As crianças pertencem à “geração dos computadores e o ato de clicar tornou-se numa nova forma de interagir com o mundo. Seymour Papert, em A Família em rede (Lisboa, Relógio de Água Editores,1997) afirma mesmo que existe um apaixonado caso de amor entre as crianças e os computadores. Os seus olhos brilham com o desejo de se apropriarem deles, sabendo que lhes pertencem, evidenciando-se, assim, uma relação afetiva com a máquina e uma grande “plasticidade mental” ou cognitiva, capaz de anular bloqueios e angústias na interação com o “outro”.
Todos nós já observámos que o computador é visto pelos mais novos com curiosidade, naturalidade e muito entusiasmo, notando-se neles uma grande facilidade em trabalhar com este instrumento, facto que contrasta com as muitas dificuldades evidenciadas pelos adultos.
De facto, todas as pessoas, independentemente da idade, são atraídas pelo que fascina, mas também pelo que intriga e até assusta, o que se verifica na relação da criança com o computador. Apesar de ele já ser vulgar na sua vida, não se apresenta neutro, conseguindo provocar o pensamento, intervindo mesmo na forma de pensar. O computador fala, ganha jogos, sabe de novas coisas, etc.. Faz com que as crianças sejam confrontadas com uma “espécie de vida”, que as leva a pensar, mas não a sentir, a aprender mas não a escolher, a interagir mas não a desenvolver relações com outras pessoas. Verifica-se, assim, que o computador na posse da criança favorece o individualismo e o isolamento, o que não acontece no estabelecimento de laços e na cooperação espontânea com outras crianças – excelente elemento socializador – ou com o acompanhamento conhecedor do adulto. Este, sendo possuidor de uma vertente pedagógica, para além da simples questão técnica, consegue que a criança aprenda escrevendo, falando, desenhando, comunicando, investigando, criando e interagindo, transformando, com essa ação consciente e programada, simples “ilhas isoladas” em “comunicadores eficazes” que vão desde a aprendizagem interativa a complexos trabalhos em grupo.
Daqui se conclui que é fundamental que os computadores e todos os seus sistemas digitais estejam contextualizados na educação formal, não formal e informal, como recurso pedagógico aberto a novas formas de interagir, aproveitando-se, assim, as enormes potencialidades de socialização e aprendizagem disponibilizadas pelas ferramentas da sociedade da informação.
Sílvia Oliveira
deputada PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal “Diário do Minho” de 17 de Março, pág. 21
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