Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

quinta-feira, 15 de julho de 2010

"Quero o PPM de volta ao Governo" (2)

Disse a este jornal que o PPM não apoiaria, para já, qualquer candidato à corrida a Belém. No entanto, o PPM Açores deu o seu apoio a Fernando Nobre. Quer clarificar a sua posição?

Sim. O PPM não decidiu, para já, apoiar qualquer candidatura presidencial. No entanto eu, em termos exclusivamente pessoais, anunciei, muito antes de passar a ser o Presidente do Partido, o apoio à candidatura do Dr. Fernando Nobre.

Este apoio é de natureza pessoal e não vincula o Partido nos Açores ou no resto do país.

Devo dizer que se já fosse Presidente do Partido, há data em que anunciei esse apoio, não teria, certamente, tomada essa posição, uma vez que este tipo de situações cria, inevitavelmente, equívocos. Agora, resta-me cumprir a palavra dada ao Dr. Fernando Nobre. Vejo nele um homem altruísta, um patriota e alguém desligado de obrigações partidárias.

Como monárquico defendo a existência de um Chefe de Estado hereditário, um árbitro isento, preparado e carismático – pelos valores históricos e nacionais que encarna – do sistema político. Como cidadão desta República decadente não me isento de escolher – dentro da mediocridade do sistema – a situação que melhor foge ao regime de tutela partidária (do PS ou do PSD) sobre a Chefia do Estado.

Um dos maiores princípios não escritos do PPM é que se extinguirá no momento em que o regime em Portugal voltar à monarquia. Concorda?

Sim. A principal razão da nossa existência, para além de um Programa partidário muito rico em causas nacionais, tem a ver com a defesa de um sistema constitucional monárquico à semelhança dos que existem em países tão desenvolvidos e estáveis como a Suécia, a Holanda, a Nova Zelândia, a Bélgica, a Grã-Bretanha, o Luxemburgo, o Canadá, a Espanha, a Austrália, a Dinamarca, a Noruega, o Japão e muitos outros.

Somos monárquicos que acreditamos que a alteração do nosso sistema de governo se deve fazer no âmbito da luta partidária e democrática.

Aliás, os republicanos fizeram o mesmo durante a nossa monarquia constitucional.

O Partido Republicano Português obteve várias vezes representação parlamentar e diversas figuras emblemáticas da I República, como o Afonso Costa ou o Manuel de Arriaga, integraram o Parlamento da Monarquia Constitucional Portuguesa.

O que se passou é que como nunca lograram ganhar nas urnas decidiram matar o Rei e provocar um golpe de Estado contra um Governo eleito democraticamente. A seguir o PRP criou um regime não democrático, em que através da coacção e do assassinato político logrou ganhar todas as eleições que se realizaram durante a I República (sendo que apenas votava 30 por cento da população masculina, algo confrangedor quando comparado com os 70 por cento da população masculina que votava na monarquia).

Em síntese, manter-nos-emos fiéis aos mecanismos democráticos e deixamos métodos como o assassinato político e a revolta armada para o cardápio comemorativo da República. Se viermos a ser novamente uma monarquia, o Partido Popular Monárquico extinguir-se-á ao contrário do que fez o Partido

Republicano Português que se dedicou o melhor do seu tempo a tentar extinguir a oposição política.

Os monárquicos em Portugal parecem divididos entre os apoiantes de D. Duarte e os detractores. Faz sentido? Deve o PPM participar nessa luta?

Não faz nenhum sentido e nós não participamos, nem promovemos, esse género de questões.

Para si, quais os valores que o partido defende e que mais nenhum, em Portugal, considera? O que me fará votar PPM?

Os nossos valores são, glosando o que disse em determinada altura o primeiro-ministro que temos a infelicidade de nos governar: ”Portugal, Portugal … Portugal”.

O Partido Popular Monárquico é o único partido que defende, do ponto de vista programático e estatutário, a criação de uma monarquia constitucional. Ou seja, uma alteração do regime político vigente e uma alternativa real para Portugal. Quando a situação económica e político-partidária do país entrou em colapso em 1926, a solução encontrada por alguns sectores foi um Golpe de Estado que deu origem à ditadura militar e ao Estado Novo. Por sua vez, o envelhecimento e a decadência do regime que sucedeu à I República teve como desenlace final o golpe militar de 1974.

Actualmente vivemos, novamente, uma situação de ruptura económica, social e política. O sistema político está arruinado pela lógica de facção e o triunfo da mediocridade dos carreiristas políticos. A situação orçamental do Estado é dramática, mas os agentes político-partidários estão reféns do sistema clientelar que criaram e demonstram total incapacidade de inverter o rumo dos acontecimentos. O sistema judicial está transformado num caos e é refém do sistema partidário vigente.

Nesta situação, algo tem de mudar antes que se instale a desordem, a bancarrota e o caos. Tudo precisa de começar de novo, de forma a extirpar os cancros instalados no corpo da nação. A solução não passa, nos nossos dias, por um pronunciamento militar. A solução passa pela regeneração do sistema político, através da criação de uma monarquia constitucional. Pelo surgimento e afirmação de novos partidos políticos imbuídos de um forte sentimento patriótico e libertos das clientelas tradicionais. Tudo isto arbitrado, com total isenção, por um Rei que seja fonte e garante da unidade da nação portuguesa. A restauração da monarquia portuguesa é a única válvula de escape que nos resta para regenerar o país. Não existe outra alternativa.

O PPM tem todas as condições para corporalizar uma alternativa real ao actual regime. Descrevemos, nesta entrevista, os nossos propósitos para o futuro, mas o nosso passado, enquanto partido de governo (1979-1983), não deixa dúvidas em relação à firmeza da nossa proposta política: foi nossa a iniciativa parlamentar de extinguir o Conselho da Revolução (1982) e o consequente início do trilho rumo a uma sociedade verdadeiramente pluralista e democrática, livre de tutelas político-militares de natureza marxista.