Sim, sou iraquiano. Pelo meu Baptismo que
me tornei irmão de todos os baptizados. Também dos cristãos iraquianos. Dos
perseguidos, sobretudo. E hoje, dos cristãos iraquianos.
Neste momento histórico, de verdadeiro
genocídio, de limpeza étnica, sinto-me profundamente agredido. Violentado até à
medula. Por isso, não me posso calar e ficar indiferente, nem posso compreender
os silêncios dos políticos e dos cristãos portugueses. Queria usar o “ nun”, a
letra árabe que é a inicial de nazarenos ( cristãos em árabe), na testa, tal
como são marcadas as casas dos cristãos do Iraque para serem saqueadas ou como
os judeus eram obrigados a usar pelos nazis e que o Rei da Dinamarca usou em
público como sinal da maior e mais profunda solidariedade face à perseguição
dos judeus.
Sim, não me posso calar. Como poderia
silenciar mais este crime contra a humanidade? Como calar-me quando o silêncio
cúmplice dos meus concidadãos me ensurdece?
E posso, podemos, fazer tanto perante
tamanha afronta à dignidade destes nossos
irmãos na Fé! Quem não pode, ao menos ,e sobretudo, rezar? Quem não pode
convidar a sua comunidade a rezar?
Uma Igreja que não sofre com os seus
irmãos perseguidos denota a profundíssima crise em que mergulhou. É este o
retrato da minha Igreja. Ou de parte significativa dela. Não vale a pena perder
tempo a encontrar desculpas para esta indiferença silenciosa. E criminosa. O
nosso silêncio é parceiro dos bandidos fanáticos que matam ou espoliam os
cristãos do Iraque. Ou doutro país qualquer.
Igreja, de que sou “ pedra viva”, como
estás a responder ao apelo que em Braga, há já uns anos, nos lançou o Patriarca
dos Caldeus, Mons. Luís Rafael Sako: “ Não se esqueçam de nós! Somos vossos
irmãos!”?
Sim, hoje e há meses, que sou iraquiano.
Cristão iraquiano.
Carlos Aguiar Gomes
c.a.aguiar.gomes@gmail.com
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