Líder da Juventude Monárquica Bracarense
BRAGA ESTÁ UMA MISÉRIA
A jovem monarquia bracarense não para. São comunicados atrás de comunicados que revelam um dinamismo político que há muito se pensava ter passado à história. Manuel Beninger, em entrevista ao MINHO, traça as grandes linhas de actuação de PPM, sem esquecer, claro, algumas críticas ao eng.º Mesquita Machado.
Manuel Beninger é o presidente da Juventude Monárquica bracarense.
Sem papas na língua, vai dizendo que esta cidade está uma miséria, que o transito é de loucos, que a cultura nem vê-la e espaços verdes só no Sameiro... até ver.
No que concerne a política internacional. o Tratado de Maastricht é o seu grande fantasma: do pouco que se sabe pode depreender-se, segundo Manuel Beninger, que nada traz de bom; e vai mais longe ao alertar para o perigo que uma unidade política acarreta: o ressurgimento de velhos nacionalismos. Enfim, uma conversa amena mas sugestiva.
MINHO (M): Actualmente, o que significa ser jovem monárquico?
MANUEL BENINGER (MB): Significa muito. Significa abordar de uma forma não tradicionalista um passado histórico que continua em cada um de nós. Ser jovem monárquico é ser naturalista, é ter amor à cultura lusa. Significa a união, o pólo e o símbolo da unificação desta cultura, deste orgulho de ser português.
M: O poder concentrado nas mãos de um só homem, isso não é perigoso?
MB: Não. A monarquia não é o poder de um homem, mas sim de um rei que não é o rei de Portugal mas o rei dos portugueses. Aliás, se olhar-mos para todos os grandes países da Europa ocidental que são monarquias (Espanha, Dinamarca, Noruega, Inglaterra), verificamos que são muito mais civilizados, muito mais avançados social, económica e culturalmente. Sem falarmos no caso dos países republicanos mas com forte sentimento monárquico, de que são exemplo a Áustria, a Itália e a Alemanha. Penso pois, que o líder máximo de um país deve ser independente, neutral e a-partidário. Enfim, deve ser o representante da expressão e da vontade de um povo.
M: Mas o presidente da República também se diz presidente de todos os portugueses...
MB: Bom, há que esclarecer alguns pontos. O presidente da República é eleito por sufrágio universal, e não constitui um dos grandes motores gestão do país, é apenas um símbolo: o da identificação de uma nação. Além disso, um presidente da República não tem a escola política de um verdadeiro chefe de Estado, como os diplomatas por exemplo, e, do meu ponto de vista, para representar um país condignamente é preciso ter escola.
M: Quando vocês apregoam o regresso a uma monarquia, fazem-no com convicção ou por "comodismo"?
MB: Acreditamos profundamente nos ideais monárquicos apesar de sabermos que o PPM é um partido pequeno. Nós não estamos obcecados pelo Poder, mas temos um programa partidário para sermos governo. A nossa grande tarefa do momento é chamar a atenção das pessoas para o que significa a Monarquia, daí a acção pedagógica que temos vindo a empreender, nomeadamente ao nível da distinção entre democracia representativa e democracia directa. Ora, pensamos que a democracia directa é o sistema que melhor pode defender os interesses dos povos, porque emana directamente do referendo, figura que defendemos e que ultimamente tem estado na ordem do dia. Há questões pontuais cuja resolução passa por uma consulta directa do povo: nuclear ou não nuclear; aborto ou não não aborto; monarquia ou não monarquia. Não estou a ver, por exemplo, os deputados da Assembleia da República a decidirem se querem ou não o aborto.
DISCURSO DIFERENTE
M: Imaginemos que um dia viessem a ser governo. Como é que procederiam à alteração de um modelo Republicano, com deputados, ministros, para uma Monarquia?
MB: Mudar de uma República para uma Monarquia não traz qualquer problema, e constata-se que em Portugal, seria muito mais fácil do que noutro país qualquer, como por exemplo no Brasil que vai decidir, para o ano, se quer a Monarquia ou a República. Portugal será mais fácil porquê? Porque temos uma grande tradição monárquica à semelhança da Espanha, cuja transição da República para a Monarquia foi natural e pacífica, facto que se calhar impediu a divisão daquele país e quem sabe a guerra: lembre-se do protagonismo de Juan Carlos no parlamento.
M: No último congresso do PPM, os históricos fundadores do partido apresentaram uma moção em que apelavam à extinção do partido por considerar que o seu espaço de intervenção estava mais do que esgotado. Pelos vistos não é essa a vossa posição.
