Quando em 1960 começou a guerra colonial, apareceram a público
movimentos angolanos a reivindicar a independência (MPLA, FNLA e UNITA).
Igualmente, em Cabinda surgiram vários movimentos, que nada tinham a ver com os
angolanos, a pretender a total independência do território Cabinda. Em 1963, esses
movimentos fundiram-se num único, a FLEC (Frente de Libertação do Enclave de
Cabinda), chefiado por Luís Ranque Franque, que representava de facto toda a
população. Em 1974, na altura do 25 de Abril, esse movimento era chefiado por
Henrique Tiago N´Zita. Como já se referiu, os movimentos que pretendiam a
independência de Angola nada tinham a ver com Cabinda, não tendo lá qualquer
delegação nem qualquer tipo de apoiantes.
Quando se iniciou a desastrada descolonização, após a queda da Segunda
República do Estado Novo, verificou-se que a mesma já tinha sido ultimada nas
costas dos portugueses, fora da mesa das negociações, por alguns dos militares revolucionários
que, dando cobertura às exigências da internacional comunista, não defenderam os
interesses dos povos coloniais, mas sim os apetites das grandes potências,
nomeadamente da União Soviética. E não pensem que estou a dar qualquer
novidade. Estou a revelar o que todos sabem. Basta lerem um discurso significativo
do General Galvão de Melo na Primeira Assembleia Constituinte, bem como os bem
documentados livros de Almeida Santos, “Quase Memórias”, para chegarem a essa
conclusão. E tais traidores dos interesses portugueses e dos povos que se
pretendia libertar, tiveram o descaramento de não chamar para a mesa das
negociações a FLEC, única representante da População de Cabinda, resolvendo os
problemas que lhe diziam respeito à sua revelia, com os três movimentos de
Angola, que nada tinham com o assunto. Foi então declarado que Cabinda era
parte integrante e indivisível de Angola. Nem mais…! Os elementos da delegação
portuguesa que não concordaram com a situação, que estava a ser imposta e não concertada
por todas as partes interessadas, naturalmente por prosaico medo físico, não se
opuseram a esta tratantada, dizendo um necessário e rotundo não e batendo energicamente
o punho na mesa das negociações. E com essa posição pusilânime dos representantes
portugueses, a liberdade que o Povo Cabinda vinha auferindo de facto, foi lhe criminosamente
roubada. As desculpas dadas na altura para deitar areia nos olhos da esmagadora
maioria dos portugueses não servem, como foi o argumento de que tudo estava já tratado
e nada havia a fazer. Tudo muito bonito. Não havia exército para fazer cumprir o
que quer que fosse, é bem verdade. Na realidade, o que dele restava, gravemente
contaminado politicamente, estava manietado pelas instruções da internacional
comunista e até, em alguns casos, foram entregues as próprias armas ao inimigo
do passado, antes de qualquer negociação oficial. Uma vergonha. Apesar de tal, nada
deviam ter assinado, fossem qual fossem as desculpas. Assinando, hipotecaram a
liberdade de toda uma população que tinha convivido fraternalmente com os
portugueses e, para cúmulo, tinha confiado no Estado Português e no conteúdo do
Tratado de Simulambuco, bem como nos princípios aceites pelo mundo civilizado
que queria a emancipação colonial. Uma infâmia. Esses intelectuais de pacotilha
nem sequer se lembraram do determinado na Carta das Nações Unidas, no seu Art.º
73, que estabelecia o compromisso de serem tomadas em consideração as
aspirações políticas das populações. Aliás o Decreto-lei nº 203/74 de 15 de
Maio, determinava claramente que os Territórios do Ultramar Português deviam
poder decidir sobre o seu futuro, respeitando-se o princípio da
autodeterminação. Eu sei que os negociadores
podem dizer que não queriam cumprir a letra de uma Constituição elaborada
durante o regime que tinha sido derrubado. Mas, até à entrada em vigor de uma nova
Constituição, era a de 1933 que tinha que ser aplicada nos casos duvidosos. Ora,
nas Garantias Fundamentais, é citada Cabinda de maneira totalmente distinta de
cada uma das outras parcelas coloniais, nomeadamente de Angola. Mas perdurou a
vontade de Rosa Coutinho que infelizmente não chegou a ser julgado por um
Tribunal Internacional, porque entretanto morreu, não respondendo neste mundo
pelos actos contra os direitos humanos que andou a planear e a perpetrar contra
populações indefesas. Mas não falemos do lastimável almirante.
