Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CRISES ou CRESCIMENTO? Artigo de Opinião de Sílvia Oliveira


Jornal “Diário do Minho” de 8 de Setembro, pág. 17

CRISES ou CRESCIMENTO?

Quando abordamos as memórias históricas surgem as crises, como as invasões francesas, entre 1808 e 1819, o domínio inglês que se lhe seguiu, a revolução liberal de 1820, que marcou o início de um novo ciclo da monarquia, a guerra civil de 1832, a revolta da Maria da Fonte em 1846, o ultimato inglês e a depressão económica da década de 90 do séc. XIX, o regicídio de 1908, implantação da República em 1910, o tumulto dos vários governos republicanos, a participação na Primeira Guerra Mundial, com soldados mortos e famílias debeladas, a falta de mantimentos na Segunda Guerra Mundial, o golpe de 28 de Maio de 1926 e o Estado Novo, a guerra nas colónias com mais soldados mortos e famílias destroçadas. Crises e mais crises!
Presenciando o crescimento do homem, verificamos que, nos vários ciclos da vida, infância, adolescência, maturidade e velhice, despontam crises que surgem pelas mais variadas razões: problemas familiares, insucesso escolar, conflitos com o grupo de pares ou com o(a) parceiro(a), doença, acidente, sexualidade, entre outros. Nestas crises, vive-se confuso. Escolher é o grande dilema. Gera-se, assim, um conflito interior em que a pessoa se sente incapaz de ultrapassar barreiras, perde interesse por tudo, família, amigos, trabalho. Prefere ficar isolada, alterando com isso a forma como age e pensa, procurando só encontrar culpados para justificar a “tempestade emocional” que se apossou dela e a tornou vazia e vítima. A sua incapacidade de obedecer, de se submeter a si próprio e de se movimentar em direcção à mudança torna-se a forma mais fácil de se manter num mundo de pura fantasia, onde é mais fácil ser egoísta e irresponsável do que mudar e crescer. Crises!
Quando observamos o mundo, surgem repetidamente expressões da(s) crise(s), crise económica, social e dos valores, muitas vezes sem chegarmos a perceber e alcançar o seu verdadeiro significado. Os jornais, por exemplo, em letras bem gordas, fazem o retrato do país e do mundo, sem matizes e contrastes, em que tudo parece urgente, mesmo sem o ser! Temas como a guerra e a violência, os desencontros da política e as oscilações da economia, a globalização e a preocupação ambiental estão na ordem do dia.
Neste quadro, também a nossa congénita perturbação de lidar com a temporalidade e a nossa atávica resistência à mudança, volta e meia, evocam sucessivas crises com o mesmo tom apocalíptico com que outros invocam o devir. E tudo isto porque se insiste em recusar a perda de um qualquer valor, situando, por isso, o discurso entre a retórica e a poética, entre o saudosismo nostálgico e a crença de se ter vivido um momento de segurança e bem-estar que, chegado ao fim, se compadece com o prazer da crítica, como forma de vida moribunda. O que nos leva a um disfarçado “mal-dizer” que mais não é do que uma tendência narcísica, onde nos julgamos poderosos, únicos, sem qualquer definição de culpa e como uma espécie de desistência. Tudo se aceita passivamente, de forma preguiçosa e dogmática. Nem falta a indiferença e o derrotismo. A ordem parece apontar para uma desordem continuada. Amamos com a cabeça, pensamos com o coração, agimos electronicamente e vivemos num tempo e espaço global. Estamos em crise!
Resta-nos apenas o tempo para que cada um de nós aprenda a ler as situações e a avançar na bruma confusa dos acontecimentos que a História nos vai reservando.

Sílvia Oliveira
Deputada Municipal pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga