“QUERO O PPM DE VOLTA AO GOVERNO”
Paulo Estêvão viu cair-lhe o PPM no colo depois da saída inexplicada de Nuno Câmara Pereira. A o Diabo, diz que esta disponível para assumir o partido, explica o que quer e volta a dar ambição aos monárquicos.
Assumiu o PPM depois da súbita saída de Nuno da Câmara Pereira. Como encontrou o partido?
Bom, devo dizer que o Partido estava – e vai continuar a estar – em nítida recuperação em termos de organização e de número de militantes.
Mesmo politicamente, somámos recentemente alguns êxitos políticos importantes como a eleição de uma Representação Parlamentar na Região Autónoma dos Açores ou a constituição de grupos municipais em concelhos tão importantes como Lisboa, Braga, Coimbra, Sintra ou Odivelas, só para citar alguns casos mais emblemáticos. Em locais tão distantes como a ilha do Corvo, o PPM hegemoniza totalmente a representação da oposição, pois, para além do PPM, só o PS (que é maioritário) é que possui representação na respectiva Assembleia Municipal.
Mas, como é evidente, tudo isto não chega. A minha ambição é voltar a colocar o PPM onde ele já esteve: no Governo e no Parlamento nacionais.
Em Outubro escolhe-se novo líder. Deseja assumir uma candidatura?
Sou deputado no Parlamento da Região Autónoma dos Açores.
Isto significa que sou o único dirigente do PPM que estou a tempo inteiro na actividade política. Por outro lado, sou dirigente do partido há cerca de 10 anos, sendo que desempenhei o cargo de 1.º Vice-Presidente nos últimos cinco anos.
Conheço muito bem o partido e sou, porventura, o político do partido como mais sucesso eleitoral, nos últimos anos.
Este conjunto de factores dá-me todas as condições para exercer a liderança do meu partido, assim os militantes o desejem. Assumo, por isso, que estou disponível para assumir a candidatura à liderança do partido. Estou absolutamente convencido que conseguirei repetir, no território continental, o sucesso que tive nos Açores e, desse modo, colocar o PPM no Parlamento e no Governo nacionais.
Por feitio pessoal necessito permanentemente de novos desafios, de quebrar dificuldades e de superar registos. O PPM não possui um Grupo Parlamentar próprio na Assembleia da República desde 1983. Reposicionar o PPM neste patamar é, por isso, um desafio muito aliciante.
O PPM esteve posicionado ao lado do CDS e PSD nos anos 70 e 80, depois passou a assumir um ideário ecologista, mais tarde colou-se a um registo de debate de regime e, por fim, nos últimos anos, correu com o PSD outra vez para dois lugares na Assembleia. Na sua opinião, o PPM tem matriz ideológica? Se sim, qual?
As origens do PPM remontam a 1957, enquanto coligação política de sectores monárquicos activos na oposição ao Estado Novo. Em 1971, o Movimento Popular Monárquico, a Liga Popular Monárquica e a Renovação Portuguesa formaram a Convergência Monárquica. Finalmente, em Maio de
Nos últimos 36 anos de existência formal, o PPM cimentou uma matriz ideológica bem definida. Somos, em primeiro lugar, monárquicos. Isto significa que defendemos a existência de um sistema de governo monárquico, sufragado constitucionalmente pelo Povo Português. Ser monárquico significa, para nós, construir um projecto nacional unificado, protegido e constantemente promovido por um monarca cuja principal função será unir os portugueses e lembrar-lhes que todos juntos constituímos uma grande nação com nove séculos de História e um impacto tremendo na História Universal. Somos, por isso, intrinsecamente patriotas, defensores da nossa tradição humanista e moderados nas paixões partidárias.
Em termos económicos, defendemos a propriedade individual e o sistema de mercado livre, sendo que não abdicamos do controlo directo ou indirecto dos sectores estratégicos da economia nacional. Defendemos a revalorização do sector agrícola, pois preocupa-nos a nossa dramática dependência alimentar em relação ao exterior. Queremos centrar a nossa estratégia de desenvolvimento na exploração dos importantíssimos recursos que temos à nossa disposição no nosso imenso Mar Territorial (o 8.º maior do mundo).
Finalmente, no âmbito da União Europeia, opomo-nos à intensificação do processo federal europeu. Defendemos a confederação de povos europeus livres em detrimento de uma UE assimetricamente federal e hegemonizada pelos grandes países europeus.
O País passa por um momento financeiro e económico difícil. Na sua opinião, seria possível seguir outro caminho do que aquele que PS e PSD defendem – mais impostos e menos gastos públicos?
A conjuntura que enfrentamos, fruto de décadas de desperdício de dinheiro em estratégias incorrectas de desenvolvimento do País e da tomada de assalto do Estado pelos diversos interesses partidários, deixou o País financeiramente de rastos. A crise internacional apenas tornou mais visível a dramática situação em que estávamos a deixar as futuras gerações de portugueses.
Neste sentido, defendemos uma terapia de choque: uma redução, em grande escala, da despesa pública. O PS, por motivos eleitoralistas, não consegue – nem quer – implementar uma redução drástica da despesa pública. Limita-se a tentar “aguentar” a situação, tendo como única perspectiva de futuro a permanência no poder. Nesse sentido, também sobe os impostos para tentar manter os níveis de despesa pública de que necessita para controlar a horda de descamisados que constitui o essencial do seu apoio eleitoral.
O agravamento dos impostos apenas afunila o crescimento económico e por isso não é solução. A solução que defendemos passa por “cortar a direito” na despesa pública: fim dos Institutos públicos, desmantelamento das empresas municipais, contenção draconiana dos privilégios da classe médica, racionalização do sistema educativo, desmantelamento da imensa frota automóvel do Estado e dos municípios, extinção dos mecanismos de acumulação de reformas dos políticos e gestores públicos, o fim dos salários de escândalo dos gestores públicos, revitalização da Justiça portuguesa, revisão total das políticas sociais de forma a combater a burla e o absentismo laboral, etc.
Concorda com o Rendimento Social de Inserção?
Concordo com a existência de mecanismos de apoio social, mas estes têm de ser temporários, eficazes, imunes à burla e retroactivos em termos sociais. Deixar cair uma grande parte da população em situações abaixo da subsistência – tal como sucede na tremendamente desequilibrada sociedade brasileira – não é solução. No entanto, o actual RSI é um autêntico escândalo em termos de fraude e enquanto mecanismo de fomento do absentismo das populações que dele beneficiam. Muitos dos que o recebem vêem-no como um direito sem contrapartidas e quem o paga vê-o como um dever sem direitos (de fiscalizar, de esperar a retribuição pelo esforço realizado em prol dos outros). Para mais, é evidente que, dentro de pouco tempo, o país deixará de estar em condições de continuar a realizar este esforço financeiro. Por tudo isto, defendo a imediata e drástica reforma do RSI.