Que fazer perante a situação de facto existente e que tirou a liberdade
a toda uma população? Como proceder agora para tentar conquistar essa
liberdade? A actual situação envergonha toda a comunidade portuguesa e
enxovalha a nossa história, tirando a respeitabilidade e a credibilidade a
Portugal. Assim sendo, teremos que reagir como fizemos com Timor até se obter a
sua independência. Teremos que pressionar a opinião pública mundial e os
organismos internacionais até os mesmos abrirem as portas ao desejo de Cabinda
de se separar politicamente de Angola. Há alguns anos, juntamente com o
escritor e filósofo Henrique Barrilaro Ruas e outros meus companheiros de
actividades políticas, tivemos um encontro e uma profunda e discreta conversa
com responsáveis da FLEC, que clandestinamente nos procuraram, pois os mesmos
tinham medo de serem suprimidos mesmo em território português. Lamentaram
veementemente a atitude portuguesa na descolonização, que tinha traído os seu
irmãos de Cabinda. Andavam fugidos para não serem abatidos e a sua voz reduzida
ao silêncio sepulcral, pois era esse o fim esperado por todos os intelectuais
que teimavam em não ultrapassar a fronteira ou que, mesmo fora dela,
protestavam publicamente contra a subordinação do seu território a Angola. A População
Cabinda ainda está apegada ao conteúdo do Tratado de Simulambuco, vendo nele a
sua saída para a Liberdade a que tem direito, lamentando a injustiça de que foi
vítima e frisando a deslealdade e a falta de palavra dos seus amigos
portugueses. Cabinda, após a independência de Angola, foi invadida por militares
cubanos que mataram a torto e a direito, roubaram o que puderam e violentaram
as suas mulheres. Perante estas atrocidades, os Estados Unidos, tão lestos no
passado a prometer a liberdade às populações das colónias portuguesas, fizeram
e fazem agora orelhas moucas às queixas permanentes dos Cabindas. Estão calados
de uma forma ignóbil e torpe por causa das jazidas de petróleo e de diamantes
que já estão em exploração e pelas reservas de fosfatos e de manganês que se
sabe ali existirem e a que têm acesso garantido pelo governo Angolano. A
liberdade de Cabinda que se tramasse…! Quando revelei a conversa havida ao meu
amigo Zeca Afonso, numa animada discussão sobre as virtudes da descolonização,
nem queria acreditar no que estava a ouvir. Bem meditou nesta situação que
ultrapassou tudo o que achava possível acontecer com os antigos territórios
coloniais portugueses. Para Ele, a única solução era abalarmos como voluntários
para as matas de Cabinda e juntarmo-nos de armas na mão aos que lutam pela
Santa Liberdade contra o exército cubano e angolano. E dava o exemplo do bem
pouco motivador e desastrado ensaio de Guevara no Congo. Mas, o bom senso,
nestas matérias, era difícil meter na cabeça do poeta Zeca Afonso, pois além de
morrermos como verdadeiros homens, nada de útil iríamos fazer em prol daquela
gente. A solução eficiente estava no esclarecimento da Opinião Pública
Portuguesa, libertando-a dos pruridos em relação ao actual governo Angolano e do
temor reverencial que cada um de nós pudesse ter..!. Entretanto, a doença
começou a minar Zeca Afonso e a sua comparticipação no sonho da restauração da
verdadeira liberdade africana em Cabinda desvaneceu-se e esfumou-se como a sua
própria vida. Sem essa mola romântica e com o trabalho e a rotina diários, os
meus ideais de cavaleiro andante em defesa do Povo de Cabinda foram para um
canto do esquecimento. É triste, mas fui-me acomodando à situação, esquecendo as
minhas obrigações. Porém, as comemorações dos vinte e cinco anos do
desaparecimento físico de Zeca Afonso, soaram como um despertador na minha
consciência e fizeram-me cair em mim com o remorso por nada ter feito em prol
da causa de Cabinda. As nossas animadas conversas e as intenções generosas,
congeminadas na altura, tinham ido para os Quintos do Inferno do Egoísmo. Para
cúmulo e para agravar o meu mal estar, houve a coincidência de um encontro
fortuito com um angolano de Cabinda, desesperado com a infelicidade dos seus e com
o desgraçado panorama da sua terra escravizada. Tive vergonha do meu silêncio.
