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Manuel Beninger

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A monarquia europeia, um modelo invejável?


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A monarquia está atualmente presente em uma dúzia de países europeus, mas até que ponto é que o papel dos reis e das rainhas é relevante? Será justificável decapitar estas instituições?
Stéphane Bern, jornalista perito em assuntos da monarquia, responde a esta e outras perguntas, colocadas pelos telespectadores.
Owen Brown, Bélgica: Gostava de saber para que serve um rei?
Stéphane Bern: “Pode até parecer decorativo, mas um rei é como uma pedra angular. Rebentamos a pedra e toda a estrutura entra em colapso. De certa forma, é o cimento de uma nação, é um embaixador, um símbolo nacional que promove a união. É como se existisse um árbitro. O árbitro não pode ser o capitão de uma das duas equipas. Julgo que os adeptos de futebol compreendem bem a metáfora.”
Alex Taylor, Euronews: Mas há nações que passam bem sem reis, como o seu país Stéphane.
Stéphane Bern: “Se se passasse bem não teríamos no centro do nosso debate a questão da identidade. A nível partidário pode haver uma cisão ao mais alto nível do Estado. Penso que é preciso diferenciar as coisas. Há o simbolismo de uma nação e de um Estado e ao mesmo tempo a vida de um Governo e alternância. Percebemo-lo em Espanha, na Grã-Bretanha, Bélgica, funciona bastante bem. O objetivo é manter a unidade nacional e preservar a identidade no exterior. Vemos, por exemplo, que os reis se converteram em embaixadores, caixeiros-viajantes, principalmente em período de crise. Fazem as malas e partem a vender o produto nacional no mundo. Abrem as portas ao comércio, porque se converteram de certa forma em caixeiros-viajantes de luxo.
Antoine, Lyon, França: Consegue explicar porque é que as pessoas que vivem em países sem monarquia se sentem fascinadas pelas nações que a conservam?
Alex Taylor, Euronews: É verdade que em vários países, a França incluída, as pessoas se sentem fascinadas com o que passa, por exemplo, no Reino Unido. Porquê?
Stéphane Bern: “Há duas razões. Por um lado julgo que há uma espécie de complexo, um fenómeno de culpabilização, secreto sem dúvida, pela decapitação do nosso rei. Ao mesmo tempo surge o fascínio.”
Alex Taylor, Euronews: Ainda?
Stéphane Bern: “Não tenho sentimentos de culpa, mas consigo entender. E por isso pedimos ao nosso chefe de Estado que esteja à altura da rainha de Inglaterra ou de David Cameron, o primeiro-ministro. É muito complicado. Existe uma esquizofrenia permanente, mas é verdade o que dizia o general De Gaulle, que ‘os franceses têm o gosto dos príncipes, mas procuram-no sempre no estrangeiro’. Ao mesmo tempo, os países que têm uma monarquia são sempre um pouco criticados porque existe uma visão de notário, principalmente em contexto de crise, existe uma visão de contabilista ao estilo de ‘Quanto custa uma monarquia?’ É preciso dizer que custa três vezes menos do que uma República porque não há eleições presidenciais e poderia ser cinco vezes mais, porque existe o turismo e todos os contratos comerciais de que falei, que se firmam graças à presença de um monarca que garante uma larga duração destes contratos.”
Inma, Espanha: Porque é que os países com um rei e uma rainha são geralmente demasiado “pró-monárquicos”. As críticas na imprensa parecem ser pouco toleradas. Há uma censura?
