quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A chatice de ser cristão


A França está em ebulição por causa de um projecto de lei que Holland pretende ver vingado: o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo.
No Domingo passado, dia 13 de Janeiro, mais de um milhão de cidadãos desfilaram pelas ruas da capital francesa, para mostrar a sua indignação contra a possibilidade de tal lei se vier a concretizar. Desfilaram famílias inteiras. Protestaram muçulmanos e judeus  Cristãos de várias tendências. Muitas centenas de católicos, leigos e presbíteros e até Bispos.
Desde há meses que a maioria dos Bispos franceses, a começar pelo Cardeal de Paris, tomaram posição. Clara. Sem subterfúgios. Alertando a sociedade para o que tal proposta poderá significar em termos sociais e culturais, pela negação do funcionamento da própria natureza.
O Grande Rabino de França também tomou posição clara e de forte oposição.
Centenas de eleitos, de cidadãos e de movimentos também assumiram a sua oposição.
A França mexeu. Indignada.
Mais de um milhão de cidadãos a protestar ( tal número não se  via na rua há mais de trinta anos!) e tal manifestação não mereceu qualquer destaque nos media portugueses! Mas a manifestação existiu e foi grandiosa!
Pela primeira vez, desde há muitas décadas, os Bispos franceses tomaram posição individualmente, não se deixando diluir numa qualquer posição anódina da Conferência Episcopal! Cada um quis, explicitamente, chamar os seus diocesanos à acção. Deu força esta atitude.
… E eu penso como, entre nós, se reagiu!...
Não defendo, obviamente, a guerra contra ninguém. Nem contra as suas opções individuais. Defendo e defenderei, sem descanso o funcionamento da natureza. Também no casamento.
“ A família, fundada pela união mais ou menos durável, mas socialmente aprovada, de dois indivíduos de sexos diferentes que fundam um casal, procriam e educam os filhos, aparece como um fenómeno praticamente universal, presente em todas as sociedades” ( Claide Lévi-Strauss,” Les stuctures élémentaires de la parenté,1948,p. 133). De facto, “ a sociedade não inventou “ex nihilo” a família, na realidade é-lhe anterior” ( Academia Católica Francesa).
Infelizmente, a nossa comunicação social sempre tão solícita a informar-nos de manifestações de minorias e de activistas das chamadas causas fracturantes”, calou esta grande manifestação que, como já referi, juntou mais de um milhão de cidadãos franceses que querem o respeito da natureza humana na fundação da família. O meu protesto de nada serve. Porém, o meu silêncio seria cúmplice ( diz o povo que ”quem cala, consente”) e, por isso, aqui fica o meu protesto. Um protesto de um cidadão, atento ao mundo em que vive. Um protesto, também, de um cristão que sente a obrigação de não se calar. De facto, o silêncio, o meu, seria mais cómodo. Mas a minha consciência cristã impele-me a não me calar. Enfim, dou graças a Deus por ser cristão, ainda que seja, muitas vezes, uma grande chatice ser cristão, pois tal condição obriga-me a não me calar face aos atropelos que atentam contra a dignidade da Pessoa Humana e dos valores não negociáveis, tal como a constituição da família.

Carlos Aguiar Gomes  

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