Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

sexta-feira, 20 de novembro de 1992

EUROPA: O DECLÍNIO DOS LÍDERES; Artigo de Opinião de Manuel Beninger

Jornal "Semanário Minho"

EUROPA: O DECLÍNIO DOS LÍDERES
É curioso verificar o desassossego dos dirigentes políticos dos diversos países europeus e de Portugal, ao reagirem ao resultado do referendo francês como se a vitória tivesse sido do "não": ficaram inquietos, intranquilos, produzindo declarações atabalhoadas e actos descoordenados. Sentem-se mais derrotados do que vencedores. Estão amedrontados: aqui mesmo em Portugal, logo após o referendo francês, uma comissão de deputados, reunida para iniciar o processo de "adaptação" da nossa Constituição às "exigências" de Maastricht, resolveu por maioria que esses trabalhos seriam realizados à porta fechada.

No entanto, é de se louvar a posição assumida, ultimamente, pelo CDS sobre esta matéria, em contraste com uma tomada de posição menos feliz por parte de um dos seus antigos líderes, Diogo Freitas do Amaral. Contudo, não nos podemos esquecer dos programas eleitorais apresentados ao eleitorado por este partido, por exemplo, quando Lucas Pires defendia um sim perentório ao federalismo europeu, em contraste, por exemplo, com os apresentados pelo PPM, mormente por Miguel Esteves Cardoso, longe dos "lobis políticos" dos grandes partidos europeus, procurando ser aquele "espião" junto daquelas instâncias tão longínquas de Portugal.

O conteúdo da campanha e o resultado tangencial em França, dão mais um sinal, desta vez muito evidente, de um fenómeno político que se tem vindo a fazer sentir crescentemente por toda a Europa: existe um nítido divórcio entre eleitos e eleitores, um claro afastamento entre governantes e governados, grandes divergências separando os principais dirigentes partidários de cada vez maior número de filiados e adeptos dos respectivos partidos.

Isso, que tinha transparecido anteriormente nas eleições italianas, espanholas, inglesas, etc, ficou mais nítido após os debates na Dinamarca e em França e suas repercussões por toda a Europa.

Bem se tenta disfarçar o óbvio, com sábias análises sócio-demográficas dos votos e com intimidações acerca dos papões nacionalistas, etc.

Mas a verdade inexorável vai-se definindo nos seus contornos: nos países europeus da social-democracia/socialismo-democrático, os povos tendem a não confiar nos actuais dirigentes.

O pessoal político dirigente, da mesma extracção ideológica por toda a Europa, está instalado na área do poder há muitos anos. Têm procurado forçar a bipolarização partidária. A rotação democrática clara e nítida é cada vez menos frequente. A diversidade é cada vez menos tolerada pelo sistema, e as correntes de opinião minoritárias tendem a ser excluídas da vida política por sofisticados mecanismos eleitorais e outros.

Os dirigentes dos principais partidos, nos governos e nas oposições, entendem-se cada vez melhor entre si, divergindo apenas em cada vez menos pontos secundários e convergindo em cada vez mais pontos fundamentais - como seja no processo da "União Europeia".

Entretanto, o aprofundamento da cooperação e solidariedade entre os países europeus é algo de consensual e profundamente desejado e, verdadeiramente, nenhuma corrente de opinião significativa na Europa se mostra em absoluto contrária a esse objectivo.

O que está a ser posto em causa é o modo como tal processo tem sido conduzido e imposto.

Os intérpretes desse modo, e portanto protagonistas desse processo - os principais dirigentes políticos europeus - estão agora em desassossego porque começa a tornar-se claro que os povos que governam desejam profundamente não a interrupção do processo europeu, mas sim a sua recondução com novas ideias, diferentes métodos, outros partidos e instituições - o que implica OUTROS PROTAGONISTAS.

Manuel Beninger