Nada fiz após o desaparecimento dos meus amigos Henrique Barrilaro Ruas e Zeca
Afonso. Perante o comportamento interesseiro americano na conjuntura africana,
resta a força da opinião pública portuguesa a esgrimir as armas diplomáticas
que estão ao nosso alcance, isto é, exigir que os nossos responsáveis, para se redimirem
da situação criada pela descolonização, através das organizações internacionais,
consigam que seja conhecida a vontade da população de Cabinda e a situação
clamorosamente injusta que está a viver. Só desse modo poderemos lavar a nossa
testada, suja pela falsa descolonização que demos àquela infeliz gente. A única
solução possível para acabar com este drama, será a realização de um Referendo organizado
em Cabinda, devidamente controlado pela ONU, com a interferência inevitável da
OUA. Nesse referendo, deviam poder participar todos os nascidos em Cabinda,
mesmo os que neste momento se encontram refugiados noutros países. A comunidade
Internacional terá que possibilitar ao Povo Cabinda dar resposta livre à
simples questão :- Integração em Angola: SIM ou NÃO.
António Moniz Palme - 2012
Não vou falar de política(partidária)nem aproveitamentos politicos, vou apenas focar três ou quatro pontos, que acho fundamentais para se perceber primeiro quem sou, para depois tirarem algumas ilações.
ResponderEliminar- Prestei serviço militar de junho 1971 a Novembro de 1974.
- Tenho uma caderneta militar que diz ..«nos termos... é MOBILIZADO....para ANGOLA».
- ANGOLA era(foi)CABINDA,uma comissão de 27 meses, nas matas do Maiombe. Único adversário em armas MPLA.
- Sou possuidor de um Passaporte, já caducado naturalmente, emitido pelo GOVERNO GERAL DE ANGOLA - Governo do Distrito de Cabinda, com o nº777/74 de 21/08/74, que guardo por questões
sentimentais.
- Tenho Cabinda no coração e o seu povo, culto(dentro de certos parametros) e meigo, a sua má fortuna, doi-me.
- DA FLEC conheci alguns dos seus elementos e a sua Sede na cidade de Cabinda, mas só depois do 25 de Abril de 74,que foi quando se instalaram.
- Ninguém gostaria tanto quanto eu de ver, aquele povo que adoro, ser mais feliz e dono da sua vida e dos bens que lhe usurparam e continuam a usurpar. Mas não estou a ver a cáfila do MPLA , a abrir mão do petróleo, do ouro e das inumeras riquezas daquele território, utilizando como argumento que foram os únicos a lutar pela independência, do mesmo mais de 10 anos, naquela que era a sua 2ª Região Militar.
- Por isso os principais culpados, não foram aqueles que fizeram a descolonização, mas os OUTROS, os OUTROS, meu amigo, e muito antes.
-Por isso Cabinda só "terá" a sua independência quando já não houver petróleo, ouro, diamantes(sim já se fazem prospecções), madeira, fosfatos, etç,etç..
- Lutem pelo direito à autodeterminação daquele território e para que fique lá uma boa parte daquilo que produz. Deixem-se de demagogia.
Antonio Oliveira