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Manuel Beninger

quinta-feira, 24 de abril de 2014

PORTO, A CIDADE DO DRAGÃO

A figura do dragão tem, desde há muitos anos, uma conotação evidente com a principal instituição desportiva da cidade, o Futebol Clube do Porto, já que é a sua mascote, faz parte da sua bandeira, e também, porque o estádio do clube, inaugurado em 2003, foi baptizado de “Estádio do Dragão”.

A ideia de força e de invencibilidade que este animal mitológico transmite, a par dos feitos desportivos que o clube alcançou nos últimos anos, foram as linhas de força que criaram a relação do dragão com o clube, que hoje conhecemos.

Mas não foi sempre assim, nem tem de ficar por aqui. Cerca de oitenta e cinco anos antes de o clube ter adoptado o seu actual emblema (1922) onde surge a figura do dragão, já a cidade o ostentava orgulhosamente nas suas armas.

Tudo começou após o Cerco do Porto (1832/1833).

A Rainha D. Maria II, filha de D. Pedro IV, promulgou o brasão de armas da cidade (1837), que incluía uma coroa ducal, segundo a vontade do seu pai.

“dessa coroa sobressai um dragão negro das antigas armas dos senhores reis destes reinos” (in Joel Cleto – Lendas do Porto – Vol.II)

Foi também no reinado de D. Maria que o Porto passou a designar-se por Cidade Invicta, título que a Rainha lhe atribuiu pelos feitos valerosos dos seus habitantes, durante as lutas liberais, e em especial na altura do Cerco.

Mas hoje, na bandeira da cidade, não figura o dragão. Desapareceu com o 25 de Abril, de 1940, e ainda não regressou.

De facto, nesta data foi publicada uma portaria do Ministro do Interior da altura, que aprovava uma nova constituição heráldica das armas, selo e bandeira dos Municípios Portugueses. Através dessa portaria desapareceram todos os resquícios liberais e monárquicos, de todas as armas e brasões, de todos os concelhos e freguesias de Portugal. Estava Salazar no seu apogeu político e terá tomado esta atitude numa afirmação de “total e incondicional nacionalismo”, conseguindo assim, fazer desaparecer, até aos dias de hoje, a coroa que encimava o brasão da cidade e da qual emergia um dragão, substituindo-a por uma coroa de cinco castelos (atitude que nem os senhores da I República, após a queda da Monarquia, tinham ousado tomar).

No próximo ano, comemorar-se-ão os setenta e cinco anos da famosa portaria de 1940. Seria bonito e desejável, pelo que o proponho desde já, que a autarquia encetasse de imediato os trabalhos necessários, para que nesse dia, os símbolos da cidade voltassem a ser como sempre foram desde 1837, a par de, se a cidade assim o desejasse, juntar ao nome da cidade um outro, para já oficioso, mas que todos já usamos por razão diversas, o nome de “Cidade do Dragão”. Nome que faz parte da nossa história! Com o cuidado evidente de separar esta denominação, de qualquer conotação clubista.

Espalhados pelo Porto, podemos ver ainda o nosso símbolo, aqui e ali. Podemos vê-lo na fachada dos Paços do Concelho na Avenida dos Aliados, no Palácio da Justiça na Cordoaria, na estátua equestre de D. Pedro IV na Praça da Liberdade, na estátua ao Infante D. Henrique, no Palácio da Bolsa, num dos lados da torre da Casa dos 24, no altar onde o coração de D. Pedro IV está depositado na Igreja da Lapa e no símbolo e bandeira do maior clube da cidade.

Mas voltemos ao tempo do Cerco do Porto, uma vez que os actos valerosos das gentes do Porto, lhe trouxeram (à cidade) ainda mais honras.

Durante cerca de um ano, a cidade resistiu heroicamente ao cerco que as tropas Miguelistas lhe impuseram. Durante esse tempo, D. Pedro IV e os principais dirigentes militares e políticos que lutavam pelas ideias liberais, defendendo uma nova concepção política inspirada na Revolução Francesa e em eleições em Cortes, onde o Rei o era por vontade popular e porque representava todo o povo, mantiveram-se dentro da cidade. O Porto foi cercado, bombardeado e incendiado, e a fome rapidamente se instalou, a que se juntou a peste. A população foi sendo aos poucos, dizimada pela doença e pela falta de comida. Terá sido um ano horrível, onde o melhor de cada um se revelou na solidariedade e na interajuda, na resistência e na vitória final.

O Rei não esqueceu a bravura e o sacrifício dos Portuenses apesar de ter morrido pouco tempo depois de terminado o Cerco do Porto e do definitivo triunfo dos Liberais. D. Pedro IV doou o seu coração à cidade, atribuiu ao Porto e a todos os seus habitantes a mais alta condecoração Portuguesa, a Ordem de Torre e Espada, passou a designar o Porto como Cidade Invicta, e criou o título de Duque do Porto. Este título, e honra, estaria destinada ao segundo filho de cada um dos Reis de Portugal. Aquela condecoração, a da Ordem de Torre e Espada, dada a todos os habitantes da cidade, faz com que todos nós, naturais do Porto, nos possamos, ainda hoje, considerar agraciados com ela.

As promessas do Rei foram integralmente cumpridas por sua filha, a Rainha D. Maria II.

O Porto, orgulha-se da sua História.

RECOLOQUEMOS O DRAGÃO, NOS LOCAIS DE ONDE NUNCA DEVERIA TER SAÍDO, NO BRASÃO E NA BANDEIRA DA NOSSA CIDADE.

ALGUNS DRAGÕES NA CIDADE

D. Pedro IV – Praça da Liberdade
Infante D. Henrique – Jardim do Infante
O Porto – Praça da Liberdade
Entrada do quartel dos Bombeiros Sapadores do Porto – Rua da Constituição
Por José Magalhães

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