MB: Bem, há que dizer que dos históricos foram poucos os que saíram, o que mesmo assim é de lamentar. Como sabe, depois da saída de Ribeiro Telles, o PPM caiu numa certa apatia: nos Conselhos Nacionais ou nos Congressos não havia grande movimentação. Até que, no Conselho Nacional de Aveiro apareceu Nuno Cardoso da Silva que decidiu tomar conta do Partido. Graças a esta mudança, o PPM sofreu uma enorme revitalização, sem se desviar dos seus ideais e linhas estratégicas, mas com um discurso diferente, mais incisivo e sobretudo mais jovem. Por outro lado, o PPM está a descentralizar-se, já não é só Lisboa, mas a sua mensagem e actividade expandem-se a outros grandes distritos. A juventude também está a evidenciar enorme dinamismo: Veja-se o caso da Juventude Monárquica de Braga.
M: A ecologia é um dos vossos grandes cavalos de Batalha. Tem sido até qualificada como Humanismo do sec. XXI...
MB: A ecologia é tudo. Quando o PPM falava de ecologia chamam-nos ou antiquados ou pós-modernos e a verdade é que ninguém ligava à ecologia. Depois, toda a gente se pôs a falar de ecologia e foi mesmo a tábua de salvação para alguns partidos, como o PCP com a integração na sua estrutura dos "Verdes". Com efeito, para os partidários do PPM a recuperação de um certo humanismo passa pelas resoluções ecológicas.
BRAGA: UMA CIDADE LAMENTÁVEL
M: Qual vai ser a estratégia eleitoral para as autárquicas de 1993?
MB: A Juventude Monárquica começou já a trabalhar: temos vindo a tomar posição sobre vários problemas que afectam a cidade de Braga. O fruto desse trabalho, e isto é que é importante, está a corresponder a um acréscimo de militantes, que se traduz no fortalecimento do PPM que, como é óbvio, irá concorrer à Câmara de Braga, sozinho ou em coligação.
M: Uma coligação com quem?
MB: Com partidos similares ao nosso, poderá ser o PSD ou o CDS. Com o PS nunca!. Enfim, vamos pensar. Ainda falta muito tempo, Contudo, penso que o mais certo é concorrermos sozinhos.
M: Como avalia a actividade do actual executivo municipal?
MB: Bem, em Braga constrói-se desmazeladamente e sem perfeição. Braga cresce mas não se desenvolve. É uma cidade belíssima e orgulhamos-nos de viver nela, mas pensamos que tem sido muito mal tratado. Veja-se o problema do trânsito: é uma vergonha! Tudo muda e nada melhora. Além disso a Câmara de Braga padece de uma grande perversidade, que é não ter uma visão de futuro. Hoje constrói-se e amanhã faz-se outra coisa em cima. Veja-se o Mercado do Carandá: constrói-se e agora parece que vai ser um hipermercado. Veja-se o caso do Campo da Vinha: constrói-se um parque de estacionamento e ao que parece vão lá construir um correr de lojas. é esta má planificação que nos leva a estar contra esta Câmara que, de resto, não nos merece nenhum crédito.
M: Os simpatizantes do PPM tem sido bastante acutilantes nas críticas ao Eng.º Mesquita Machado...
MB: Não somos acutilantes. Nós temos a nossa maneira de ser que é saudável. Não é a crítica pela crítica: pretendemos ser uma oposição construtiva, já que ela não existe, e quando existe é fraca (é o caso neste momento com os vereadores do PSD). Desde que se formou, a Juventude Monárquica tem evidenciado bastante protagonismo ao procurarmos chamar a atenção para os graves problemas que assolam a cidade.
Li numa das últimas edições do MINHO que a qualidade de habitação em Braga é óptima, mas eu não sou, como diz o outro, a olhar o céu: a habitação é terrivelmente má, não só pela construção em si como a nível arquitectónico. Podemos ver a construção no Carandá, nas Parretas, etc. Isto vai criar problemas no futuro. Zonas verdes? Não as há. O Eng.º Mesquita Machado poderá não gostar das nossas afirmações mas esse já não é o nosso problema. Quanto à questão cultural nem vale a pena falar: basicamente não existe cultura em Braga. Parece uma cidade da periferia.
M: Por razões evidentes o PPM é dos que mais tem criticado o acordo de Maastricht. Finalmente, que perigos se vislumbra para Portugal? A integração na CEE foi um mau negócio?
MB: Convém aqui esclarecer determinados pontos. Em primeiro lugar não somos contra a integração de Portugal na CEE: se agora temos pontes e autoestradas das quais tanto se "gaba" o governo é graças a ela. Não podemos é confundir a unificação económica com a política,. Sobre o Tratado de Maastricht, há que dizê-lo sem rodeios, pouco sabemos e é essa desinformação que nos preocupa.
Por outro lado, e depois de uma interpretação atenta do texto é licito pensar que o acordo de Maastricht poderá fazer ressurgir nacionalismos latentes, isto é, criar atritos entre os vários países e entre as regiões de cada país. O problema da Europa é complexo e por isso não deveriam ser tomadas decisões tão importantes à revelia dos povos, é por isso que exigimos um referendo nacional.