A vida e a morte de D. Afonso VI
(1643-1683) são levadas à cena a partir de sexta-feira, pelo Utopia Teatro, no
Palácio da Vila, em Sintra, cativeiro do monarca durante nove anos.
A peça, intitulada "Conspiração no Palácio", é encenada
por Nuno Vicente, autor da dramaturgia, que explicou à Lusa que dentro da trama
dramatúrgica é incluída a farsa contemporânea da conspiração "O Fidalgo
Aprendiz", de Francisco Manuel de Melo.
Referindo-se à ação dramática, Nuno Vicente sublinhou que "a
cronologia dos acontecimentos foi escrupulosamente respeitada", tendo sido
"essencial" para a construção desta peça a biografia de D. Afonso VI,
escrita por Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, recentemente editada pelo
Círculo de Leitores.
"Esta biografia que foi o meu livro de cabeceira, é um trabalho
delicioso, em que se encaixaram todos os factos, e os historiadores já apelam a
que o público leitor imagine aquilo a acontecer, com um teatro pleno de vida, e
foi esse o mote: reabilitar a memória de D. Afonso VI", afirmou.
"Para a construção dos diálogos, recorreu-se sempre que possível
aos documentos históricos disponíveis, em particular o conhecido 'Processo Do
Rei'". "Claro que reproduzimos um só lado da história, o olhar dos
mais fortes, dos vitoriosos", disse Nuno Vicente, que reconheceu ser
"um olhar muito manipulador".
O encenador acrescentou que se procurou "o sensível equilíbrio
entre o discurso de época e, ao mesmo tempo, uma linguagem cujo sentido seja
entendido pelo público".
A peça decorre dentro do palácio, desenvolvendo-se por três espaços -- a
sala dos archeiros, o pátio central e a sala dos cisnes -, "sendo os
espetadores recebidos como convidados da rainha e do infante D. Pedro".
"De certa forma, estamos a reativar uma tradição que havia no
palácio, pois, na sala dos cisnes, muitos autos e farsas foram representados
perante a família real", disse.
"É este palácio que está na raiz de tudo, não seria possível criar
uma peça sem tirar partido da memória do palácio, e tendo como prioridade o
brilho deste monumento que é património da humanidade", realçou Nuno
Vicente.
Referindo-se à ação dramatúrgica, o encenador disse que "os
espetadores são envolvidos nesta conspiração palaciana, liderada pela rainha D.
Luísa de Gusmão e o seu segundo filho, que se coroaria D. Pedro II".
Por outro lado, "traçamos alguns paralelismos com a situação atual,
que esperamos o espetador perceba", disse o encenador.
Quando D. João IV morreu, D. Afonso era ainda menor, tendo sido a rainha
quem assumiu a regência, tanto mais que o príncipe evidenciava alguns
desequilíbrios, que não o impediam de assumir o trono.
Nuno Vicente referiu que, enquanto "personagem trágica, qual 'Rei
Lear' à portuguesa, D. Afonso VI foi preterido pela mãe, traído pela mulher e
levado a tribunal pelo irmão".
O elenco de "Conspiração no Palácio" é constituído por Alfredo
Pereira, Carla Trindade, Cirila Bossuet, Flávia Lopes, Flávio Tomé, Inês Goes,
João Mais, Rui Peralta, Sandra Canelas, Marisa Matos, Miguel Moisés, Nuno
Freitas e Tiago Matias.
As coreografias das danças que integram a peça, que estará em cena até
11 de agosto, são executadas pelos bailarinos da Associação Danças com História.
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