de ilusão, até que a dor e o sofrimento se instalam e aí sim, tudo em nós quer mudar, para um mundo real.Importa aqui reforçar  que a desilusão é uma forma de frustração, e aprender a lidar com a frustração é uma habilidade necessária para conseguirmos lidar com as nossas emoções de forma funcional, aceitando que se perde de um lado, mas se ganha de outro. O mal humano deste processo é que se lamenta a perda sem considerar o ganho que, inclusive, pode não ser imediato nem aparente, mas que depois se revelará, muito maior do que as nossas limitações podem percepcionar no momento. Também pode acontecer a perda ser melhor do que o ganho, isso também faz parte do jogo é normal, outros dinamismos a ser utilizados bem poderão inverter estas regras do jogo que acredito, ninguém gostar de o jogar. Mas, o problema não reside nestas alternâncias de ganhar e perder, o problema existe nas pessoas que odeiam perder, importando-se muito com o que os outros têm e conseguiram, mesmo que não seja de seu interesse pessoal, real. Também há os que desejam tudo para si, sem querer abrir mão de nada, querem ganhar sempre e não se arrependem nunca de nenhuma decisão. Ora estes comportamentos são fantasias infantis de omnipotência. Valerá a pena aqui recordar que são as desilusões ou perdas de inocência que quando admitidas plenamente e saboreadas em seu gosto amargo, nos ensinam a viver, tornando-nos mais humanos, falíveis e flexíveis.O gosto de sua aflição pode-nos tornar solidários, obtendo ganhos de fraternidade e compaixão pelo outro com base em nossa própria experiência, isso por si só, já seria o suficiente para inocentar muitos de nossos erros e incompreensões passadas. Mas, otristíssimo da desilusão é ficarmos com a mágoa das memórias que deviamesfumar-se, e não permanecerem para nos baralharem e confundirem. Disto surge-nos inevitavelmente questão, o que fazer então? Sem soluções, recordando apenas o provérbio alemão que diz:“Não sonhes a tua vida, vive o teu sonho”.Não sonhes a tua vida, porque sonhar a vida é perdermo-nos em nevoeiros das ilusões vazias e enganosas, criadas precisamente para fazer esquecer ou evitar os nossos limites, frustrações e sofrimentos. Os que vivem a sonhar a vida acreditam ser verdadeiro o que é ilusório. Bem diferente é a sorte daqueles que na dureza da vida se empenham em querer viver os seus sonhos. Os que assim procedem terminam convencendo-se de que o sonho, mesmo quando parece ilusórioé o mais verdadeiro, pois é nele que se encontra a motivação necessária para dar sentido e dizer sim à vida. Viver o sonho é abrir um horizonte para a esperança, não desanimar, mesmo que as dificuldades sejam muitas. Mas, se continuarmos a iludir-nose a arrependermo-nos da nossa ilusão, não há problema, o mundo é assim mesmo, está tudo certo.

Sílvia Oliveira
Deputada pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga

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