Stéphane Bern: “Pelo contrário, não há qualquer censura. Assistimos, por exemplo, em Espanha, onde os catalães queimaram por vezes efígies reais e a crítica continua a existir. Também o percebemos no episódio da caça que envolveu o rei de Espanha. O rei foi obrigado – o que nunca acontece – um chefe de Estado ir à televisão pedir desculpa ao povo espanhol por uma falta de gosto, uma falta política. Mas ele também fez coisas formidáveis durante o reinado e foi pedir desculpa por uma coisa que o culpavam. Não só julgo que a crítica é muito fácil, como não se dúvida em fazê-lo porque não se pode entrar no jogo da resposta. Os reis e as rainhas da Europa não respondem e eu defendo-os porque penso que é demasiado fácil atacá-los constantemente, a um poder que é simbólico. Não é um poder político, é um poder simbólico, um poder moral. É preciso um poder simbólico que garanta o respeito de todos os cidadãos. Vou colocar uma questão. Porque é que as monarquias europeias continuam a ser uma ponta de lança da modernidade? Se nos debruçarmos sobre as monarquias escandinava ou britânica constatamos que continuam à frente de países como a França na evolução dos costumes, sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, numa série de questões sociais. Todas as monarquias estão à frente das repúblicas. Curioso, não?”
Wes, Reino Unido: Vi recentemente nas notícias que as famílias reais espanhola e sueca tiveram ambas problemas com a lei. Gostaria de saber se isso terá impacto no apoio público?
Alex Taylor, Euronews: As travessuras de Karl Gustav na Suécia, o genro do rei de Espanha apanhado num caso de desvio de fundos, são escândalos não muito favoráveis à monarquia em geral, para a imagem de marca.
Stéphane Bern: “Evidentemente podemos questionar-nos sobre os escândalos que afetam ou não as diferentes monarquias. Desde que o soberano faça convenientemente o seu trabalho, julgo que não o criticaremos. É verdade que uma monarquia é antes de mais uma família que reina, por isso pode criticá-lo pelo comportamento do genro, mas repare, em Espanha cortam-se os ramos quando estão mortos. Por exemplo, o rei cortou relações com o genro com comportamentos impróprios, apesar do caso ainda não ter chegado a tribunal. Veremos o que acontece. Quanto à vida privada do rei da Suécia não afeta em nada a posição que ocupa enquanto soberano do país.”
Alex Taylor, Euronews: Mas não é muito bom para a imagem do rei como símbolo, como imagem de marca de um país.
Stéphane Bern: “Efetivamente, como símbolo e imagem de marca do país, podemos criticá-lo por várias coisas, mas algumas têm três décadas. Julgo que entretanto amadureceu, deixou o passado de mulherengo e de príncipe insubordinado acabando por cumprir uma verdadeira missão. A monarquia sueca é muito popular, basta ver a multidão que se juntou para o casamento da princesa Vitória. Eu próprio estive lá e posso assegurar que os suecos apoiam a coroa. Julgo que não há crise de regime, de identidade que ameace a família real. Pode até haver crises significativas em Espanha, com o movimento independentista catalão. Depois existe a Bélgica com o rei que é o cimento da nação e depois, talvez, a rainha de Inglaterra. Conseguirá garantir que a Escócia continua a ser parte do Reino Unido? São estas as questões que importam, parece-me, não as de saber se o rei teve relações extraconjugais há 30 anos.”
Marin, Bélgica: Gostaria de saber o que levou o Stéphane Bern a interessar-se tanto pela monarquia?
Alex Taylor, Euronews: Gostava de ter sido rei?
Stéphane Bern: “De todo. Não tenho qualquer fantasma nobiliárquico, nem real, nem principesco. Simplesmente a minha família é de origem luxemburguesa e a monarquia do Luxemburgo defendeu a independência e a identidade do Luxemburgo. Foi importante porque a minha família teve de abandonar o território durante a guerra quando os nazis invadiram a região em 1940. A Grã-duquesa Charlotte defendeu verdadeiramente a causa. Incarnou a resistência ao inimigo nazi e isto é algo que não podemos esquecer quando vivemos dramas. Eu fui criado com este espírito. No espírito que a nossa família grão-ducal defendeu a nossa identidade, a nossa soberania e independência cobiçada pelos vizinhos poderosos. Se continuamos a existir como nação, isso deve-se em grande parte à nossa família grão-ducal. Foi assim que caí neste caldeirão. Descobri certa vez que também sou francês. Tentei ver os méritos e mergulhei na história. Quando o fazemos aprendemos sobre as nossas origens e talvez a perceber em que direção caminhamos.”

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